[CHAMADA DE ARTIGOS] Dossiê "Paulo Freire, 100 anos – vida e pensamento que alimentam as lutas sociais e a defesa da justiça"

08.09.2021

1) Apresentação

A InSURgência: revista de direitos e movimentos sociais, ligada ao Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS) e vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania da Universidade de Brasília (PPGDH/UnB), tem por objetivo difundir produção teórica inédita concernente à  temática “direitos e movimentos sociais”.

Com o objetivo  de impulsionar a pesquisa interdisciplinar desenvolvida com, por e para os movimentos sociais, mobilizando pesquisadores e pesquisadoras do Brasil e de outros países em diversas áreas do conhecimento, o Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais - IPDMS fundou a InSURgência: Revista de Direitos e Movimentos Sociais, um periódico internacional que promove produções teóricas e/ou empíricas inéditas comprometidas com o conhecimento crítico e libertador sobre o tema dos direitos e dos movimentos sociais, nos contextos brasileiro, latinoamericano e transnacional. 

Para a próxima edição da Revista InSURgência (v. 8, n. 1, jan/jun. 2022), teremos a participação como editor convidado e editora convidada: José Humberto de Góes Junior, professor adjunto na Universidade Federal de Goiás e membro do GT Assessoria Jurídica Popular no IPDMS; Ciani Sueli das Neves, Professora do CCJ/UFPE e Doutoranda em Direito pela UNICAP. Compõe também a coordenação do dossiê o membro da nossa equipe editorial Diogo Justino, Doutor em Direito pela UERJ e Professor do Mestrado em Ciência, Tecnologia e Educação da Faculdade Vale do Cricaré-ES. Assim, convidamos a comunidade acadêmica, pesquisadoras e pesquisadores, e militantes de movimentos sociais a enviarem suas contribuições em formato de artigo científico, para o dossiê "Paulo Freire, 100 anos – vida e pensamento que alimentam as lutas sociais e a defesa da justiça".

 

2) Dossiê "Paulo Freire, 100 anos – vida e pensamento que alimentam as lutas sociais e a defesa da justiça"

Paulo Freire é o pensador brasileiro mais conhecido em todo o mundo. Seus livros foram traduzidos para 35 países; suas aulas puderam alcançar estudantes de várias universidades, entre as quais a de Harvard, a de Genebra, a Católica de Santiago, a PUC-São Paulo e a Unicamp; até 2020, 35 universidades brasileiras e estrangeiras haviam lhe concedido o título de doutor honoris causa; seu livro “Pedagogia do Oprimido”, escrito em 1968 quando estava exilado no Chile devido à ditadura militar, é uma obra traduzida e conhecida por pessoas que falam mais de 40 idiomas e, até 2016, pesquisa da London School of Economics indicou que era a terceira obra mais citada em todos os trabalhos produzidos nas diversas áreas de Ciências Humanas e Sociais; Centros de Estudos de todas as partes do mundo desenvolvem pesquisas sobre sua obra; e, escolas de países situados em todos os continentes adotam o seu método de formação.

Com um pensamento produzido enquanto seus pés conhecem e fazem caminhos pelo mundo olhando-o, sentindo-o, no encontro com o outro que o produz, reproduz e dá a ele significado à medida que o transforma e projeta a sua utopia, Paulo Freire expressa uma práxis que inspira as lutas humanas contra todas as formas de opressão e exploração social.

A convivência humana fundada na justiça, no respeito e na dignidade, material e imaterial, que se faz autêntica quando produzida por pessoas cuja “palavra” se erige como ação povoada de intencionalidade política, constitui-se em motor dialético da Pedagogia que a luta de grupos e povos oprimidos e explorados empreendem ao ensejar o processo de libertação. Para Paulo Freire, ao descobrirem, denunciarem e atuarem contra a violência histórica e cotidiana a que são submetidos, os seres humanos subalternizados se educam em contato com o mundo concreto e se fazem sujeitos sociais e políticos. Assumem seu lugar de produtores coletivos da realidade, bem assim das ideias, da cultura, que lhe dá sustentação, e, à medida que desnaturalizam e vão quebrando as relações estabelecidas de opressão, exploração, indignidade e de poder, tornam-se educadores e educadoras, anunciam e provocam o surgimento de uma cultura e de uma ética novas, fundadas na emancipação. Em outras palavras, as pessoas oprimidas e exploradas, ao se libertarem, libertam também quem oprime, explora e se torna objeto da dominação violenta sem qual não se compreenderiam e não se fariam “sujeitos” de sua realidade. Para Paulo Freire, não há emancipação enquanto existirem também pessoas cuja existência material e imaterial esteja condicionada a oprimir, explorar e submeter alguém à violência. Por esta razão, enquanto se educam na ação ético-política, oprimidos, oprimidas, explorados e exploradas se libertam, libertam e praticam a liberdade de pensar, agir e expressar sua existência com e para a liberdade.

