"Ele disse que chegava lá"

os pontos de vista de Chico Buarque e Elza Soares nas performances da canção "O Meu Guri"

Resumo

Este trabalho se propõe a investigar duas versões da canção “O Meu Guri”, de Chico Buarque, e busca revelar como os aspectos interpretativos ali presentes sugerem posicionamentos e visões de mundo distintos, modalizando o conteúdo poético da canção. Ao examinar essa letra, a crítica literária Adélia Bezerra de Menezes atribui à personagem que canta um caráter ingênuo por entender que a mesma “desconhece a condição e a real natureza do ‘batente’ do seu filho - aliás, na sua ingenuidade tudo ignora, inclusive, e sobretudo, a sua morte de menor infrator, que vira notícia no jornal” (Menezes, 2001, p. 60). Porém, um exame da performance de Chico Buarque (1981) pode sugerir a consciência e a celebração dessa mãe em relação ao que o filho pôde usufruir em vida no decorrer da sua tortuosa trajetória. Por sua vez, a performance de Elza Soares (2015) parece presentificar a dor materna, que diante da percepção da dura realidade socioeconômica, nada pode fazer.  Assim, busca-se apresentar as maneiras pelas quais o conteúdo poético da canção parece se articular às performances de ambos os artistas.