STF E A TESE DO “MARCO TEMPORAL”

EM DEFESA DA JURIDICIDADE DO POVO INDÍGENA A PARTIR DE ÉTIENNE LE ROY

Autores

Palavras-chave:

Pluralismo jurídico, Marco temporal, Regulação jurídica, Juridicização

Resumo

O presente artigo tem por objetivo analisar os principais elementos dos julgamentos do Supremo Tribunal Federal a respeito da tese do “marco temporal” nas demarcações indígenas e, sob o prisma da teoria do multijuridismo de Étienne Le Roy, afastar a monolatria jurídica perpetrada pelo Tribunal, que limitou os conceitos de propriedade a critérios temporais absolutamente incompatíveis à lógica de regulação jurídica indigenista, vítima do olhar etnocêntrico estatal desde o período colonial. Em detalhes, portanto, a pesquisa se iniciará com o desenvolvimento da teoria de Étienne Le Roy no limiar da história da antropologia, sobretudo em defesa do protagonismo do pluralismo jurídico dos povos autóctones, de forma a abranger a população indígena sob o viés prático de análise. Feita sua fundamentação, serão apresentadas as principais decisões e fundamentações do STF sobre o marco temporal, demonstrando como tais pontos estão alinhados à tese da aculturação jurídica, que insiste não apenas em rebaixar o protagonismo da população indígena, mas também em condicionar sua existência a elementos social, cultural e politicamente estranhos à sua constituição originária.

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Biografia do Autor

Gleiner Pedroso Ferreira Ambrosio, Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP)

Graduado em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foi pesquisador acadêmico em Filosofia (Neo)Kantiana do Direito (2021-2022) na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie com vínculo ao CNPQ. Atualmente é pesquisador nas áreas de Direito Econômico-Concorrencial (pelo Grupo de Estudos em Direito da Concorrência), Segurança Pública e Cidadania e Direito Antidiscriminatório pela mesma instituição. Advogado atuante na área de Direito Concorrencial.
E-mail para contato: ambrosiouser@outlook.com.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3676232506619839.

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Publicado

20-10-2025

Como Citar

AMBROSIO, Gleiner Pedroso Ferreira. STF E A TESE DO “MARCO TEMPORAL”: EM DEFESA DA JURIDICIDADE DO POVO INDÍGENA A PARTIR DE ÉTIENNE LE ROY. Revista dos Estudantes de Direito da Universidade de Brasília, [S. l.], v. 22, n. 1, p. 121–141, 2025. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/redunb/article/view/58038. Acesso em: 26 dez. 2025.