Fenômenos memorialísticos online em tempos de pandemia

entre o registro e a memorialização de um evento traumático

Autores

Palavras-chave:

Covid-19 , Cibermuseologia, Narrativas verbo-visuais, Virtualidade, Interfaces da memória social, Instagram

Resumo

Este trabalho busca discutir as formas virtuais de memorialização que se manifestaram no contexto da pandemia de covid-19, doença que assolou o mundo no decorrer do ano de 2020 e reconfigurou rotinas de trabalho, ensino, trânsito, consumo e lazer, de acordo com os índices sanitários. Por meio do levantamento, da identificação e da análise de conteúdo de fenômenos memorialísticos online institucionais ou espontâneos, efêmeros e temporários (HANEY; LEIMER; LOWERY, 1997) no Instagram, discute-se a construção de “narrativas verbo-visuais” em rede e na Rede como formas de autoexpressão e de automusealização (RENDEIRO; RIBEIRO, 2017), que representam uma espécie de diário de vivências da pandemia e convertem-se em “sociotransmissores” (CANDAU, 2012). Verifica-se que essa “vontade de memória” (NORA, 1993) no contexto da cibercultura (LEMOS, 2009) potencializa-se em tempos de isolamento social e indica uma memória coletiva em processo que, ao tomar o espaço público da Rede, evidencia formas individuais e coletivas de “luto e resistência” (SELIGMANN-SILVA, 2016). Considerando-se a pertinência do tema para os campos da memória social e da museologia, em especial para a cibermuseologia (LESHCHENKO, 2015), este artigo se propõe a refletir sobre esses fenômenos memorialísticos contemporâneos como interfaces da memória social (OLIVEIRA, 2017), no sentido de compreender o processo de elaboração e gestão da memória coletiva no que diz respeito às experiências difíceis relacionadas à covid-19.

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Biografia do Autor

Daniele Borges Bezerra, UFPel

Graduada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pelotas (2002). Possui Pós-Doutorado em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia- UFPel (2020). Doutora em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas- UFPEL. Mestra em Memória Social e Patrimônio Cultural (2014). Possui Especialização em Saúde Pública (2004). Especialização em Saúde Mental Coletiva (2003)- Residência Multiprofissional em Saúde (ESP/RS). Atua nos projetos de pesquisa: - Grupo de Pesquisas Interdisciplinares em Memória e Patrimônio (UFPeL); - Antropoéticas, vinculado ao Laboratório de Ensino, Pesquisa e Produção em Antropologia da Imagem e do Som (LEPPAIS- UFPel); - Núcleo de Estudos sobre Memória e Patrimônio em Lugares de Sofrimento (NEMPLUS- UFPel). Possui experiência nas áreas da e Saúde pública, Memória Social e Museologia e Antropologia Visual, dialogando com os seguintes temas: instituições de isolamento, velhice, direitos humanos, luta anti-manicomial, patrimônio afetivo e antropografias. 

Priscila Chagas Oliveira, UFPel

Doutoranda e Mestra em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Bacharela em Museologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).  Presta assessoria na gestão museológica do Museu das Memórias (In) Possíveis, museu de tipologia virtual vinculado ao Instituto APPOA. Possui experiência em gestão museológica, curadoria de exposições, criação e gestão de museus virtuais e acervos digitais.

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Publicado

2021-12-18

Como Citar

Borges Bezerra, D. ., & Chagas Oliveira, P. (2021). Fenômenos memorialísticos online em tempos de pandemia: entre o registro e a memorialização de um evento traumático. Museologia & Interdisciplinaridade, 10(Especial), 93–116. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/museologia/article/view/36030

Edição

Seção

Dossiê Museologia e Cultura Digital