Vulnerabilidades sociais e trajetórias institucionais das adolescentes em uma unidade de semiliberdade feminina

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5281/zenodo.4522187

Palavras-chave:

Brasil, educação social, institucionalização, medidas socioeducativas, semiliberdade feminina, Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, violação de direitos, vulnerabilidade social

Resumo

Resumo

No Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, são preconizadas seis medidas socioeducativas para adolescentes que cometeram atos infracionais. A inserção em regime de semiliberdade é uma medida socioeducativa restritiva de liberdade, em que as jovens permanecem na unidade de semiliberdade durante a semana e são encaminhadas para atividades externas de escolarização, profissionalização, empregabilidade, entre outros. As experiências das adolescentes que cumprem medidas socioeducativas são tema pouco investigado em nosso país e predomina uma cultura masculina e misógina no universo socioeducativo. O artigo relata pesquisa documental realizada em processos finalizados das adolescentes do sexo feminino que cumpriram a medida de semiliberdade no Distrito Federal. Considerando a relativa carência de estudos tanto sobre a inserção em regime de semiliberdade no país quanto sobre as adolescentes que cumprem esta medida socioeducativa, a pesquisa apresentou os seguintes objetivos: a) conhecer o perfil dessas meninas; b) identificar situações de vulnerabilidade social e violações de direitos sofridas por elas e por suas famílias; e c) analisar sua trajetória institucional no sistema socioeducativo. São apresentados dados recentes de relatórios nacionais e de pesquisas acadêmico-científicas sobre as meninas em atendimento socioeducativo no país e no Distrito Federal. Discute-se a medida socioeducativa de inserção em regime de semiliberdade, o seu funcionamento e as suas especificidades. Os resultados da pesquisa indicam que as meninas inseridas no regime de semiliberdade possuem baixa escolaridade e são apreendidas por atos infracionais análogos ao tráfico de drogas e ao roubo. Suas famílias enfrentam diversas vulnerabilidades sociais e violações de direitos, o que afirma a importância da inclusão destas famílias em programas de proteção social, inclusive, como estratégia para colaborar na prevenção do cometimento de atos infracionais pelas meninas. As análises da trajetória institucional das meninas evidenciaram que, em geral, a adolescente sai do regime de semiliberdade por três vias: pela evasão da medida socioeducativa; pela liberação da medida; ou pela continuidade no itinerário punitivo. Defendemos a centralidade do gênero e da classe social para o sistema socioeducativo e a necessidade que as meninas sejam alvo de programas de atendimento socioeducativo atentos às suas especificidades e que garantam os seus direitos.

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Biografia do Autor

Tatiana Yokoy de Souza, Faculdade de Educação, Universidade de Brasília

Professora Adjunta da área de Psicologia da Educação do Departamento de Teoria e Fundamentos, Faculdade de Educação/ Universidade de Brasília (TEF/ FE/ UnB). Integrante do Grupo de Trabalho "Psicologia Dialógica" da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP). Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (PGPDS/ IP/ UnB), com a tese "Processos de Desenvolvimento de Educadores Sociais do Sistema de Medidas Socioeducativas: Indicadores de Formação". Autora do livro "Um estudo dialógico sobre institucionalização e subjetivação de adolescentes em uma casa de semiliberdade" (2008). Co-autora de trabalhos publicados nas obras Cultural Psychology of Human Values (2012), ?Fazendo a diferença: escola, inclusão e cultura de paz? (2012) e Docência na Socioeducação (2014). Membro do GT "Psicologia Dialógica" da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP). Tem experiência nas áreas de Psicologia do Desenvolvimento, Psicologia Escolar e Psicologia da Saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: medidas socioeducativas; formação de educadores; adolescência; violência escolar; e educação à distância. Mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UnB, na área de Psicologia do Desenvolvimento Humano no Contexto Sociocultural. Possui graduação em Psicologia pela UnB.

Paula Guimarães Gratão, Faculdade de Educação, Universidade de Brasília

Bacharel em Antropologia - Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (2014).

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Publicado

2021-04-03

Como Citar

de Souza, T. Y., & Guimarães Gratão, P. (2021). Vulnerabilidades sociais e trajetórias institucionais das adolescentes em uma unidade de semiliberdade feminina. Revista Do CEAM, 6(2), 60–83. https://doi.org/10.5281/zenodo.4522187

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