“E se todos fossem arqueólogos?”

experiências na Terra Indígena Wajãpi

Autores

  • Mariana Petry Cabral

Palavras-chave:

Diálogos disciplinares, Wajãpi do Amapá, Produção de conhecimento, Arqueologia

Resumo

Partindo de um interesse em pensar a relação entre arqueologia e antropologia, apresento neste artigo a experiência de uma pesquisa em que as fronteiras disciplinares são fluidas e flexíveis. O mote da minha reflexão é a prática de uma pesquisa de arqueologia com um grupo indígena do tronco tupi, os Wajãpi do Amapá. Com o desenrolar da pesquisa, ficou claro que, além dos sítios arqueológicos, havia muito para conhecer sobre o que os Wajãpi pensam a respeito dos sítios. Sem falar no que os Wajãpi conhecem sobre outras coisas que nós arqueólogos não consideramos sítios, mas que podem funcionar como sítios nos seus próprios termos. Com isso, eu me voltei a conhecer a maneira como os Wajãpi constroem narrativas sobre o passado utilizando vestígios, os traços materiais que seguem disponíveis hoje na sua terra. Ao pensar a arqueologia como uma prática de sentido, vejo esse processo de construção de relações entre os vestígios materiais e o conhecimento wajãpi como uma versão da arqueologia. Neste artigo, apresento alguns exemplos deste processo para argumentar que as aproximações disciplinares podem ser férteis e produtivas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

