Em busca de associações perdidas? Notas sobre híbridos, simetria e romantismo nas políticas de salvaguarda de bens culturais imateriais no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.26512/museologia.v6i11.17744Palavras-chave:
patrimônio imaterial, híbridos, fato social total, romantismo, tradiçãoResumo
Este artigo discute narrativas de caracterização de bens culturais imateriais produzidas e irradiadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Inspirados pela teoria do ator-rede, argumentamos que o objeto das políticas de registro e salvaguarda de bens imateriais são híbridos constituídos por associações heterogêneas de humanos e não-humanos. A justaposição entre diferentes domínios de ação e a agência de atores ontologicamente distintos na conformação dos bens culturais imateriais registrados como patrimônio nacional é positivada nas narrativas que os descrevem. Tais fenômenos, bem como a apreensão dos bens imateriais como produto de trajetórias históricas singulares e indicadores de tradições que sustentam identidades coletivas, são interpretados como índices de certo romantismo. Somente quando renomeado como tradição, produzido a partir de correlações complexas, o legado colonial figura como actuante na configuração dos bens reconhecidos e passa a ser assim objeto de salvaguarda. No limite, estas políticas elas se voltam à salvaguarda de formas de ação e interação sobre o mundo pré-modernas.
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