Literatura indígena para crianças:
o desafio da interculturalidade
DOI:
https://doi.org/10.1590/2316-4018538Resumo
O objetivo deste artigo é realizar uma reflexão crítica sobre a produção literária infantil indígena. Para isso, recorre-se à problematização teórica centrada no conceito de transculturação, conforme Canclini (2007), articulado aos estudos sobre literatura infantil e juvenil brasileira, segundo estudos de Mortatti (2001), Ceccantini (2010) e Martha (2016). Como objeto de análise, são abordadas as obras Paiquerê: o paraíso dos Kaingangs, de Cléo Busatto, e Karú Tarú: o pequeno pajé, de Daniel Munduruku, ambas editadas em 2009. Essa análise permite a proposição da hipótese de que, na literatura indígena mais recente, direcionada ao público infantil, encontram-se opções estéticas condicionadas a um intento de divulgação cultural nem sempre afeito à construção de textos literários de qualidade estética relevante. Assim, torna-se necessário refletir, no caso das narrativas, sobre ideias e concepções colocadas a serviço de um engajamento ideológico cujos reflexos, no texto literário, mostram-se contraditórios na relação com o leitor, o qual tende a enxergar na cultura indígena um elemento exótico e estereotipado, o que pouco contribui para uma relação intercultural democrática e humanizadora.
Downloads
Referências
BERGAMASCHI, Maria Aparecida; GOMES, Luana Barth (2012). A temática indígena na escola: ensaios de educação intercultural. Cidade, Círculo sem Fronteiras, v. 12, n. 1, p. 53-64, jan./abr.
BERND, Zilá (2005). Estudos canadenses e transculturalismos. In: ALMEIDA, Sandra Regina Goularr (Org.). Perspectivas transnacionais. Belo Horizonte: Editora da UFMG.
BRASIL (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal.
BRASIL (2008). Lei nº 11.645, de 10 março de 2008. Altera a Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília.
BUSATTO, Cléo (2009). Paiquerê: o paraíso dos Kaingangs. Ilustração de Joãocaré. São Paulo: SM. (Cantos do mundo).
CANCLINI, Néstor García (2007). Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da interculturalidade. Tradução de Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ.
CANDIDO, Antonio (1972). A literatura e a formação do homem. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 4, n. 9, p. 803-809, set.
CANDIDO, Antonio (1987). Literatura e subdesenvolvimento. In: CANDIDO, Antonio. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática.
CECCANTINI, José Luís (2010). Vigor e diversidade: a literatura infantil e juvenil no Brasil em 2008. Notícias ”“ FNLIJ, Rio de Janeiro, v. 1, n. 9, p. 1-15, set.
EAGLETON, Terry (2005). A idéia de cultura. Tradução de Sandra Castello Branco. São Paulo: Unesp.
HUNT, Peter (2010). Crítica, teoria e literatura infantil. Tradução de Cid Knipel. São Paulo: Cosac Naify.
JOUVE, Vicent (2012). Por que estudar literatura? Tradução de Marcos Magno e Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola.
MARTHA, Alice Áurea Penteado (2016). Olívio Jekupé: identidade indígena na produção contemporânea de literatura infantojuvenil paranaense. In: MARTHA, Alice Áurea Penteado; VALENTE, Thiago Alves (Org.). Produção cultural paranaense para crianças. Assis: Cultura Acadêmica.
MARTINS, Aracy Alves; GOMES, Nilma Lino (2010). Literatura infantil/juvenil e diversidade: a produção literária atual. In: PAIVA, Aparecida; MACIEL, Francisca; COSSON, Rildo. Literatura: ensino fundamental. Brasília: MEC.
MORTATTI, Maria do Rosário Longo (2001). Leitura crítica da literatura infantil. Itinerários, Araraquara, n. 17, p. 179-187.
MUNDURUKU, Daniel (2009). Karú Tarú: o pequeno pajé. Ilustração de Marilda Castanha. Erechim: Edelbra.
MUNDURUKU, Daniel (2005). Meu vô Apolinário: um mergulho no rio da (minha) memória. São Paulo: Nobel.
ORTIZ, Fernando (1963). Contrapuento cubano del tabaco y el azúcar. La Habana: Universidad Central de las Villas.
RICOEUR, Paul (1996). Teoria da interpretação. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70.
SILVEIRA, Rosa Maria Hessel; BONIN, Iara Tatiana (2012). A temática indígena em livros selecionados pelo PNBE: análises e reflexões. Educação, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 329-339, set/dez.
ZAMBONI, Ernesta; BERGAMASCHI, Maria Aparecida (2009). Povos indígenas e ensino de história: memória, movimento e educação. In: CONGRESSO DE LEITURA NO BRASIL ”“ COLE, 17., 20-24 jul. 2009, Unicamp, Campinas. Anais... Campinas: Editora da Unicamp.
ZILBERMAN, Regina; MAGALHÃES, Ligia Cademartori (1987). Literatura infantil: autoritarismo e emancipação. 3. ed. São Paulo: Ática.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a) Os(as) autores(as) mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, sendo o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons de Atribuição-Não Comercial 4.0, o que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
b) Os(as) autores(as) têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho on-line (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
d) Os(as) autores(as) dos trabalhos aprovados autorizam a revista a, após a publicação, ceder seu conteúdo para reprodução em indexadores de conteúdo, bibliotecas virtuais e similares.
e) Os(as) autores(as) assumem que os textos submetidos à publicação são de sua criação original, responsabilizando-se inteiramente por seu conteúdo em caso de eventual impugnação por parte de terceiros.