Práxis educativa e discursiva no movimento 21: transgressões de fronteiras e hibridismo emancipatório

Autores

  • Claudiana Nogueira Alencar Universidade Estadual do Ceará
  • Sandra Maria Gadelha Carvalho Universidade Estadual do Ceará
  • José Ernandi Mendes Universidade Estadual do Ceará

DOI:

https://doi.org/10.26512/les.v16i2.7484

Palavras-chave:

Movimento 21; agronegócio; pedagogia do oprimido; práticas discursivas, hibridismo, fronteiras, identidades descoloniais

Resumo

No estado do Ceará, na região da Chapada do Apodi, uma articulação político-acadêmica, o Movimento 21(M21), se organiza para o enfrentamento do modelo econômico do agronegócio e suas consequências relacionadas à expulsão dos camponeses e à degradação do meio ambiente com utilização massiva de agrotóxicos. O M21 é constituído por diversos movimentos sociais e grupos acadêmicos que se articulam em defesa das lutas das comunidades do campo, da Chapada do Apodi no município de Limoeiro do Norte, Ceará, por meio de práticas discursivas que pretendem romper com as fronteiras tradicionais entre os saberes acadêmicos e os saberes populares. O objetivo deste artigo é compreender, a partir de uma perspectiva teórica descolonial e de uma proposta de análise retórica em uma abordagem crítico-discursiva (Nogueira de Alencar, 2005), como se dá a construção de significados identificacionais (Fairclough, 2003) nas práticas discursivas das (os)integrantes do M21. Por meio de etnografia realizada em espaços públicos em que militantes dos movimentos sociais, camponesas(es), educadoras(es), pesquisadoras(es), lideranças religiosas, lideranças políticas e moradoras(es) das comunidades da Chapada do Apodi falam sobre as ações de violência no campo contra pessoas e contra o meio ambiente, o artigo discute a performatividade, constitutiva de significados identificacionais híbridos para essa(e)s militantes por meio de um “falar da fronteira” e de “um falar do hibridismo” que atravessam esses encontros. Levando em conta a multiplicidade de agentes em interação, a diversidade de práxis educativa de cada coletivo envolvido no M21, assim como a literatura descolonial proposta por Paulo Freire, a análise considera que as implicações políticas do hibridismo presente nas práticas político-discursivas do M21 apontam para a constituição de um discurso de hibridismo emancipatório. Os espaços públicos de locução indicam que as(os) integrantes do movimento “estilizam” identidades subalternas descoloniais, a partir de uma criação retórica que elege a pedagogia do opressor e projeto desenvolvimentista como seu antimodelo, constituindo sentidos transgressores em torno de uma novo projeto político, educacional e econômico para os povos do campo. 

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Biografia do Autor

Claudiana Nogueira Alencar, Universidade Estadual do Ceará

Professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da UECE, vinculada à linha de pesquisa "Estudos Críticos da Linguagem". Também atua como professora e pesquisadora do Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE) da UECE, orientando trabalhos na linha de pesquisa "Trabalho, Educação e Movimentos Sociais".

Sandra Maria Gadelha Carvalho, Universidade Estadual do Ceará

Graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), mestrado e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS). É professora adjunta da UECE na Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos ”“ FAFIDAM, em Limoeiro do Norte, onde leciona no curso de Pedagogia e no Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE). É coordenadora do Laboratório de Estudos da Educação do Campo ”“ LECAMPO.

José Ernandi Mendes, Universidade Estadual do Ceará

Professor adjunto da Universidade Estadual do Ceará (UECE) no Curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia Dom Aurealiano Matos (FAFIDAM) e no Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE/UECE). Possui mestrado em Educação e doutorado em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará e pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS). Integra o Laboratório de Estudos da Educação do Campo (LECAMPO) da UECE. 

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Publicado

2015-11-30

Como Citar

Alencar, C. N., Carvalho, S. M. G., & Mendes, J. E. (2015). Práxis educativa e discursiva no movimento 21: transgressões de fronteiras e hibridismo emancipatório. Cadernos De Linguagem E Sociedade, 16(2), 160–175. https://doi.org/10.26512/les.v16i2.7484

Edição

Seção

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