Sobre a prática científica dos economistas brasileiros: entre a virtude epistêmica e a administração da irrelevância

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0102-6992-e45502

Palavras-chave:

Regime de Administração da Irrelevância, Periferização, Conhecimento Local, Economia, Dinâmicas Atencionais

Resumo

Os economistas justificam a internacionalização da ciência econômica recorrendo à metalinguagem, de tal modo que a competição é apresentada como o mecanismo “exemplar” de estímulo à qualidade (credibilidade epistêmica) e produtividade da ciência (novos conhecimentos). Entretanto, a competição dos mercados perfeitos da teoria econômica raramente é encontrada no mundo real, muito menos na ciência, onde uma combinação de fatores materiais e simbólicos reforça o caráter desigual e hierárquico da produção científica. Partindo desse entendimento, o presente trabalho lança mão do conceito de “regime de administração da irrelevância” para compreender a ordem indutora de processos científicos nos quais o conhecimento produzido é diminuído a uma condição de inferioridade ante outros contextos. Mais especificamente, o objetivo será evidenciar, a partir de procedimentos conscientes ou não, a prática científica cotidiana dos economistas, elementos que contribuem para a existência de uma dinâmica atencional autodepreciada.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Fabrício Monteiro Neves, Universidade de Brasília (UnB)

Professor do departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil.

Hélio Aguilar-Filho, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Professor do departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.

Referências

ALATAS, Syed Farid. Academic dependency and the global division of labour in the social sciences. Current sociology, v. 51, n. 6, p. 599-613, 2003.

ANDERSON, Warwick. Introduction: postcolonial technoscience. Social Studies of Science, v. 32, n. 5-6, p. 643-658, 2002.

BEIGEL, Fernanda (ed.). The politics of academic autonomy in Latin America. Farnham, UK: Ashgate Publishing, 2012.

______. Centros e periferias na circulação internacional do conhecimento. Nueva Sociedad, v. 245, n. 5-6, p. 168-180, 2013.

BLOOR, David. Conhecimento e imaginário social. São Paulo: Editora Unesp, 2009.

BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

BRASIL Jr., Antonio da Silveira; CARVALHO, Lucas Correia. O impacto da sociologia: cultura de citações e modelos científicos. Revista Brasileira de Sociologia, v. 8, n. 20, p. 248-269, 2020.

BURRIS, Vall. The Academic Caste System: prestige hierarchies in PhD exchange networks. American Sociological Review, v. 69, n. 2, p. 239-264. 2004.

COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR (CAPES). Relatório da Avaliação Quadrienal 2013-2016. Brasília: Capes, 2017. Disponível em: <http://uab.capes.gov.br/images/documentos/Relatorios_quadrienal_2017/20122017-Economia_relatorio-de-avaliacao-quadrienal-2017_final.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2021.

» http://uab.capes.gov.br/images/documentos/Relatorios_quadrienal_2017/20122017-Economia_relatorio-de-avaliacao-quadrienal-2017_final.pdf

COATS, Bob. The sociology and professionalization of economics: British and American essays, v. 2. London; New York: Routledge, 1993.

COLANDER, David. Can european economics compete with US economics? And should it?. In: LANTERI, Alessandro; VROMEN, Jack (orgs.). The Economics of Economists: Institutional Setting, Individual Incentives, and Future Prospects Account. Cambridge,UK: Cambridge University Press. 2014.

COLANDER, David; HOLT, Richard; ROSSER JR., Barkley. The changing face of mainstream economics. Review of Political Economy, v. 16, n. 4, p. 485-499, 2004.

DASGUPTA, Deepanwita. Scientific practice in the contexts of peripheral science: C. V. Raman and his construction of a mechanical violin-player. Perspectives on Science, v. 24, n. 4, p. 381-395, 2016.

DAVIS, John. Economics and economic methodology in a core-periphery economic world. Revista de Economia Política, v. 39, n. 3, p. 408-426, 2019.

FERNANDES, Gustavo Andrey Almeida Lopes; MANCHINI, Leonardo de Oliveira. How QUALIS CAPES influences Brazilian academic production? A stimulus or a barrier for advancement? Brazilian Journal of Political Economy, v. 39, n. 2, p. 285-305, 2019.

