“Nos e fidju la di gueto, nos e fidju di imigranti, fidju di Kabu Verdi”: estética, antirracismo e engajamentos no rap crioulo em Portugal

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202136010013

Palavras-chave:

rap crioulo, jovens negros, racismo, estética, Portugal

Resumo

Ao longo de décadas, o rap tem sido central na construção de um discurso antirracista em Portugal. Com músicas a denunciar a violência policial, a exclusão social, o legado colonial e o racismo, os rappers negros das periferias de Lisboa desempenham um papel de vanguarda na luta contra a opressão racial, particularmente aqueles que cantam em crioulo cabo-verdiano. Apoiados por dispositivos e redes digitais, estes jovens constroem circuitos de sociabilidade e de produção musical impulsionadores de uma estética insurgente capaz de desafiar o estatuto de subalternidade que lhes é imposto. O presente trabalho debruça-se sobre a importância do rap na visibilização do problema do racismo na sociedade portuguesa. Recorrendo a diferentes pesquisas de natureza qualitativa, analisamos os estilos de vida, as letras de música, o acesso às redes digitais e os engajamentos dos rappers no movimento antirracista.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Otávio Raposo, Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL)

Pesquisador integrado do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL) e professor auxiliar convidado do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). 

Pedro varela, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

Pedro Varela é investigador júnior do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e doutorando em Direitos Humanos; mestrado em Antropologia pelo ISCTE-IUL e licenciado em Arquitetura Paisagista pelo ISA-UL.

José Alberto Simões, Universidade Nova de Lisboa (NOVA-FCSH)

Professor Assistente no Departamento de Sociologia (DS). Pesquisador no Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA - NOVA FCSH), Lisboa, Portugal.

Ricardo Campos, Universidade Nova de Lisboa (NOVA-FCSH)

Mestre em Sociologia e doutor em Antropologia Visual. É investigador integrado (Investigador FCT) no CICS.NOVA (Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade NOVA de Lisboa) Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais

Referências

ABRANTES, Pedro; ROLDÃO, Cristina. Old and new faces of segregation of Afro-descendant population in the Portuguese education system: a case of institutional racism? Conferência educação comparada para além dos números: contextos locais, realidades nacionais e processos. Lisboa: Universidade Lusófona, 2016

ADERALDO, Guilhermo; RAPOSO, Otávio. Deslocando fronteiras. Notas sobre intervenções estéticas, economia cultural e mobilidade juvenil em áreas periféricas de São Paulo e Lisboa. Horizontes Antropológicos, v. 22, n.45, p. 279-305, 2016.

AGIER, Michel. Distúrbios Identitários em tempos de globalização. Mana, v. 7, n. 2, p. 7-33, Rio de Janeiro, 2001.

AMNISTIA INTERNACIONAL. Amnesty International Report 2017/2018: The State of The World’s Human Rights. 2018. Disponível em: <https://www.amnesty.org/en/countries/europe-and-central-asia/portugal/report-portugal/. Acessado em: 22 Jun. 2020.

» https://www.amnesty.org/en/countries/europe-and-central-asia/portugal/report-portugal

ANDERSON, Benedict. Imagined communities: reflections on the origin and spread of nationalisms. London: Verso, 1983.

ARAÚJO, Marta. Challenging narratives on diversity and immigration in Portugal: the (de)politicization of colonialism and racism. In: KRETSEDEMAS, P. (Org.). Migrant marginality: a transnational perspective, p. 27-46. Oxfordshire, UK: Routledge, 2013.

ARAÚJO, Marta; MAESO, Silvia. Os contornos do eurocentrismo: raça, história e textos políticos. Coimbra: CES; Almedina, 2016.

BENNETT, Andy. Popular music and youth culture: music, identity and place. London: Macmillan, 2000.

CALDEIRA, Teresa. Inscrição e circulação: novas visibilidades e configurações do espaço público em São Paulo. Novos Estudos Ceb rap , n. 94, p. 31-67, 2012.

CAMPOS, Ricardo. Juventude e culturas de rua híbridas. Sociologia & Antropologia, v. 10, n. 2, Maio-Ago. 2020.

CAMPOS, Ricardo; SIMÕES, José Alberto. Participação e inclusão digital nas margens: uma abordagem exploratória das práticas de culturais de jovens afro-descendentes. O caso do rap negro. Media & Jornalismo, n. 19, p. 117-133, 2011.

CAMPOS, Ricardo; VAZ, Cláudia. Rap e graffiti na Kova da Moura como mecanismos de reflexão identitária de jovens afrodescendentes. Sociedade e Cultura, v. 16, n. 1, p. 127-139, 2013.

CONTADOR, António. Cultura juvenil negra em Portugal. Oeiras, PT: Celta Editora, 2001.

COSTA, António Firmino da. Sociedade de bairro. Dinâmicas sociais da identidade cultural. Oeiras, PT: Celta Editora, 1999.

