Epistemologias fronterizas em arte e cultura periféricas

“paisagens” descoloniais através da arte

Autores

Palavras-chave:

Arte. Cultura. Literatura. Periferia. Episteme.

Resumo

A proposta basilar do artigo recai na necessidade de discutir criticamente as produções culturais periféricas, tendo por fundamentação uma visada epistemológica específica dos locais geoistóricos, tanto no tocante aos loci das próprias produções, quanto do lócus de onde o intelectual erige seu discurso crítico. Em toda sua crítica pós-ocidental, o intelectual argentino Walter Mignolo conclama a presença de uma “epistemologia fronteriza” para mostrar que, somente por meio dela, pode-se propor uma reorganização da produção do conhecimento e, por conseguinte, dos modos de ler teórico, crítico, artístico, discursivo e culturalmente, uma vez que qualquer reflexão assentada numa “epistemologia fronteriza” encampa as histórias locais, encontrando, assim, seu lugar no conhecimento por fora dos projetos globais. Por estar ancorada em uma consciência subalterna e no bios locais dos sujeitos, uma epistemologia fronteriza arquiteta-se para além dos binarismos que imperaram nos discursos hegemônicos que, quase sempre, tomaram as produções culturais humanas (arte, literatura, discurso e a própria cultura periférica) como objetos passíveis de análises puro e simplesmente, como se todas elas não produzissem seu próprio saber. Também Gloria Anzaldúa defendeu a ideia de uma epistemologia fronteriza, sobretudo por entender que somente ela permite ao crítico periférico pensar e construir pensamentos a partir dos interstícios dos discursos dos sujeitos e das produções não contemplados pelo discurso moderno da sapientia. Nesse sentido, o livro Bordelands\la frontera: the new mestiza (2007) representa mais do que a produção de um contradiscurso e o começo laborioso da construção “de um nuevo léxico y unas nuevas gramáticas”; significa a proposição de um novo argumento discursivo que, ao seu modo, barre a razão do discurso imperial moderno e sua visada estética monotópica (MIGNOLO). Acercados dos conceitos mencionados ”” como periferia, epistemologia fronteriza e outros advindos da discussão crítica contemporânea sobre a América do Sul como “opção descolonial” e “identidade em política”, entre outros, ”” o trabalho que resulta no tema proposto tem a preocupação maior de inquirir a respeito de uma epistemologia que encampe as relações diferenciais específicas das produções culturais brasileiras e latinas. A saída estratégica, para o trabalho de natureza descolonial, está na “desobediência epistêmica”: não deslegitimar as ideias críticas europeias, e nem muito menos se ofender quando deixa de venerar os autores canônicos eurocêntricos, “como os religiosos o fazem com os textos sagrados” (MIGNOLO, 2007: 289); a saída da “opção descolonial” está exatamente quando ela se desvincula dos fundamentos genuínos dos conceitos ocidentais e da acumulação de conhecimento. Aliás, é precisamente aí que ela é epistêmica. Parece restar, então, aos trabalhos críticos, que não têm medo do perigo e abominam a repetição pela repetição conceitual nos trópicos latinos, aprender a desaprender. Finalmente, o trabalho propõe um espaço saudável para a desobediência epistêmico conceitual que o presente crítico demanda.

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Biografia do Autor

Marcos Antônio Bessa-Oliveira, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

É professor nos cursos de Artes Cênicas, no Programa de Mestrado Profissional em Educação ”“ PROFEDUC da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul ”“ UEMS, Campo Grande. Doutor em Artes Visuais pelo IA-Unicamp e mestre em Estudos de Linguagens, é líder do Grupo de Pesquisa NAV(r)E ”“ Núcleo de Artes Visuais em (re)Verificações Epistemológicas, que pode ser acessado em: dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/1456348756496114.

Referências

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Publicado

09-02-2020

Como Citar

Bessa-Oliveira, M. A. (2020). Epistemologias fronterizas em arte e cultura periféricas: “paisagens” descoloniais através da arte. Temporal - prática E Pensamento contemporâneos, 2(4), 55–72. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/temp/article/view/27099