FERREIRA, Mariana. Periferia pensada em termos de falta: uma análise do campo da genética humana e médica. Sociologias, Porto Alegre, v. 21, n. 50, p. 80-115, 2019.

FONSECA, Pedro. Clássicos, neoclássicos e keynesianos: uma tentativa de sistematização. Perspectiva Econômica, v. 11, n. 30, p. 35-64, 1981.

GALTUNG, Johan. A structural theory of imperialism. Journal of Peace Research, n. 8, v. 2, p. 81-117, 1971.

KALAITZIDAKIS, Pantelis; MAMUNEAS, Theofanis; STENGOS, Thanasis. European economics: an analysis based on publication in the corejournals. Journal of the European Economic Association, v. 1, n.6, p. 1346-1366, 2003.

KNORR-CETINA, Karin. La fabricación del conocimiento: un ensayo sobre el caráter constructivista y contextual de la ciencia. Bernal: Universidade Nacional de Quilmes, 2005.

KEIM, Wiebke. Social sciences internationally: the problem of marginalisation and its consequences for the discipline of sociology. African Sociological Review, v. 12, n. 2, p. 22-48, 2008.

LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: Editora Unesp, 2000.

LATOUR, Bruno; WOOLGAR, Steve. Laboratory life: the construction of scientific facts. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1986.

LAWSON, Tony. The nature of the heterodox economics. In: PRATTEN, Steven (org.). Social ontology and modern economics. London: Routledge, 2015.

LAZEAR, Edward. Economic imperialism. The Quarterly Journal of Economics, v. 115, n. 1, p. 99-146, 2000.

LIU, Nian Cai; CHENG, Ying. The academic ranking of world universities. Higher Education in Europe, v. 30, n. 2, p. 127-136, 2005.

LIVINGSTONE, David. Putting science in its place. Geography of science knowledge. Chicago, IL: The University of Chicago Press, 2003.

LONGINO, Helen. The fate of knowledge. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2002.

LOUREIRO, Maria R. A Participação dos economistas no governo. Análise. v. 17, n. 2, p. 345-359, 2006.

______. Os economistas no governo. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1997a.

______. 50 anos de ciência econômica no Brasil. Pensamento, instituições e depoimentos. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1997b.

MÄKI, Uskali. Imperialismo da economia. Econômica. v. 7, n. 3, p. 5-33, 2000.

MARQUES, Fabrício. Experiência encerrada. Pesquisa Fapesp São Paulo: Fapesp, 2017. Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/experiencia-encerrada/>.

» https://revistapesquisa.fapesp.br/experiencia-encerrada

MEDINA, Leandro. Objetos subordinantes: la tecnología epistémica para producir centros y periferias. Revista Mexicana de Sociología, v. 75, n. 1, p. 7-28, 2013.

MERTON, Robert. The Matthew Effect in science: the reward and communication system of science. Science, v. 159, n. 3810, p. 56-63, 1968.

MORGAN, Mary; RUTHERFORD, Malcon. American economics: the character of the transformation. History of Political Economy, v. 30, n. 5, p. 1-26, 1998.

NEVES, Fabrício. A periferização da ciência e os elementos do regime de administração da irrelevância. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 35, n. 104, p. 1-18, 2020.

______. A contextualização da verdade ou como a ciência torna-se periférica. Civitas: Revista de Ciências Sociais, v. 14, n. 3, p. 556-574, 2014.

POPPER, Karl. Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975.

SAES, Flávio; CYTRYNOWICZ, Roney. O ensino de economia e as origens da profissão de economista no Brasil. Locus ‒ Revista de História, v. 6, n. 1, p. 37-54, 2000.

SOBRAL, Fernada. O campo científico da economia no Brasil: Homogeneidade ou diversidade. Política Comparada, v. 1, p. 59-70, 1999.

ZERUBAVEL, Eviatar. Hidden in plain sight: the social structure of irrelevance. New York: Oxford University Press, 2015.

ZIMMERMANN, Christian. Academic ranking with repec. Econometrics, v. 1, n. 3, p. 249-280, 2013.

Downloads

Publicado

15-12-2023

Como Citar

Neves, F. M., & Aguilar-Filho, H. (2023). Sobre a prática científica dos economistas brasileiros: entre a virtude epistêmica e a administração da irrelevância. Sociedade E Estado, 38(03), e45502. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-e45502

Edição

Seção

Artigos

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.