A CONSTRUÇÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL À CIDADANIA NO BRASIL E A INFLUÊNCIA DA REVOLUÇÃO DE SÃO DOMINGOS:

UMA ABORDAGEM SOB O PRISMA DA DECOLONIALIDADE

Autores

Palavras-chave:

Revolução Haitiana. Cidadania. Direito Constitucional.

Resumo

A historiografia do Direito Constitucional é, ainda hoje, articulada a partir de uma narrativa eurocentrada, existindo poucos estudos e articulações teóricas que analisem de que maneira a conjuntura de outros episódios históricos, que ocorreram fora do continente europeu, influenciaram na construção do constitucionalismo brasileiro. Segundo Winnie Bueno , o silêncio sobre a Revolução Haitiana na historiografia constitucional não se dá por mero acaso; essa invisibilidade é decorrente de uma das faces do racismo estrutural, compreendido em três dimensões: econômica, política e ideológica, mesmo reconhecendo a diversidade étnica de sua constituição, a sociedade da época legitimava a escravidão. Viu-se a necessidade de compreender: os aspectos históricos e a forma como se deu a Revolução Haitiana; quais as repercussões e contribuições da Revolução Haitiana no Direito Constitucional brasileiro e; o que é a Cidadania e de que forma ela foi construída na Assembleia Constituinte de 1823. Para atender a este propósito, a pesquisa teve caráter exploratório-descritivo e qualitativo. Assim, há o compromisso de amplificar os conhecimentos produzidos a partir de outras lógicas, dimensões sociais e epistemologias, que foram vilipendiadas e sufocadas pelo sistema colonial, capitalista e escravagista . Dessa forma, vê-se necessário (re)semantizar o direito constitucional nacional e a ideia de cidadania a partir dos processos de luta dos movimentos e diversos aspectos da Revolução de São Domingos, visando uma epistemologia afrodiaspórica e trazendo a afroperspectiva como estrutura para repensar a narrativa constitucional brasileira.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Caio Pereira Negrão, Universidade Federal da Bahia

Bachelor of Laws at the Federal University of Bahia (UFBA). Legal Intern at MoselloLima Advocacia. Monitor of History of Law and Research Methodology in Law. Director of Human Rights at the Union of Students of Bahia (UEB). Member of the Research Group "Historical State, Law and Human Rights: interactions between society, traditional communities and the environment".

Raissa de Jesus Nascimento, Universidade do Estado da Bahia

Graduated in Law at the University of the State of Bahia. Legal Intern at Freitas, Leal e Campos Advocacy and Consulting. Monograph I Teaching Monitor at the State University of Bahia. Member of the research groups "Criminal Process and Democracy" and Guilt and Responsibility in Economic Criminal Law. Vice-President of the Central Directory of UNEB Students. Chairman of the Fiscal Council of the current management of the Academic Directory Cosme de Farias.

Referências

AZEVEDO, Celia Maria Marinho de. Onda Negra, Medo Branco: o negro no imaginário das elites - séc. XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

BEAUCHAMP, Alphonse. Tome troisième. In: MICHAUD, Louis-Gabriel; MICHAUD, Joseph-François. Biographie Universelle: Ancienne et moderne. Paris: Librairie de F. A. Brockhaus,1842. Disponível em: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k51674f. Acesso em: 28 jun. 2021.

BELLO, Enzo; VAL, Eduardo Manuel. O pensamento pós e descolonial no novo constitucionalismo latinoamericano. In: BRAGATO, Fernanda Frizzo; CASTILHO, Natália Martinuzzi. A importância do pós-colonialismo e dos estudos descoloniais na análise do novo constitucionalismo latino-americano. Caxias do Sul, RS: Educs, 2014. p. 11-25. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/332/o/pensamento_pos.pdf#page=12. Acesso em: 17 jul. 2021.

BOUFFARTIGUE, 2008 apud SANTOS, Maria do Carmo Rebouças dos. Constitucionalismo e justiça epistêmica: o lugar do movimento constitucionalista haitiano de 1801 e 1805. Rio de Janeiro: Telha, 2021. ISBN 978-65-86823-69-1.

