O legado colonial português e seus impactos linguísticos em Moçambique e Brasil
DOI:
https://doi.org/10.26512/les.v26i1.58165Palavras-chave:
políticas linguísticas, Moçambique, Brasil, epistemicídio, línguas indígenas e africanas, decolonialidadeResumo
Este artigo analisa o impacto histórico do legado colonial nas políticas linguísticas e nas práticas de linguagem em Moçambique e Brasil, com ênfase nas dinâmicas de apagamento e resistência epistêmica nos contextos pós-coloniais. A partir de uma perspectiva decolonial, criticamos essas estruturas de poder, que instituem regimes linguísticos, e que marginalizam as línguas africanas e indígenas em ambos os países. Em Moçambique, o uso do português como língua oficial, consolidou-se como símbolo de unidade nacional, quando na verdade funciona como ferramenta de exclusão das línguas bantu. No Brasil, a opressão histórica das línguas indígenas e africanas, que remonta à escravização e ao processo de aculturação, é um reflexo contínuo de epistemicídio, onde saberes e culturas foram sistematicamente subalternizados e desvalorizados. Concluímos que é urgente repensar as políticas linguísticas nos dois países, considerando a diversidade linguística como um elemento central na construção dessas sociedades, nas quais vozes historicamente marginalizadas seguem resistindo.
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