Como a Antropologia pode contribuir para a pesquisa jurídica? Um desafio metodológico

Autores

  • Roberto Kant de Lima
  • Bárbara Gomes Lupetti Baptista

Palavras-chave:

Antropologia jurídica, método comparativo, pesquisa empírica e Direito, etnografia jurídica

Resumo

A importância de articular Direito e Antropologia ”“ embora reconhecida por instituições como o MEC, que inseriu a Antropologia Jurídica no currículo da graduação em Direito, e pelo CNPq, que a elenca como subárea do Direito ”“ ainda não está de fato legitimada pelos operadores jurídicos. O fazer antropológico pressupõe a relativização de verdades consagradas, enquanto o fazer jurídico através delas se reproduz, sendo este contraste metodológico um significativo obstáculo ao diálogo destes campos. Exercitar a aproximação destes saberes é um desafio não apenas para o Direito, mas também para a Antropologia, pois ambas as áreas não pautam as suas agendas a partir de discussões comuns. Este artigo destaca a importância de uma metodologia própria da antropologia, a etnografia, de base empírica e calcada no trabalho de campo e na perspectiva comparativa contrastiva, para o desenvolvimento da pesquisa na área do Direito. Demonstraremos que essa metodologia é extremamente valiosa para a compreensão do campo jurídico, como também explicitaremos alguns dos obstáculos que causam os ruídos de comunicação desses campos. A metodologia utilizada para a construção dos dados é fruto da observação participante dos autores, que são formados em Direito e têm experiência acadêmica e profissional na área da Antropologia Jurídica.

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Publicado

2018-02-16

Como Citar

Lima, Roberto Kant de, e Bárbara Gomes Lupetti Baptista. 2018. “Como a Antropologia Pode Contribuir Para a Pesquisa jurídica? Um Desafio metodológico”. Anuário Antropológico 39 (1):9-37. https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6840.

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