Pessoas escravizadas e reforma prisional do século XIX

a experiência da Casa de Detenção do Recife

Autores

Palavras-chave:

Escravidão, Sistema prisional, Século XIX, Pena de prisão

Resumo

O presente trabalho buscou compreender as dinâmicas de controle relacionadas à presença de escravizados na Casa de Detenção do Recife, no início de seu funcionamento, em meados do século XIX, objetivando identificar as razões que fundamentavam o envio de escravizados ao referido estabelecimento prisional e a existência de discriminações dentro do cárcere. Para isso, realizou-se um estudo qualitativo, de caráter exploratório, com base em pesquisas bibliográficas e documentais. Foram analisados a legislação criminal e processual criminal do período; o contexto histórico e social que possibilitaram a construção desse estabelecimento prisional; o Regulamento da Casa de Detenção; e o Livro de Entrada e Saída de Detentos (1857-1858). Entre os resultados, identificou-se a existência de regras distintivas entre os presos, sendo os escravizados discriminados apenas por sua condição. Verificou-se que homens, pretos, com idade entre 14 e 35 anos e que atuavam como ganhadores conformam o perfil principal de cativos recolhidos à Casa de Detenção no período estudado. Majoritariamente, no que diz respeito aos motivos declarados, os escravizados eram enviados à prisão a requerimento de seus senhores, por estarem ou por suspeita de estarem fugidos ou para serem corrigidos/castigados. Em geral, os cativos eram detidos por atuação dos delegados das principais áreas da capital pernambucana - Santo Antônio, Recife e Boa Vista - e permaneciam na prisão por até 10 dias. Notou-se que, no período investigado, o poder punitivo público atuava de forma a colaborar com a execução e o fortalecimento do poder punitivo privado sobre a população escravizada.

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Biografia do Autor

Amanda Claudino de Souza, Universidade Federal de Pernambuco

Pós-Graduação em Direitos Humanos pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Bacharelado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Bacharelado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Marilia Montenegro Pessoa de Mello, Universidade Federal de Pernambuco

Pós-Doutorado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Doutorado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestrado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professora da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Pesquisadora do Grupo Asa Branca Criminologia.

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Publicado

24.09.2024

Como Citar

CLAUDINO DE SOUZA, Amanda; MONTENEGRO PESSOA DE MELLO, Marilia. Pessoas escravizadas e reforma prisional do século XIX: a experiência da Casa de Detenção do Recife. Revista Latino-Americana de Criminologia, [S. l.], v. 4, n. 1, p. 41–70, 2024. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/relac/article/view/54782. Acesso em: 21 dez. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: Da crítica ao cárcere à sua superação