Níveis de significação social e resultados experimentais em psicolinguística

Autores

  • Terezinha Nunes Carraher Universidade Federal de Penambuco
  • Alina Galvão Spinillo Universidade Federal de Penambuco

Resumo

Experimentação com crianças geralmente envolve diferentes níveis de significado. A um nível superficial, um adulto fala com a criança. Em um outro nível, o experimentador é alguém que se deve obedecer e não alguém com quem conversar. Na psicolinguística estes dois níveis de significado podem ser uma fonte de confusão de resultados experimentais. Esta ambiguidade é vista como uma fonte de dificuldade na interpretação do estudo de Chomsky sobre perguntar e dizer. Em uma conversação comum, se A pede a B que pergunte algo a C, B fará a pergunta apenas se não souber a resposta; se sabe a resposta, B simplesmente a diz. Na situação experimental, B tem que formular a pergunta, independentemente do que sabe. Este experimento comparou a habilidade de crianças de responder apropriadamente a comandos para fazer perguntas sob duas condições. A Condição I foi uma replicação do experimento de Chomsky; na Condição II as crianças recebiam instruções para obedecer literalmente aos comandos do experimentador, por meio da inserção do experimento em um jogo conhecido, no qual o experimentador é a Rainha. Os sujeitos foram 30 crianças igualmente distribuídas em três níveis de idade (4, 5 e 6 anos) selecionadas aleatoriamente em uma escola em Recife. Tal como no experimento de Chomsky, as crianças foram testadas na presença de um amigo e três níveis de complexidade sintética foram explorados. Uma ANOVA 3 (nível de idade) por 2 (condição), com o número de respostas corretas aos comandos de "perguntar" como variável dependente, mostrou efeitos significativos da idade e da condição. As crianças de 6 anos mostraram sistematicamente respostas corretas em todos os três níveis de complexidade sintática na Condição II. A dificuldade de crianças novas em distinguir entre "perguntar" e"dizer", observada anteriormente, e o efeito relacionado da complexidade sintática, podem ter sido uma consequência da ambiguidade da situação experimental usada. Este estudo reforça a necessidade (já enfatizada por psicólogos sociais, socioling istas e etnometodologistas) de uma maior atenção aos significados sociais em situação de experimentação.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Boggs, S. T. (1972). The meaning of questions and narratives to Hawain children. Em
C. Cazden, V. John & D. Hymes (Orgs.). Functions of language in the classroom.
Nova Iorque: Teachers College Press.
Cole, M., Gay, J., Glick, J. & Sharp, D. W. (1971). The cultural context of learning and
thinking. Nova Iorque: Basic Books.
Chomsky, C. (1969). The acquisition of syntax in children from 5 to 10. Cambridge:
MIT Press.
Donaldson, M. (1978). Children's minds. Londres: Croom Helm.
Goody. E. (1978). Towards a theory of questions. Em E. Goody (Org.). Questions and
politeness. Strategies in social interactbn. Londres: Cambridge University Press.
Heath, S. B. (1978). Teacher talk: language in the classroom. Language in education:
theory and practice 9. Washington, DC: Center for Applied Linguistics.
Milgram, S. (1974). Obedience to authority. Nova Iorque: Harper and Row.
Olson, D. (1977). From utterance to text: the bias of language in speech and writing.
Harvard Educational Review, 47(3), 257-281.
Orne, M. T. (1962). On the social psychology of the psychological experiment: with
particular reference to demand characteristics and their implications. American
Psychologist, 17, 776-783.
Orne, M. T. (1969). Demand characteristics and the concept of quasi-controls. Em R.
Rosenthal & R. Rosnow (Orgs.). Artifact in behavioral research. Nova Iorque:
Academic Press.
Scollon, R. & Scollon, S. B. (1981). Narrative, literacy and face in interethnic communication.
Norwood, NJ: Ablex Publishing Corporation.
Shegloff, E. A. & Sacks, H. (1973). Opening up closings. Semiótica, 8, 289-327.
Spinillo, A. (1984). Perguntando e respondendo em situações naturais e experimentais.
Recife, Brasil: UFPE, (trabalho não publicado).
Tanz, C. (1983). Asking children to ask: an experimental investigation of the pragmatics
of relayed questions. Journal of Child Language, 8, 139-149.
Warden, D. (1981). Children's understanding of ask and tell. Journal of Child Language,
8, 139-149.

Downloads

Publicado

2012-07-26

Como Citar

Carraher, T. N., & Spinillo, A. G. (2012). Níveis de significação social e resultados experimentais em psicolinguística. Psicologia: Teoria E Pesquisa, 5(1), 21–29. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/revistaptp/article/view/17057