Diversidade de gênero e Sistema Único de Saúde: uma problematização sobre o processo transexualizador

Autores

  • Pablo Cardozo Rocon Universidade Federal de Mato Grosso
  • Adriana Ilha da Silva Universidade Federal do Espírito Santo
  • Francis Sodré Universidade Federal do Espírito Santo

DOI:

https://doi.org/10.26512/ser_social.v20i43.18870

Palavras-chave:

gênero, transexualidade, saúde, Estado, política social

Resumo

Neste artigo, a partir de um estudo exploratório documental e bibliográfico, problematizamos o processo transexualizador, do Sistema Único de Saúde (SUS), frente aos desafios da garantia de direitos à identidade de gênero e de cidadania. Acreditamos que os dilemas para acesso e acompanhamento ao processo transexualizador são os mesmos enfrentados por toda a classe trabalhadora referente ao papel do Estado na garantia às necessidades de saúde na média e na alta complexidade, numa conjuntura de cortes nos gastos estatais e na mercantilização dos serviços sociais. Neste sentido, apontamos as desigualdades no acesso, as dificuldades na liberação do processo e críticas quanto ao diagnóstico e no seu acompanhamento pós-processo. Por fim, o resultado instiga-nos a problematizar o acesso ao SUS, condicionado às necessidades sociais dessa fração da classe trabalhadora em contraposição a patologização da transexualidade, com o entendimento do modelo biomédico e mercantil.

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Biografia do Autor

Pablo Cardozo Rocon, Universidade Federal de Mato Grosso

Assistente Social, mestre em Saúde Coletiva e doutorando em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor Assistente 40DE no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso

Adriana Ilha da Silva, Universidade Federal do Espírito Santo

Assistente Social, mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutora em Política Social pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Espírito Santo. Coordena o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cybercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo.

Francis Sodré, Universidade Federal do Espírito Santo

Assistente Social, Mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz e doutora em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós Graduação
em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Espírito Santo. Coordena o Grupo de Estudos em Trabalho e Saúde (Gemtes).

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Publicado

13-11-2018

Como Citar

ROCON, Pablo Cardozo; DA SILVA, Adriana Ilha; SODRÉ, Francis. Diversidade de gênero e Sistema Único de Saúde: uma problematização sobre o processo transexualizador. SER Social, Brasília, v. 20, n. 43, p. 432–448, 2018. DOI: 10.26512/ser_social.v20i43.18870. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/SER_Social/article/view/18870. Acesso em: 23 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos de Temas Livres