FUNARI, Pedro Paulo Abreu & BEZERRA, Marcia. 2012. “Public Archaeology in Latin America”. In: Robin SKEATES, Carol MCDAVID & John CARMAN (eds.). The Oxford Handbook of Public Archaeology. Oxford: Oxford University Press. pp. 100-115.
GALLOIS, Dominique Tilkin. 1986. Migração, guerra e comércio: os Waiapi na Guiana. São Paulo: FFLCH/USP.
______. 1994. Mairi Revisitada: A reintegração da Fortaleza de Macapá na tradição oral dos Waiãpi. São Paulo: NHII/ USP/ FAPESP.
______. 2002. ““Nossas falas duras”. Discurso político e auto-representação”. In: Bruce ALBERT & Alcida Rita RAMOS (ed.). Pacificando o branco: cosmologias do contato no norteamazônico. São Paulo: Editora UNESP. pp. 205-237.
______. 2006. Expressão gráfica e oralidade entre os Wajãpi do Amapá. Dossiê IPHAN 2 {Wajãpi}. Rio de Janeiro: IPHAN/ MinC.
______. 2011. Terra Indígena Wajãpi: da demarcação às experiências de gestão territorial. São Paulo: Iepé.
GALLOIS, Dominique Tilkin; SZMRECSÁNYI, Lucia; WAJÃPI, Aikyry; WAJÃPI, Jawapuku & PESQUISADORES DA TERRA INDÍGENA WAJÃPI. 2013. “Saberes Wajãpi: Formação de pesquisadores e valorização dos registros etnográficos indígenas”. In: Charles R. HALE & Lynn STEPHEN (eds.). Otros saberes: collaborative research on indigenous and Afro-descendant cultural politics. New Mexico: School for Advanced Research Press. pp. 49-75.
GARROW, Duncan & YARROW, Thomas (orgs.). 2010. Archaeology and Anthropology: Understanding similarity, exploring difference. Oxford, Oakville: Oxbow Books.
GOSDEN, Chris. 1999. Anthropology and Archaeology. A Changing Perspective. London, New York: Routledge.
GREEN, Lesley Fordred; GREEN, David R. & NEVES, Eduardo Góes. 2003. “Indigenous Knowledge and Archaeological Science: The Challenges of Public Archaeology in the Reserva Uaça”. Journal of Social Archaeology, 3 (3): 365-397.
GRENAND, Pierre. 1982. Ainsi parlaient nos ancêtres: essai d´ethnohistoire wayãpi. Paris: ORSTROM.
GRENAND, Pierre & GRENAND, Françoise. 2002. “Em busca da aliança impossível. Os Waiãpi do norte e seus brancos”. In: Bruce ALBERT & Alcida Rita RAMOS (eds.). Pacificando o branco: cosmologias do contato no norte-amazônico. São Paulo: Editora UNESP. pp. 145-178.
HODDER, Ian. 2012. Entangled: An Archaeology of the Relationships between Humans and Things. Kindle (ebook). Chicester: Wiley-Blackwell.
IPHAN. 2002. Certidão do Livro de Registro das Formas de Expressão. Arte Kusiwa ”“ Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi. Brasília: IPHAN/ MinC.
OLSEN, Bjornar; SHANKS, Michael; WEBMOOR, Timothy & WITMORE, Christopher. 2012. Archaeology: The Discipline of Things. Kindle (ebook). Berkeley, Los Angeles, London: University of California Press.
PESQUISADORES E PROFESSORES WAJÃPI. 2008. I’ã: Para nós não existe só “imagem”. São Paulo: Apina & Iepé.
______. 2009. Kusiwarã. São Paulo: Apina/ Iepé/ IPHAN/ Embaixada da Noruega/ Rainforest Foundation.
PESQUISADORES WAJÃPI & GALLOIS, Dominique Tilkin. 2008a. Jane reko re jimoe´a Pesquisadores wajãpi (Cadernos de Pesquisa nº 4). Macapá: Iepé/ IPHAN.
______. 2008b. Jane rekoa werã. Macapá: Iepé/ Apina.
______. 2011. Ka’a rewarã. São Paulo: Iepé/ IPHAN/ Embaixada da Noruega/ Rainforest Foundation.
PYBURN, Anne. 2009. “Practising Archaeology - As if it really matters”. Public Archaeology, Archaeological Ethnographies 8 (2-3): 161-175.
SHANKS, Michael & TILLEY, Christopher. 1992 [1987]. Re-Constructing Archaeology - Theory and Practice. 2.ed. London/ New York: Routledge.
SILVA, Fabíola Andréa. 2002. “Mito e Arqueologia: A interpretação dos Asurini do Xingu sobre os vestígios arqueológicos encontrados no Parque Indígena Kuatinemu - Pará”. Horizontes Antropológicos, 8 (18): 175-187.
SILVA, Fabíola Andréa & STUCHI, Francisco Forte. 2010. “Evidências e significados da mobilidade territorial: a Terra Indígena Kaiabi (Mato Grosso, Pará)”. Amazônica, 2 (1): 38-59.
THOMAS, Julian. 1996. Time, Culture and Identity: An interpretive archaeology. London, New York: Routledge.
______. 2010. “Commentary: Walls and bridges”. In: Duncan GARROW & Thomas YARROW (eds.). Archaeology and Anthropology: Understanding similarity, exploring difference. Oxford/ Oakville: Oxbow Books. pp. 179-184.
TILLEY, Christopher. 1990. “Michel Foucault: Towards an Archaeology of Archaeology”. In: Christopher TILLEY (ed.). Reading Material Culture: Structuralism, Hermeneutics and PostStructuralism. Oxford: Basil Blackwell. pp. 281-346.
UNESCO. 2012. Representative List of the Intangible Cultural Heritage of Humanity. Disponível em: Disponível em www.unesco.org/culture/ich/index.php?lg=en&pg=00011&RL=00049. Acesso em: 30/01/2012.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002. “O nativo relativo”. Mana, 8 (1): 113-148.
WAGNER, Roy. 2010 [1975]. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac Naify.
WEBMOOR, Timothy & WITMORE, Christopher. 2008. “Things are us! A Commentary on Human/Things Relations under the Banner of a ‘Social’ Archaeology”. Norwegian Archaeological Review, (1): 1-18.
YARROW, Thomas. 2010. “Not knowing as knowledge: asymmetry between archaeology and anthropology”. In: Duncan GARROW & Thomas YARROW (ed.). Archaeology and Anthropology: Understanding similarity, exploring difference. Oxford/ Oakville: Oxbow Books. pp. 13-27.

Downloads

Publicado

2018-02-16

Como Citar

Cabral, Mariana Petry. 2018. “‘E Se Todos Fossem arqueólogos?’: Experiências Na Terra Indígena Wajãpi”. Anuário Antropológico 39 (2):115-32. https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6821.

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.