Este pensamento segue novidadeiro e anunciador de um outro mundo possível. É uma teoria do conhecimento fundada na experiência, apesar de Paulo Freire ser consagrado nacional e internacionalmente, pode-se dizer, por equívoco, apenas como educador. Portanto, alcança e provoca ações em todas as áreas em que foi dividido o conhecimento na Modernidade Europeia, até mesmo imaginando os pontos de contato que possam ter em meio à compreensão complexa do que significa conhecer expressão da vivência intersubjetiva encharcada da realidade concretamente lida. Mesmo após 53 anos, a Pedagogia do Oprimido, cujos conceitos vão tomando sentidos mais e mais complexos a partir da práxis de Paulo Freire, segue atual e mobiliza e fundamenta ações institucionais de extensão, pesquisa e ensino; provoca reflexões e ações pedagogicamente voltadas para a promoção, proteção e defesa de Direitos Humanos; no campo do Direito, inspira a Assessoria Jurídica Popular, a Advocacia Popular e a formação superior de camponeses e camponesas pelo Programa Nacional de Educação e Reforma Agrária (PRONERA); é base para lutas dos Movimentos Sociais antirracismo, pelos direitos das mulheres, de crianças e adolescentes, de pessoas idosas, de pessoas LGBTQIA+, dos povos indígenas, pelo direito à terra, à moradia, ao trabalho, ao meio ambiente, à alimentação, à saúde, à educação, à cultura, ao lazer, entre outras.

Comemorar os 100 anos do nascimento de Paulo Freire é celebrar seus feitos, suas ideias, suas reflexões, seu método, sua vida dedicada à luta social. Ao mesmo tempo, sendo inspiração para vários dos grupos temáticos e pelo que foi dito acima, está intimamente relacionado com a razão de ser do Instituto de Pesquisas, Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS) e da InSURgência: revista de direitos e movimentos sociais.

Assim é que o corpo editorial da Revista convida a todas e a todos que têm no pensamento de Paulo Freire sua base teórico-filosófica para se integrarem ao Dossiê “Paulo Freire, 100 anos – vida e pensamento que alimentam as lutas sociais e a defesa da justiça”. O objetivo de tal dossiê é publicar artigos descritivos e/ou analíticos, teóricos e/ou empíricos, de relatos de experiências pessoais ou de experiências de lutas coletivas por direitos que reflitam sobre o pensamento de Paulo Freire ancorado nos seguintes eixos, que devem ser vistos não como limitadores, mas como caminhos para o melhor situar o trabalho do autor ou da autora e de sua liberdade criativa no que se pretende:

1. Direitos Humanos – filosofia dos Direitos Humanos; Educação em/para Direitos Humanos; Educação em Direitos Humanos a partir de uma episteme que considere lutas sociais, gênero, classe, raça e sexualidade; ação institucional; ação de movimentos sociais e grupos organizados da sociedade; entre outros recortes que estejam condizentes com o pensamento de Paulo Freire;

2. Assessoria Jurídica Popular e Advocacia Popular – formação jurídica; defesa de direitos; lutas sociais; assessoria de movimentos sociais e grupos organizados; entre outros recortes que estejam condizentes com o pensamento de Paulo Freire;

3. Lutas e Movimentos Sociais;

4. Experiências das turmas vinculadas ao PRONERA;

5. Extensão Popular em Direito e outras ações emancipatórias da Universidade;

6. Pensamento freireano e filosofia da libertação na América Latina.

 

3) Condições para submissão

Para enviar sua contribuição, basta se cadastrar no sítio eletrônico da InSURgencia. A contribuição deve ser original e inédita, além de não estar sob avaliação em outra revista. Caso contrário, deve-se justificar em "Comentários ao editor". O arquivo da submissão deve estar em formato editável (Microsoft Word, OpenOffice ou RTF), sem qualquer tipo de identificação de autoria. 

Além de artigos científicos, o Dossiê também receberá submissões para as seguintes seções da revista: Temas geradores (seção de verbetes) e Caderno de retorno (seção de resenhas de textos). Todas as submissões deverão seguir os padrões de estilo e requisitos bibliográficos descritos em “Submissão e Diretrizes para Autores e Autoras”. 

Prazo prorrogado para submissão: 07 de novembro de 2021.

Previsão de publicação: janeiro de 2022.