Uma vocação para durar
estratégias discursivas e agências imperiais nos anos 1950
Keywords:
saber colonial, ciência, ensino superior, administração colonial, AngolaAbstract
O presente artigo analisa discursos e agências que sustentaram o processo de dominação colonial em Angola nos anos 1950 tomando como base o saber colonial. Situando-o como prática discursiva, esse saber será vislumbrado com base em narrativas originadas em uma formação especializada oferecida em Lisboa para profissionais da gestão colonial. Da descrição e análise antropológica dos trabalhos finais de alunos, localizam-se estratégias discursivas que i) tomaram os africanos como trabalhadores que não correspondiam a um ideal, ii) ampliaram classificações sociais consideradas um “problema” para a administração, para além da “questão indígena” e iii) compartilharam um Estado imaginado em uma relação de dependência e, portanto, responsável pela administração de populações merecedoras de seus cuidados. Percorrem-se os lugares sociais dos textos escritos no ensino superior de administração colonial para uma compreensão das configurações sociais envolvidas no desenvolvimento de saberes administrativos projetados para territórios longínquos na década de 1950. Com esse microuniverso, delineiam-se as bases para diferenciações entre “nós” e “eles”, os seus efeitos assimiladores e homogeneizadores, e os pressupostos e condições de possibilidade para o exercício de uma vocação imperial.
Downloads
References
_______. 2014b. “Narrativas para a gestão de Angola: o ‘índigena’ como objeto de estudo no ensino superior, 1950-1960”. In: Selma Pantoja & Estevam Thompson (orgs.). Em torno de Angola: narrativas, identidades e conexões Atlânticas. Lisboa: Intermeios/ PPGDSCI. pp. 33-48.
ANDERSON, Perry. 1963. Le Portugal et la fin de l’ultra-colonialisme. Paris: François Maspero.
ANTUNES, Luís F Dias & RODRIGUES, Vítor L. Gaspar. 2011. “A escola colonial e a formação de uma ‘elite dirigente’ do ex-ultramar português (1906”“1930)”. Africana Studia: Revista Internacional de Estudos Africanos, 17:41-49.
Anuário da Escola Superior Colonial. 1947. Lisboa: Escola Superior Colonial. Ano XXVIII.
ASAD, Talal. 1973. Anthropology and the colonial encounter. New York: Humanities Press.
BASTOS, Cristiana. 2007. “Um centro subalterno? A Escola Médica de Goa e o império”. In: Cristiana Bastos, Miguel Vale de Almeida & Bela Feldman-Bianco (orgs.). Trânsitos coloniais: diálogos críticos luso-brasileiros. Campinas, SP: Editora da Unicamp. pp. 143-161.
CAHEN, Michel. 1997. “Salazarisme, fascisme et colonialisme: problèmes d’interprétation en sciences sociales, ou le sébastianisme de l’exception”. Instituto Superior de Economia e Gestão ”” CESA. Documento de Trabalho, 47.
CASTANHEIRA, Américo. 1950. “Trabalho indígena”: algumas considerações acerca do problema da mão de obra indígena nas colônias de Timor e de Angola. Lisboa: Instituto Superior de Estudos Ultramarinos.
CASTELO, Cláudia. 2007. Passagens para a África: o povoamento de Angola e Moçambique com naturais da Metrópole (1920”“1974). Lisboa: Afrontamento.
_______. 2012. “Investigação científica e política colonial portuguesa: evolução e articulações, 1936”“1974”. História, Ciências, Saúde, 19(2): pp. 391-408.
CLARENCE-SMITH, William Gervase. 1985. The Third Portuguese Empire 1825”“ 1975: a study in economic imperialism. [s.l.]: Manchester University Press.
COMAROFF, John. 1997. “Images of empire, contests of conscience ”” models of colonial Domination in South Africa”. In: Ann Laura Stoler & Frederick Cooper (eds.). Tensions of empire: colonial cultures in a bourgeois world. Berkeley/Los Angeles/London: University of California Press. pp. 163-197.
CONCEIÇÃO NETO, Maria da. 1997. “Ideologias, contradições e mistificações da colonização de Angola no século XX”. Lusotopie, pp. 327-359.
