v. 5 n. 5 (2018): Das Deusas

Anico Herskovitz. Vaso com copos de leite. Litografia, 2013

Editorial

 

As questões recebem as deusas. As deusas, as questões.

 

Que outro útero seria melhor para gestar o projeto Das Deusas, se não o da revista polifônica e multilíngue com os pés fincados na Universidade de Brasília? Só os pés... Uma revista de questões, filosofia, tradução e arte, um ventre fecundo, que nesta edição aninha linguagens e discursos em torno de deusas.

Na seção ensaios, Loraine Oliveira apresenta o projeto Das Deusas: arte, gênero e filosofia. A seguir, Ana Elisa de Castro Freitas escreve e desenha Jakaira Chy Ete, deusa Mbya Guarani, sopro, palavra, inspiração.

Em artigos, uma profusão de deusas, mulheres e heroínas vem povoar as páginas da revista. Gabriela Guimarães Gazzinelli enseja mostrar o processo de mitificação do Sertão, por meio de relações entre a personagem Diadorim, de Guimarães Rosa, e a deusa grega Palas Atena. Katia Pozzer analisa representações imagéticas da mesopotâmia Ištar, deusa tríplice, resultado da fusão de divindades ligadas à guerra, a virilidade, o feminino, o amor livre, o sexo. Márcia Vasques apresenta a deusa egípcia Hator, que é associada ao amor. Transformada em leoa, para destruir a humanidade, ou vista como deusa das profecias, Hator era também a senhora da música, da dança, dos banquetes, festividades e da bebida. Karina Oliveira Bezerra discorre sobre Ártemis, expondo seus aspectos principais e observando que hoje ela é adorada em religiões neopagãs, como a Wicca e o Reconstrucionismo Helênico. Ainda transitando pelo panteão grego, o próximo artigo, de Mayã Fernandes, investiga como a ninfa Calipso, na Odisseia de Homero, busca efetivar o casamento e esconder os viajantes que passam por sua ilha. Keli Pacheco, em um artigo-ensaio, lança olhares sobre Medeia, de Pasolini, e Montedemo, de Hélia Correia, observando as experiências das protagonistas nas sociedades em que vivem. O conceito de corpo, de Jean-Luc Nancy, a reflexão sobre a comunidade, de Blanchot e a noção de ruína, de Maria Zambrano, compõem o tecido das análises sobre as duas estrangeiras. Kathrin Rosenfield reflete sobre a complexidade das tramas envolvendo deusas de diversos panteões e heroínas trágicas gregas. Em panteões mais complexos, em ordens sociais mais diferenciadas, o poder feminino vai sendo cerceado e se torna mais sutil, mais sorrateiro, nos diz a autora.

Fechando o conjunto de narrativas textuais, Aline Matos oferece um poema a Oxum e Luciana Gabriela Soares Santoprete apresenta um conjunto de poesias francesas que fazem referência a Iemanjá, ilustradas por Fernanda Manéa.

Na seção Artes Visuais, vislumbramos traços da exposição Iemanjá, realizada no Atelier Jabutipê, em Porto Alegre, de 22 de agosto a 13 de outubro de 2017. Anico Herskovitz, Carla Magalhães, Fernanda Manéa, Lia Letícia, Roberta dos Santos, Tais Fanfa, Saionara Sosa e Zoravia Bettiol apresentaram desenhos, objetos, pinturas, vídeo e performance.

 

Esta etapa do projeto só foi possível graças à inestimável parceria com as seguintes pessoas: Kathrin Rosenfield, que participou da coordenação e organização do evento, chancelando o projeto na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Graças a isso, recebemos apoio da Capes. Antônio Augusto Bueno, que acolheu a exposição Iemanjá e as palestras em um agradável dia de primavera, no Atelier Jabutipê. Hilan Bensusan, que com seu habitual “fera”, recebeu a ideia de um número chamado Das Deusas, na revista Das Questões. Mayã Fernandes, que acompanha este projeto desde a sua concepção, com frutíferos diálogos e estimulante troca de ideias, sem o quê aquele meu lampejo inicial talvez se perdesse nas nuvens. Mayã participou da organização do evento, da montagem da exposição, é a assistente de edição deste número e revisora.

Enfim, o projeto não teria nascido sem a presença de algumas pessoas queridas. Carla Magalhães, amiga de um mundo de conversas, escutas, elucubrações sobre arte, filosofia, vida, força e tantos outros assuntos. Wanderson Flor do Nascimento, generoso em partilhar seus saberes. Lia Letícia, que trouxe importantes questões sobre o lugar da mulher negra nas artes. Elisa de Castro, colaboradora inspirada e alegre. Keli Pacheco, presença gentil e querida. E a todas as escritoras e artistas que aceitaram o desafio, produzindo textos e trabalhos de artes visuais.

 

Loraine Oliveira

Editora

 

   

A presente chamada foi realizada com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES). 

Publicado: 2018-03-13