CROSSLEY, N. Fish, field, habitus and madness: the first wave mental health users movement in Great Britan. British Journal of Sociology, v. 50, n. 4, p 647-670, 1999.

DAYRELL, Juarez. A música entra em cena. O rap e o funk na socialização da juventude. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.

NU BAU. O RAP NEGRO DE LISBOA, documentário de Otávio Raposo, 2007. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=MvYIcg3o7-w>.

» https://www.youtube.com/watch?v=MvYIcg3o7-w

DUARTE, Mariana. Guerreira do rap. Jornal Público, 27 Fev. 2018. Disponível em: <https://www.publico.pt/2018/02/27/culturaipsilon/noticia/mynda-guevara rap -acima-de-tudo--e-feito-por-mulheres-1804454>. Acesso em: 02 Abr. 2019.

» https://www.publico.pt/2018/02/27/culturaipsilon/noticia/mynda-guevara rap -acima-de-tudo--e-feito-por-mulheres-1804454

COMISSÃO EUROPEIA CONTRA O RACISMO E A INTOLERÂNCIA (ECRI). Relatório da Ecri sobre Portugal (quinto ciclo de controlo). Strasbourg: Conselho da Europa, 2018. Disponível em: <https://rm.coe.int/fifth-report-on-portugal-portuguese-translation-/16808de7db>. Acesso em: 22.06.2020

» https://rm.coe.int/fifth-report-on-portugal-portuguese-translation-/16808de7db

FORMAN, Murray. “Represent”: race, space and place in rap music. Popular Music, v. 19, n. 1, p. 65-90, 2000.

FRADIQUE, Teresa. Fixar o movimento: representações da música rap em Portugal. Lisboa: Dom Quixote, 2003.

GOLDBERG, David Theo. The racial state. Malden; Oxford; Victoria: Blackwell Publishers, 2002.

HODKINSON, Paul. Translocal connections in goth scene. In: BENNETT A.; PETERSON R. (Orgs.). Music scenes. Local, translocal, and virtual, p. 131-148. Nashville, TN: Vanderbilt University Press, 2004.

HUQ, Rupa. Beyond subculture: pop, youth and identity in a postcolonial world. London: Routledge, 2006.

JORNAL GUETO. Editorial: Olhos, ouvidos e vozes. n. 0, 2007.

KEYES, Cheryl L. rap music and street consciousness. Chicago, IL: University of Illinois Press, 2004.

KITWANA, Bakari. The challenge of rap music from cultural movement to political power. In: FORMAN M.; NEAL, M. A. (Orgs.). That’s the joint! The hip-hop studies reader, p. 341-350. London; New York: Routledge, 2004 [2002].

LAHON, Didier. O escravo africano na vida económica e social portuguesa do antigo regime. Africana Studia, n. 7, p. 73-100, Porto, 2004.

LIPSITZ, George. We know what time it is: race, class and youth culture in the nineties. In: ROSS, A.; ROSE, T. (Orgs.). Microphone fiends: youth, music and culture, p. 17-28. London; New York: Routledge, 1994.

MACEDO, Márcio. Hip-hop SP: transformações entre uma cultura de rua, negra e periférica. In: KOWARICK, L.; FRÚGOLI, J. H. (Orgs.). Pluralidade urbana em São Paulo: vulnerabilidades, marginalidade, ativismos, p. 23-54. São Paulo: Editora 34, 2015.

MARCON, Frank; SEDANO, Livia Jiménez; RAPOSO, Otávio. Introdução ao dossiê: Juventudes e Músicas Digitais. Cadernos de Arte e Antropologia, v. 7, n. 1, p. 5-14, 2018.

MIGNOLO, Walter D. Introduction: coloniality of power and de-colonial thinking. Cultural Studies, v. 21, n. 2-3, p. 151-167, 2007.

MITCHELL, Tony. Introduction: Another root - hip hop outside the USA. In: MITCHELL T. (Org.). Global noise: rap and hip-hop outside the USA. Middletown, CT: Connecticut, Wesleyan University Press, 2001, p. 1-38.

NEAL, Mark Anthony. The message: rap , politics, and resistance. In: FORMAN, M.; NEAL, M. A. (Orgs.) That’s the joint! The hip-hop studies reader, p. 307-309. London; New York: Routledge, 2004.

OLIVEIRA, Catarina Reis; GOMES, Natália. Indicadores de integração de imigrantes: Relatório estatístico anual 2017. Lisboa: Alto Comissariado para as Migrações, 2017.

PARDUE, Derek. Cape Verde, let’s go: creole rappers and citizenship in Portugal, Chicago, IL: University of Illinois Press, 2015.

