“Sem sequer dizer adeus”

análise linguística do desabafo de sujeitos coibidos do momento da despedida funérea

Autores

  • Viviane Faria Lopes Universidade Estadual de Goiás, Campus Formosa

DOI:

https://doi.org/10.5281/zenodo.3957761

Palavras-chave:

Coibição, Coronavírus, COVID-19, Despedida, Emoção, Linguagem

Resumo

O propósito principal desta investigação foi o de averiguar de que modo o refreio da exteriorização expressiva pode afetar o sujeito, tendo a manifestação comunicativa, em determinados eventos, como parte essencial do comportamento cultural e emocional. Tomando por objeto de análise o desabafo de entes que tiveram seu pronunciamento de despedida vetado, por conta do surto epidêmico provocado pela COVID-19, no ano de 2020, investigou-se a linguagem, enquanto prática social, e sua forma de interação interpessoal de alto préstimo afetivo e historicamente construída. Como as medidas sanitárias têm imposto um comportamento atípico em relação ao tratamento dos pacientes e ao sepultamento dos falecidos pela moléstia em questão, a expressão locucional, enquanto uma construção social, por estar coibida, tem afetado emocionalmente os familiares. Sendo o impedimento expressivo um nocivo agravador da forma de (re)pensar do indivíduo, já que seu domínio propaga-se socialmente e reforça seu estado no mundo, esta pesquisa balizou-se em teóricos da sociologia, da linguagem e da psicologia, para promover uma análise do conhecimento comunicativo enquanto componente necessário.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AGÊNCIA BRASIL. Sepultamento em tempos de coronavírus exige mudança de rituais. Hoje em Dia, Belo Horizonte, 26 abr. 2020. Disponível em: <https://hoje.vc/2wk7y>. Acesso em: 25 mai. 2020.

ARIÈS, P. O homem diante da morte. São Paulo: Editora Unesp, 2014.

BERGER, Peter L. LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2004.

CECI, Mariana. COVID-19 impõe enterros sem velórios e caixões lacrados. Tribuna do Norte, Natal, maio 2020. Disponível em: <http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/covid-19-impa-e-enterros-sem-vela-rios-e-caixa-es-lacrados/478906>. Acesso em: 25 mai. 2020.

CHIAVENATO, J. J. A morte: uma abordagem sociocultural. São Paulo: Moderna, 1998. (Coleção Polêmica).

CHOMSKY, N. Sobre a natureza e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

COMBINATO, D. S.; QUEIROZ, M. S. Morte: uma visão psicossocial. Estudos de Psicologia, 11 (2), 2006, p. 209-216.

EKMAN, P. A linguagem das emoções: revolucione sua comunicação e seus relacionamento reconhecendo todas as expressões das pessoas ao redor. São Paulo: Lua de Papel, 2011.

EYSENCK, M. W.; KEANE, M. T. Manual de psicologia cognitiva. 5. ed. Trad. Madga França Lopes. Porto Alegre: Artmed, 2007.

FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. 1 ed. Brasilia: Editora Universidade de Brasilia, 2001.

FAIRCLOUGH, N. Analyzing discourse: Textual analysis for social research. London, New York: Routledge, 2003.

FARAJ, Suane Pastoriza et al . Produção científica na área da Psicologia referente à temática da morte. Psicol. rev. (Belo Horizonte), Belo Horizonte, v. 19, n. 3, p. 441-461, 2013. Disponível em: <http://dx.doi.org/DOI-10.5752/P.1678-9563.2013v19n3p441>. Acesso em: 29 mai. 2020.

FREYRE, G. Casa grande e senzala. Brasília: Universidade de Brasília, 1963, 4. ed. G1. Coronavírus: o que se sabe sobre o novo vírus que surgiu na China. São Paulo: G1, 27 fev. 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/02/27/o-que-se-sabe-e-o-que-ainda-e-duvida-sobre-o-coronavirus.ghtml>. Acesso em: 29 mai. 2020.

GIL, R. Neuropsicológica. 4 ed. São Paulo: Livraria Santos Editora, 2010.

GREG News, Temporada 4, Episódio 8: Leveza. Produção: Porta dos Fundos. Intérprete: Gregório Duvivier. São Paulo: HBO Brasil, 2020. Disponível em: <https://youtu.be/Vs-a4Rs2ygc>. Acesso em: 19 mai. 2020.

HASTY, J. The press and political culture in Ghana. Indiana: Indiana University Press, 2005.

HENNEZEL. M. Morrer de olhos abertos. Portugal: Casa das Letras, 2006.

