O mal-estar na representação: autoidentidade, esquizofrenia e a teatralidade do mundo social*
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202035010008Palavras-chave:
autoidentidade, papel social, fenomenologia, esquizofrenia, sociologia dramatúrgicaResumo
O artigo é parte de um programa de pesquisa em “heurística da insanidade”, o qual explora o poder analítico de ferramentas sociológicas na compreensão da esquizofrenia, assim como a relevância de investigações da experiência esquizofrênica para a teoria social, sobretudo no que toca à s concepções de agência, experiência e subjetividade que nela vigoram. No seio deste programa mais geral, o trabalho revisita perspectivas dramatúrgicas sobre a relação entre self e sociedade, entrecruzando tais perspectivas com a literatura psiquiátrica acerca de perturbações “esquizoides” no relacionamento do sujeito com o mundo e consigo próprio. Se as visões dramatúrgicas da subjetividade criticam, no plano teórico, o pressuposto de senso comum de que haveria um “eu” estável e nitidamente distinto das máscaras teatrais que ele “veste” na vida social cotidiana, algumas perturbações da autoidentidade ou senso de si na esquizofrenia são concretizações existenciais, efetivamente vividas, dessa dissolução do “eu” em um feixe de papéis ou identidades sociais.
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