______. Brazilian hip-hoppers speak from the margins. Houndmills, UK: Palgrave Macmillan. 2011.

PERKINS, William Eric. The rap attack: an introduction. In: ______. (Org.). Droppin’ science: critical essays on rap music and hip hop culture, p. 1-45. Filadélfia, PA: Temple University Press, 1996.

RAPOSO, Otávio. Arte e cultura: aprendizagens informais na Afro-Lisboa. Mediações. Revista On-line da Escola Superior de Educação, v. 7, n. 2, p. 37-52, 2019.

______. “Tu és rapper, representa arrentela, és red eyes gang”. Sociabilidades e estilos de vida de jovens do subúrbio de Lisboa. Sociologia, Problemas e Práticas, n. 64, p.127-147, 2010.

______. Representa red eyes gang: das redes de amizade ao hip hop. Dissertação (Mestrado em Antropologia Urbana) - Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Lisboa, 2007.

______. Sociabilidades juvenis em contexto urbano. Um olhar sobre alguns jovens do Bairro Alto da Cova da Moura. Revista Fórum Sociológico, n. 13/14, p. 151-170, 2005.

RAPOSO, Otávio; SEDANO, Livia Jiménez; LIMA, Redy Wilson. Introdução ao dossiê juventudes, decolonialidades e estéticas insurgentes. Revista Tomo, n. 37, Jul./Dez, 2020.

RAPOSO, Otávio, ALVES, Ana Rita; VARELA, Pedro; ROLDÃO, Cristina. Negro drama. Racismo, segregação e violência policial nas periferias de Lisboa. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 119, p. 5-28, 2019.

ROSE, Tricia. Black noise: rap music and black culture in contemporary America. London: Wesleyan University Press, 1994.

SAUCIER, P. Khalil. Native tongues. An African hip-hop reader. Trenton, NJ: Africa World Press, 2011.

SERVIÇO DE ESTRANGEIROS E FRONTEITAS (SEF). Relatório de imigração, fronteiras e asilos 2019. 2019. Disponível em: <https://www.sef.pt/pt/pages/conteudo-detalhe.aspx?nID=92>. Acesso em: 25 Jun. 2011.

» https://www.sef.pt/pt/pages/conteudo-detalhe.aspx?nID=92

SIMÕES, José Alberto. Entre percursos e discursos identitário: etnicidade, classe e gênero na cultura hip-hop. Revista de Estudos Feministas, v. 21, n. 1, p. 107-128, 2013.

______. Entre a rua e a internet. Um estudo sobre o hip-hop português. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2010.

SIMÕES, José Alberto; CAMPOS, Ricardo. Digital media, subcultural activity and youth participation: the cases of protest rap and graffiti in Portugal. Journal of Youth Studies, v. 20, n.1, p. 16-31, 2017.

SIMÕES, José Alberto; NUNES, Pedro & CAMPOS, Ricardo. Entre subculturas e neotribos: propostas de análise dos circuitos culturais juvenis. O caso da música rap e do hip­-hop em Portugal. Fórum Sociológico, n. 13-14 (2a série), p. 171-189, 2001.

SIMÕES, Soraia. Fixar o (in)visível: papéis e reportórios de luta dos dois primeiros grupos de rap femininos a gravar em Portugal (1989 -1998). Cadernos de Arte e Antropologia, v. 7, n. 1, p. 97-114, 2018.

______. RAPublicar: A micro-história que fez história numa Lisboa adiada. Lisboa: Caleidoscópio, 2017.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UMG, 2010.

VALE DE ALMEIDA, Miguel. Um mar da cor da terra: raça, cultura e política da identidade. Oeiras, PT: Celta Editora, 2000.

VARELA, Pedro; RAPOSO, Otávio; FERRO, Lígia. Redes de sociabilidade, identidades e trocas geracionais: da “Cova da Música” ao circuito musical africano da Amadora. Revista Sociologia, Problemas e Práticas, n. 86, p. 109-132, 2018.

WELLER, Wivian. A construção de identidades através do hip hop: uma análise comparativa entre rappers negros em São Paulo e rappers turcos-alemães em Berlim. Caderno CRH, n. 32, p. 213-232, Jan./Jun. 2000.

WHYTE, William Foote. Sociedade de esquina: a estrutura social de uma área urbana pobre e degradada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005 [1943].

WOODS, Orlando. The digital subversion of urban space: power, performance and grime. Social & Cultural Geography, v. 21, n. 3, p. 293-313, 2020.

YÚDICE, George. Nuevas tecnologías, música y experiencia. Barcelona: Gedisa Editorial, 2007.

Downloads

Publicado

26-05-2021

Como Citar

Raposo, O., Varela, P., Simões, J. A., & Campos, R. . (2021). “Nos e fidju la di gueto, nos e fidju di imigranti, fidju di Kabu Verdi”: estética, antirracismo e engajamentos no rap crioulo em Portugal. Sociedade E Estado, 36(01), 269–291. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202136010013

Edição

Seção

Artigos

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.