CHAMADA ABERTA. n. 65. Dossiê: Literatura negra e indígena no Brasil: oralidades, ancestralidades e resistências

06-02-2024

A literatura oral nunca fez parte do cânone, que sempre privilegiou a escrita, legitimada pela branquitude, pela colonialidade e pelo Império. São séculos de apagamento, silenciamento, invisibilidade, epistemicídio e desumanização. Temos uma dívida impagável, como nos lembrou a intelectual negra Denise Ferreira da Silva, com os ancestrais desse país que fundaram a nação e ficaram fora dela, subalternizados e apagados da história.

Este dossiê é uma forma de reparação, uma tentativa de dar visibilidade à luta dos povos originários e negros deste país. Traçaremos aqui um panorama da produção literária negra e indígena feita no Brasil, na perspectiva da oralidade, da ancestralidade e das resistências.

Para descolonizar a escrita, o eu e a subjetividade, escutemos, nas palavras de Eliane Potiguara, o som que espalha nossa voz originária. Aprendamos a desaprender o cânone a partir de baforadas de cachimbo das pretas velhas brasileiras que vieram da tradição de Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus e tantas outras que se multiplicaram entre nós, para retirar esse “carrego colonial” e aprendermos a voltar para nós mesmos.

Aprendamos a fazer novos traços dos trapos deixados pelo colonialismo. Aprendamos a partir dos destroços a realimentar os traços que desenham nosso corpo, evocando a ancestralidade. Aprendamos com Graça Graúna que, ao escrever, damos conta da ancestralidade, do caminho de volta, do nosso lugar no mundo.

Aprender a escutar os signos da floresta, da mata e da terra. Escutarmos o som da nossa ancestralidade a partir da oralidade, dos povos originários. Uma crítica ao toque de atabaques, ao som do maracá e das afrografias da memória, lembrando Leda Martins, ao nos ensinar a performar a partir da encruzilhada e da oralitura da memória. Uma crítica que se constrói a partir da escrita negra e indígena. Mas que também evoca a mata e os saberes da floresta, como nos ensinou Márcia Kambeba. Somos filhos da terra, dos terreiros, onde nosso corpo é evocado e reinventado. Aprendemos a pensar a partir de uma cosmopercepção: todos os sentidos são evocados para uma dança no coração da ancestralidade que habita nas dobras de nossa pele, nas escrevivências de um mundo possível, lembrando brevemente a nossa ancestral Conceição Evaristo. Na nossa pele negra e indígena escrevemos a nossa memória ancestral, retiramos a máscara branca e deixamos na pele reluzir a outra metade que está em parte alguma. Ao riscar o chão, arriscamos uma crítica encarnada e nela convidamos as pretas velhas, todas as giras que compõem nosso terreiro literário.

Este número da Revista Cerrados aceitará artigos que contribuam para fomentar a discussão sobre a literatura negra e indígena feita no Brasil.

 

Prazo para submissão: 31 de maio de 2024.

 

  • Ao menos um dos autores da contribuição deverá ter o título de doutor.
  • Revista Cerrados aceita textos em português, inglês, espanhol, italiano e francês.
  • A submissão precisa seguir os padrões de estilo e requisitos bibliográficos descritos em Diretrizes para Autores - submissões em desacordo serão rejeitadas.
  • Lançamento previsto para agosto de 2024.

 

Organizadores

Paulo Petronílio Petrot (FUP/UnB)

Pedro Mandagará (IL/UnB)

Luciana Borges (IEL-UFCAT)