COOPER, Frederick & STOLER, Ann Laura. (eds.). 1997. Tensions of empire: colonial cultures in a bourgeois world. Berkeley/Los Angeles/London: University of California Press.
DIRKS, Nicholas. 1992. Colonialism and culture. Michigan: The University of Michigan Press.
DUFFY, James. 1959. Portuguese Africa. Cambridge, Massachussetts, London: Harvard University Press, Oxford University Press.
DURKHEIM, Émile. 1983. Lições de sociologia: a moral, o direito e o Estado. São Paulo: T. A. Queiroz/USP.
ELIAS, Norbert. 1994. Os alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Zahar.
_______. 2002. “Processos de formação de Estados e construção de nações”. In: F. Neiburg & L. Waizbort (orgs.). Escritos & ensaios. Rio de Janeiro: Zahar.
FOUCAULT, Michel. 1994. “‘Omnes et singulatim’: vers une critique de la raison politique”. In: ______. Dits et Écrits 1954”“1988. Paris: Gallimard. v. IV (1980-1988), pp. 134-161.
_______. 2010. “Ciência e saber”. In: ______. Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, pp. 201-222.
FREYRE, Gilberto. 1952. Aventura e rotina: sugestões de uma viagem à procura das constantes portuguesas de caráter e ação. Lisboa: Livros do Brasil.
FRY, Peter. 2003. “Culturas da diferença: sequelas das políticas coloniais portuguesas e britânicas na África Austral”. Afro-Ásia, 29/30:271-316.
GALLO, Donato. 1988. Antropologia e colonialismo: o saber português. Lisboa: Edição ER ”“ O Heptágono.
GOODY, Jack. 1986. A lógica da escrita e a organização da sociedade. Lisboa: Edições 70.
GRUHN, Isebill V. 1971. “The Commission for Technical Co-operation in Africa, 1950-65”. The Journal of Modern African Studies, 9(3):459-469.
LEAL, João. 2006. Antropologia em Portugal: mestres, percursos, tradições. Lisboa: Livros Horizonte.
MAMDANI, Mahmood. 1996. Citizen and subject: contemporary Africa and the legacy of the late colonialism. Princeton, New Jersey: Princeton University Press.
MARTELLI, George. 1969. “The issues internationalized”. In: Portuguese Africa: a handbook. New York, Washington, London: Praeger.
MATOS, Patrícia F. de. 2006. As côres do Império: representações raciais no império colonial português. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais.
MENDES, Afonso. 1958. A Huíla e Moçâmedes: considerações sobre o trabalho indígena. Lisboa: Ministério do Ultramar, Junta de Investigações do Ultramar.
MENESES, Maria Paula. 2010. “O indígena africano e o colono ´europeu´: a construção da diferença por processos legais”. In: E-Cadernos ”“ CES. 7a. ed. pp. 68”“93.
MONTEIRO, José Abelberto Pereira. 1959. O problema do trabalho dos indígenas. Lisboa: Dissertação, Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (ISEU).
MOURA, João Herculano Rodrigues de. 1955. A Organização Internacional do Trabalho e os territórios dependentes: normas de política social. Lisboa: Dissertação, Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (ISEU).
OLIVEIRA, João Pacheco de. 1988. “O nosso governo”: os Ticuna e o regime tutelar. São Paulo: Marco Zero; Brasília: MCT/CNPS.
PAULO, João Carlos Duarte. 1992. “A honra da bandeira”: a educação colonial no sistema de ensino português (1926”“1946). Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
_______. 2001. “Cultura e ideologia colonial”. In: Joel Serrão & A. H. Marques (dir.). Nova história da expansão portuguesa: o império africano (1890”“1930). Lisboa: Estampa. v. VI, pp. 30-88.
PÉLISSIER, René. 1965. “L’Afrique portugaise dans les publications de la Junta de Investigações do Ultramar (Lisbonne)”. Acta Africana, 4(2):249-270.
_______. 1979. Le naufrage des caravelles: études sur la fin de l’Empire Portugais (19611975). Orgeval, França: Pélissier.