BUCK-MORSS, Susan. Hegel e Haiti. Trad. Sebastião Nascimento. In. “Novos Estudos”, 90, 2011.

BUENO, Winnie de Campos. A revolução silenciada: o atlântico negro e a teoria constitucional. Teoria constitucional. Porto Alegre, 2018. Disponível em: http://conpedi.danilolr.info/ publicacoes/34q12098/9a74g9mn/1x2H369h0o0mrn6p.pdf. Acesso em: 20 jun. 2021.

CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón. El giro decolonial: reflexiones para una diversidade epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombres Editores, Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, 2007.

CORONIL, Fernando. Beyond Occidentalism: Toward Nonimperial Geohistorical Categories. In Cultural Anthropology, Vol. 11, N° 1, fev. 1996.

DUARTE, Evandro Piza; QUEIROZ, Marcos Vinícius Lustosa. Para inglês ver: a cidadania na Constituinte Brasileira de 1823 e as tensões sociais do Império Português no Atlântico Negro. In: DUARTE, Evandro Piza; SÁ, Gabriela Barreto de; QUEIROZ, Marcos Vinícius Lustosa. Cultura Jurídica e Atlântico Negro: história e memória constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019. v. I, cap. 4, p. 117-139. ISBN 978-85-519-1635-3.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas - tradução de Renato da Silveira. Salvador: EdUfba, 2008.

FARMER, Paul. The Uses of Haiti. Monroe: Common Courage Press, 2006. ISBN 978-15-6751-344-8.

FISCHER, Sibylle. Constituciones haitianas: ideología y cultura posrevolucionarias. In: “Casa de las Américas”. Octubre-diciembre, 2003, p. 16-35.

GONZALEZ, L. A categoria político-cultural de amefricanidade. In: Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n 92/93, p 69-82, jan./jun. 1988.

GORENDER, Jacob. Orelha do livro. In: JAMES, Cyril Lionel Robert. Os Jacobinos Negros: Toussaint L’Ouverture e a revolução de São Domingos. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2010. ISBN 978-85-8593-448-4.

GROSFOGUEL, Ramón. Colonial Difference, Geopolitics of Knowledge and Global Coloniality in the Modern/Colonial Capitalist World-System. Review, 25 (3), P. 203-224, 2002.

GROSFOGUEL, Ramón. Para descolonizar os estudos de economia política e os estu- dos pós-coloniais: Transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global.

In: MENESES, Maria Paula; SANTOS, Boaventura de Sousa. Epistemologias do Sul. Coimbra, Biblioteca Nacional de Portugal, 2009. ISBN 978-972-40-3738-7.

GROSFOGUEL, Ramón. Para uma visão decolonial da crise civilizatória e dos paradigmas da esquerda ocidentalizada. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón. Decolonialidade e Pensamento Afrodiaspórico. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. p. 55-77. ISBN 978-85-513-0605-5.

HAITI. [Constituição (1805)]. Constitution Imperiale d’Haiti. El pensamiento constitucional hispanoamericano hasta 1830. v. 42, t. III. ed. Caracas: Academia Nacional de la Historia, 1961. p. 159-170. Disponível em: https://decolonialucr.files.wordpress.com/2014/09/consti-

tucion-imperial-de-haiti-1805-bilbioteca-ayacucho.pdf. Acesso em: 10 jul. 2021.

JAMES, Cyril Lionel Robert. Os Jacobinos Negros: Toussaint L’Ouverture e a revolução de São Domingos. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2010. p. 15-17. ISBN 978-85-8593-448-4.

MALDONADO-TORRES, Nelson. Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões básicas. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón. Decolonialidade e Pensamento Afrodiaspórico. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. p. 30-60.

MALDONADO-TORRES, Nelson. La descolonización y el giro des-colonial. Tábula rasa, Bogotá, n. 9. p. 61-72. 2008.

MATIJASCIC, Vanessa Braga. Haiti: Uma história de Instabilidade Política. Cenário Internacional, São Paulo, 14 jul. 2009.

MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema. São Paulo: HUCITEC, 1987.

MUNANGA, Kabengele. Prefácio. In: SANTOS, Maria do Carmo Rebouças dos. Constitucionalismo e justiça epistêmica: o lugar do movimento constitucionalista haitiano de 1801 e 1805. Rio de Janeiro: Telha, 2021. p. 13-15. ISBN 978-65-86823-69-1.

NORONHA, Aline Garcia Chaves. Mesmos ideais, rumos diferentes: um paralelo entre a Revolução francesa e a Revolução do Haiti. Revista Ameríndia, v. 8, ed. 1, 1 Maio 2010. ISSN 1980-4806. Disponível em: http://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/14988/1/2010_

art_agcnoronha.pdf. Acesso em: 28 jun. 2021.

PIRES, Thula. Por um constitucionalismo ladino-amefricano. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón. Decolonialidade e Pensamento Afrodiaspórico. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. p. 285-304. ISBN 978-85-513-0605-5.

PRADO, Maria Ligia Coelho. A formação das nações latino-americanas. 3. ed. São Paulo: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1987.

QUEIROZ, Marcos Vinícius Lustosa. Constitucionalismo brasileiro e o atlântico negro: a experiência constitucional de 1823 diante da Revolução Haitiana. Orientador: Evandro Charles Piza Duarte. 2017. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito, Universidade de Brasília, Brasília, 2017. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/23559. Acesso em: 10 jul. 2021.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgar (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais perspectivas latino-americanas. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: CLACSO, 2015.

QUIJANO, Aníbal. Coloniality of Power, Ethnocentrism, and Latin America. Nepantla: Views from the South, 1 (3), p. 533-580, 2000.

SANTOS, Maria do Carmo Rebouças dos. Constitucionalismo e justiça epistêmica: o lugar do movimento constitucionalista haitiano de 1801 e 1805. Rio de Janeiro: Telha, 2021. ISBN978-65-86823-69-1.

SAUARY, 2015 apud SANTOS, Maria do Carmo Rebouças dos. Constitucionalismo e justiça epistêmica: o lugar do movimento constitucionalista haitiano de 1801 e 1805. Rio de Janeiro: Telha, 2021. ISBN 978-65-86823-69-1.

SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Haiti: a soberania dos ditadores. Porto Alegre: Só Livros, 1994.

SILVA, Mayana Hellen Nunes da. Da crítica à Améfrica Ladina crítica: para uma genealogia do conhecimento a partir de Lélia González. Cad. Gên. Tecnol., Curitiba, v.12, n. 40, p. 143-155, jul./dez., 2019. ISSN: 2674-5704.

SOARES, Ana Loryn; SILVA, Elton Batista da. A revolução do Haiti: um estudo de caso (1791-1804). Revista Ameríndia: História, cultura e outros combates, Fortaleza, v. 1, ed. 1, p. 1-8, 2006. Disponível em: http://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/13911/1/2006_art_alsoa-res.pdf. Acesso em: 29 jun. 2021.

TOMICH, Dale. Pensando o “Impensável”: Victor Schoelcher e o Haiti. Mana: Estudos de Antropologia Social, Rio de Janeiro, v. 15, ed. 1, p. 183-212, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/mana/a/z8cTk9kqNBsD5sWZMXpyqBv/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 28

jun. 2021.

WILLIAMS, 1970 apud FARMER, Paul. The Uses of Haiti. Monroe: Common Courage Press, 2006. ISBN 978-15-6751-344-8.

Downloads

Publicado

02-02-2023

Como Citar

PEREIRA NEGRÃO, Caio; DE JESUS NASCIMENTO, Raissa. A CONSTRUÇÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL À CIDADANIA NO BRASIL E A INFLUÊNCIA DA REVOLUÇÃO DE SÃO DOMINGOS:: UMA ABORDAGEM SOB O PRISMA DA DECOLONIALIDADE. Revista dos Estudantes de Direito da Universidade de Brasília, [S. l.], v. 18, n. 2, p. 90–116, 2023. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/redunb/article/view/45093. Acesso em: 25 dez. 2024.