O crescimento do pentecostalismo entre quilombolas: por uma sociologia da presença pentecostal em comunidades quilombolas de Alcântara (MA)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202035020009

Palavras-chave:

Alcântara; Quilombolas, transformação, crescimento, Pentecostalismo

Resumo

Muitos trabalhos debatem a expansão territorial da base de lançamentos de Alcântara e as radicais transformações que ela causa às comunidades quilombolas ali existentes. A presente investigação, contudo, se concentra em uma transformação igualmente abrupta, qual seja: a conversão destas populações ao pentecostalismo. A partir de um survey realizado com membros de 16 povoados, constatou-se que, em alguns grupos, o número de evangélicos já supera outras tradições religiosas; percebeu-se a substituição gradativa do catolicismo popular, historicamente sincretizado com religiões de matriz africana, por um cristianismo mais radicalizado, característico do pentecostalismo; detectou-se o desaparecimento de parte da cultura oral dos grupos, tais como: contos, lendas e mitos que povoam os mais diferentes lugares da região e o imaginário popular. E, finalmente, verificou-se o questionamento das regras de uso comum da terra. Conclui-se que o pentecostalismo é parte das causas internas que, em consonância com as externas, estão alterando os padrões culturais dos grupos.

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Biografia do Autor

Gamaliel da Silva Carreiro, Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Doutor em sociologia pela Universidade de Brasília (2007). Professor associado I do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Maranhão (Ufma), São Luís, Maranhão, Brasil.

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Publicado

04-09-2020

Como Citar

Carreiro, G. da S. (2020). O crescimento do pentecostalismo entre quilombolas: por uma sociologia da presença pentecostal em comunidades quilombolas de Alcântara (MA). Sociedade E Estado, 35(02), 581–603. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202035020009

Edição

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Artigos