Fenômenos memorialísticos online em tempos de pandemia
entre o registro e a memorialização de um evento traumático
DOI:
https://doi.org/10.26512/museologia.v10iEspecial.36030Palavras-chave:
Covid-19 , Cibermuseologia, Narrativas verbo-visuais, Virtualidade, Interfaces da memória social, InstagramResumo
Este trabalho busca discutir as formas virtuais de memorialização que se manifestaram no contexto da pandemia de covid-19, doença que assolou o mundo no decorrer do ano de 2020 e reconfigurou rotinas de trabalho, ensino, trânsito, consumo e lazer, de acordo com os índices sanitários. Por meio do levantamento, da identificação e da análise de conteúdo de fenômenos memorialísticos online institucionais ou espontâneos, efêmeros e temporários (HANEY; LEIMER; LOWERY, 1997) no Instagram, discute-se a construção de “narrativas verbo-visuais” em rede e na Rede como formas de autoexpressão e de automusealização (RENDEIRO; RIBEIRO, 2017), que representam uma espécie de diário de vivências da pandemia e convertem-se em “sociotransmissores” (CANDAU, 2012). Verifica-se que essa “vontade de memória” (NORA, 1993) no contexto da cibercultura (LEMOS, 2009) potencializa-se em tempos de isolamento social e indica uma memória coletiva em processo que, ao tomar o espaço público da Rede, evidencia formas individuais e coletivas de “luto e resistência” (SELIGMANN-SILVA, 2016). Considerando-se a pertinência do tema para os campos da memória social e da museologia, em especial para a cibermuseologia (LESHCHENKO, 2015), este artigo se propõe a refletir sobre esses fenômenos memorialísticos contemporâneos como interfaces da memória social (OLIVEIRA, 2017), no sentido de compreender o processo de elaboração e gestão da memória coletiva no que diz respeito à s experiências difíceis relacionadas à covid-19.
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