_______. 1980. Africana: bibliographies sur l’Afrique luso-hispanophone (1800-1980). Orgeval, França: Pélissier.
PELS, Peter. 1997. “The anthropology of colonialism: culture, history and the emergence of Western governmentality”. Annual Review of Anthropology, 26:163-183.
PENVENNE, Jeanne. 1995. African workers and colonial racism: Mozambican strategies and struggles in Lourenço Marques, 1877-1962. Portsmouth; Johannesburg; London: Heinemann; Witwatersrand University Press; James Currey.
PEREIRA, Rui. 1987. “O desenvolvimento da ciência antropológica na empresa colonial do Estado Novo”. In: Colóquio sobre o Estado Novo - das origens ao fim da Autarcia (19261959): colóquios sobre o Estado Novo. Lisboa: Fragmentos. pp. 89-100.
PEREIRA NETO, João. 1960. O progresso econômico e social das populações indígenas: na África do Sul do Saara. Lisboa: Dissertação, Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (ISEU).
PITCHER, M. Anne. 1995. “From coercion to incentives: the Portuguese colonial cotton regime in Angola and Mozambique, 1946”“1974”. In: Allen Isaacman & Richard Roberts (orgs.). Cotton, colonialism and social history in Sub-Saharan Africa. Portsmouth: Heinemann. pp. 119-143.
RODRÍGUEZ-PIÑERO, Luis. 2005. Indigenous peoples, postcolonialism, and international law ”” the ILO Regime (1919”“1989). Oxford: Oxford University Press.
SANTA RITA, José Gonçalo. 1946. “Cultura colonial”. In: Anuário da Escola Superior Colonial ”” ano XXVII, 1945”“1946. Lisboa: Escola Superior Colonial, pp. 89-91.
SCOTT, David. 1998. Seeing like a State: how certain schemes to improve the human condition have failed. New Haven; London: Yale University Press.
SILVA, Carlos Baptista da. 2008. Administrando o império: o Ministério das Colônias/ Ultramar (1930/1974). Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
SILVA CUNHA, Joaquim Moreira. 1957. “Universalismo e regionalismo em África”. In: Colóquios de Política Internacional ”” Estudos de Ciências Políticas e Sociais, III. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, Centro de Estudos Políticos e Sociais.
SOARES, Amadeu Castilho. 1961. Política de bem-estar rural em Angola. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, Centro de Estudos Políticos e Sociais.
SOUZA LIMA, Antonio Carlos de. 2002. “Sobre gestar e gerir a desigualdade: pontos de investigação e diálogo”. In: _______ (org.) Gestar e gerir: estudos para uma antropologia da administração pública no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará, pp. 11-22.
SOUZA LIMA, Antonio Carlos de. 2005. “Os relatórios antropológicos de identificação de terras indígenas da Fundação Nacional do Índio: notas para o estudo da relação entre antropologia e indigenismo no Brasil, 1968”“1985”. In: Antonio Carlos de Souza Lima & Henyo Trindade Barreto Filho (orgs). Antropologia e identificação: os antropólogos e a definição de terras no Brasil, 1977”“2002. Rio de Janeiro: ContraCapa/FAPERJ/CNPq/ LACED/IIEB. pp. 75-118.
STOLER, Ann Laura. 2009. Along the archival grain: epistemic anxieties and colonial common sense. Princeton, Oxford: Princeton University Press.
THOMAS, Nicholas. 1994. Colonialism’s culture: antropology, travel and governement. Princeton: Princeton University Press.
VALENTE, Vasco Pulido. 1999. Portugal ”“ Ensaios de História e de Política. Lisboa: Aletheia Editores.
VIANNA, Adriana. 2014. “Etnografando documentos: uma antropóloga em meio a processos judiciais”. In: Sergio Castilho, Antonio Carlos de Souza Lima & Claudia Costa Teixeira (orgs.). Antropologias das práticas de poder: reflexões etnográficas entre burocratas, elites e corporações. Rio de Janeiro: ContraCapa/FAPERJ, pp. 43-70.
WOLF, Eric. 2003. Antropologia e poder. Brasília: Editora da Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Editora Unicamp.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Copyright (c) 2015 Anuário Antropológico
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode.en
Creative Commons - Atribución- 4.0 Internacional - CC BY 4.0
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode.en