O CORPO DO DEMÔNIO
DOI:
https://doi.org/10.18830/issn2238-362X.v4.n2.2014.02Resumo
O corpo humano, como espaço de significações e saberes, inscreve-se, definitivamente, na ordem do dia. Como sujeito e como objeto, nos diversos campos do conhecimento humano, na arte, na ciência, na filosofia e como símbolo histórico de notável presença, a questão do corpo e as suas representações são fundamentais no pensamento ocidental desse século que se inicia. Poderia-se dizer até que se trata de uma obsessão contemporânea, não fosse a longa história que existe por detrás das representações corporais. Espaço da expressão individual com significados coletivos, “lugar da biologia, das expressões psicológicas, dos receios e fantasmas culturais, o corpo é uma palavra polissêmica, uma realidade multifacetada e, sobretudo, um objeto histórico”.1 A representação do corpo humano têm sido um tema central na arte ocidental. Em consonância com esta tradição e desde os seus primórdios, o cristianismo utilizou um sistema de representações com base no corpo humano que enfatizou a relação problemática entre o corpo e a alma. A ambigüidade do corpo cristão dividido entre as forças do bem e do mal, premido entre o Paraíso e Inferno, deu origem a uma vasta produção de representações e metáforas relacionadas ao corpo humano na história das artes visuais e literárias. O foco de interesse deste capítulo é a representação dos corpos demoníacos. Mais especificamente, do corpo do Demônio, o grande opositor de Deus. Nele, Luther Link2 me forneceu significativos subsídios sobre a história da representação do Demônio na arte. Segundo ele, a figura do Demônio, em termos de sua significação intrínseca, se elaborou como um epifenômeno nas suas representações, enredando em variados papéis, muitas vezes dentro de um mesmo contexto histórico. A serpente, por exemplo, que no século XIV, tanto pode simbolizar a sutil sedutora Eva no Éden, quanto a terrível punidora dos ladrões no Canto XXIV do Inferno de Dante. Neste sentido, o Demônio foi sempre uma representação marcada pela ambigüidade, destituída de profundidade, deexistência servil, e ao qual coube, sentado no seu trono em brasas, cumprir a função principal de punidor de Deus no Inferno3 .
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Referências
[2] LINK, Luther. O Diabo: A máscara sem rosto, São Paulo, Ed. Schwarcz.
[3] Esta função é desempenhada exemplarmente nas representações dos infernos dos Juízos Finais, sobretudo no período entre o século XII e o XVI.