La Biblioteca de Babel - uma conversa com Eduardo Viveiros de Castro e Déborah Danowski
DOI:
https://doi.org/10.26512/vis.v15i1.14536Palavras-chave:
ArtesResumo
Inspirado no conto do escritor argentino Jorge Luis Borges, de 1944, nomeamos esse encontro, realizado em um fim de tarde de verão de 2014, no Rio de Janeiro. Em formato discussão livre, quatro vozes polifônicas sobrepõem práticas em antropologia, filosofia, artes e curadoria, para discutir o fim do mundo, esse tema aparentemente interminável, “pelo menos, é claro, até que ele aconteça”. O contexto dessa discussão deriva-se do “Colóquio Internacional: Os Mil Nomes de Gaia: Do Antropoceno à Idade da Terra”, concebido por Bruno Latour, Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro, ocorrido em setembro de 2014, concomitante ao lançamento do livro Há um mundo por vir? Ensaio sobre os Medos e os Fins, de Déborah Danowki e Eduardo Viveiros de Castro.
A partir da oportunidade de troca generosa dos ensinamentos de Déborah e Eduardo ”“ a quem Claude Lévi-Strauss, seu colega e mentor, definiria como o fundador de uma nova escola na antropologia ”“ compartilhamos aqui os pensamentos daqueles que consideramos os mais inovadores pensadores brasileiros. Entre os narradores dessa experiência de aprendizado (entre os muitos “bibliotecários” possíveis), sugerimos como start point para esse encontro a exploração do tema do fim do mundo pela cultura contemporânea. Aqui, especulamos sobre alguma esperança acerca da perenidade da espécie e sua capacidade de superação, entre fantasias de colonização espacial e avanços tecnológicos utópicos; discutimos sobre o Antropoceno em um contexto midiático a partir da apropriação recente do termo pelas artes e um possível transbordamento teórico do conceito de “perspectivismo ameríndio” (Viveiros de Castro, 1996)Â para a arte, o que, em última instância encerraria uma dicotomia cara ao nosso campo: a distinção entre obra de arte (observada) e espectador (observador).
Enquanto esperamos a vinda de um “messias termodinâmico”, supomos que Maiakovski sorriria orgulhoso da nossa tentativa de manutenção de um “pessimismo alegre” frente ao fim do mundo. Se para o poeta russo é melhor morrer de vodka do que de tédio, substituamos a vodka pela cachaça para uma conclusão possível (ao menos por agora): é melhor morrer de cachaça do que de spray de agrotóxico plantando sementes da Monsanto.