Jogos de Poder na Luta contra o Extrativismo no Sul do Orinoco, Venezuela

Resumo

A transformação está na moda neste clima de crise ambiental global. Temos cada vez mais consciência de que se quisermos garantir a vida dos seres humanos e de outras espécies do Planeta, o nosso modo de vida e o modelo de desenvolvimento devem mudar, e rapidamente. Neste trabalho nos concentramos na dimensão cidadã para examinar o papel que os conflitos socioambientais e as lutas de resistência contra o extrativismo desempenham na necessária transformação socioecológica. Focamos em um estudo de caso na Venezuela: a construção de uma linha de alta tensão entre 1997 e 2000 para exportar eletricidade para o Brasil, que teve seu epicentro no Parque Nacional Canaima (PNC) e território ancestral do povo Pemon e que marcou o início do combate ao avanço da mineração nesta área. Utilizamos um quadro analítico centrado no poder para compreender os sucessos e fracassos das diversas estratégias de resistência levadas a cabo pelo povo indígena Pemon, através das mais díspares formas de negociação intercultural com o Estado venezuelano, para enfrentar uma era de neocolonialismo na sua territórios. Demonstramos que apesar das importantes mudanças nos marcos políticos, legais e regulatórios resultantes das lutas de resistência Pemon que dão maior reconhecimento aos direitos dos povos indígenas, o Estado venezuelano acabou usando o poder transformador dos conflitos para avançar uma agenda extrativista agressiva que ameaça a sobrevivência física e cultural dos Pemon e de outros povos indígenas do sul do Orinoco.