LACAN, J. Da psicose paranoica em relações com a personalidade: seguido de primeiros escritos da paranoia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1987.

LUTO interrompido: Parentes de vítimas da Covid-19 têm de lidar com as mortes sem despedidas. Produção: Estúdio Abril. São Paulo: Veja, 2020. Disponível em: <https://youtu.be/GBjgY7SRlh4>. Acesso em: 25 mai. 2020.

LYONS, J. Linguagem e linguística. 1 ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1987.

MANHEIM, K. Ideologia e utopia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1986.

MARANHÃO, J. L. S. O que é morte. São Paulo: Brasiliense, 1996.

MARTÃNEZ, José. Carregador de caixão, uma profissão comum em Gana que virou meme internacional. El País, Madrid, 14 abr. 2020. Verne, p. 0-0. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/verne/2020-04-14/carregador-de-caixao-uma-profissao-comum-em-gana-que-virou-meme-internacional.html>. Acesso em: 25 mai. 2020.

MARTINUZZO, J. A.; SANGALLI, H. L. J. O luto compartilhado no infoterritório: morte e intimidade transformadas no Facebook. ECCOM, v. 10, n. 19, p. 47-62, jan./jun. 2019. Disponível em: <http://unifatea.com.br/seer3/index.php/ECCOM/article/view/952>. Acesso em: 25 mai. 2020.

MUSSALIM, F.; BENTES, A. C.; Introdução a linguística: domínios e fronteiras. 2. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2001. p. 1-312.

NASCIMENTO, Eliana. Da porta do cemitério, famílias acompanham enterro de mortos por Covid-19 em Manaus e lamentam despedida à distância: ‘Desumano‘. G1, São Paulo, 24 abr. 2020. Amazonas. Disponível em: <https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/04/24/da-porta-do-cemiterio-familias-acompanham-enterro-de-mortos-por-covid-19-em-manaus-e-lamentam-despedida-a-distancia-desumano.ghtml>. Acesso em: 25 mai. 2020.

O DRAMA do lado de fora do hospital. ISTOÉ, São Paulo, ed. 2625, 3 maio 2020. Disponível em: <https://istoe.com.br/o-drama-do-lado-de-fora-do-hospital/>. Acesso em: 25 mai. 2020.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (Brasil). Folha informativa ”“ COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus). Brasília: OPAS, 24 jul. 2020. Disponível em: <https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875>. Acesso em: 24 jul. 2020.

PARKES, C. M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. São Paulo: Summus, 1998.

PINKER, S. Language Acquisition. In: GLEITMAN, L. R.; LIBERMAN, M. (eds.). An Invitation to Cognitive Science. Cambridge: The MIT Press, 1995, v. I: Language, p. 135-182.

RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

ROSA, M. C. Introdução à (bio)linguística: linguagem e mente. São Paulo: Contexto, 2018.

SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes, Izidoro Blikstein. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

SILVA, L. K. S. “EU SEI QUE TE AMO”: Análise crítica dos efeitos da linguagem persuasiva do romance “Os sofrimentos do Jovem Werther”. 2019. 47 p. (Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação) ”“ Universidade Estadual de Goiás, Itapuranga, 2019.

SOARES, Guilherme. Enterro com dança em Gana que virou meme mostra que a morte é encarada de outra forma na cultura africana. Alma Preta, São Paulo, 6 maio 2020. Mama África, p. 0-0. Disponível em: <https://almapreta.com/editorias/mama-africa/enterro-com-danca-em-gana-que-virou-meme-mostra-que-a-morte-e-encarada-de-outra-forma-na-cultura-africana>. Acesso em: 25 mai. 2020.

TV JORNAL. Coronavírus: familiares não podem dar ‘último adeus‘ a parentes mortos. Recife: TV Jornal, 23 abr. 2020. Disponível em: <https://tvjornal.ne10.uol.com.br/bronca-24-horas/2020/04/23/coronavirus-familiares-nao-podem-dar-ultimo-adeus-a-parentes-mortos-187507>. Acesso em: 25 abr. 2020.

WORF, B. L. Science and Linguistics. In: CARROL, J. B. (ed.). Language, Thought, and Reality: Selected Writings of Benjamin Lee Whorf. Cambridge: The MIT Press, 1956, p. 207-219.

Downloads

Publicado

2020-08-25

Como Citar

Lopes, V. (2020). “Sem sequer dizer adeus”: análise linguística do desabafo de sujeitos coibidos do momento da despedida funérea. Revista Do CEAM, 6(1), 125–141. https://doi.org/10.5281/zenodo.3957761

Edição

Seção

Pesquisa original