Gilberto Freyre e o tempo-espaço brasileiro:
uma crítica ao cronótopo da modernidade
Palavras-chave:
Pensamento social brasileiro, Teoria sociológica, ModernidadeResumo
Num plano mais geral, duas ordens de questões orientam as discussões deste artigo: primeiramente, qual o quadro de referência epistemológico a partir do qual se ergue a imagem freyreana da (pretensa) singularidade brasileira? Em segundo lugar, qual o alcance de seus insights, proposições interpretativas e reflexões a respeito da própria modernidade, amplamente considerada? De maneira mais específica, o presente artigo almeja revisitar o programa intelectual de Freyre com o propósito de compreender como o autor mobiliza as categorias tempo e espaço, e quais usos, conotações e sentidos emprestados a tais noções mais se sobressaem em seus esforços de interpretação da experiência moderna no Brasil. Eis as hipóteses de trabalho: (a) em seus esforços para delinear as especificidades do tempo-espaço brasileiro, Freyre caminha quase sempre no sentido de atribuir substância a ambas as noções, conferindo-lhes predicados a seu ver inextrincavelmente vinculados a contextos e situações particulares; (b) Freyre almeja nada menos que desafiar o privilégio epistemológico gozado por certa constelação espaço-temporal, a qual ele associa de maneira bastante estreita à modernidade cristalizada na Europa setentrional e na América do Norte; (c) as preocupações e formulações de Freyre a respeito do tempo-espaço brasileiro, somadas à s suas proposições acerca do lugar do Brasil no concerto mundial, revelam uma agenda intelectual crítica a certo imaginário da modernidade, que se alonga e persiste no presente, demonstrando convergências com elaborações contemporâneas no seio da teoria social.