"Costumadas e Caseiras Medicinas”: saberes e práticas de cura na capitania do Piauí – Século XVIII

Autores

  • Gutiele Gonçalves dos Santos Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz

DOI:

https://doi.org/10.26512/revistacalundu.v6i2.46437

Palavras-chave:

Afroindígenas, Práticas de cura, Doenças, Piauí colonial

Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar as narrativas em torno das práticas terapêuticas no contexto da escravidão na capitania do Piauí nos setecentos. Buscamos identificar a partir de diferentes manuscritos coloniais como ofícios, requerimentos, relatos, registros e cartas quem realizava as práticas curativas, quais eram os locais utilizados para acolher os enfermos e quais eram os elementos usados para remediar os males causados por diferentes tipos de enfermidades. A constituição da ciência e medicina nos moldes europeus teve forte influência dos saberes indígenas e africanos, ambos conviveram e compartilharam os mesmos espaços, experiências e foram agentes ativos no processo de colonização. O entendimento em torno da constituição da ciência médica deve passar necessariamente pelo conhecimento da história da população negra e ameríndia. Ao longo do tempo, os saberes afroindígenas passaram por um processo de apagamento e invisibilização. Apesar de serem detentores e transmissores de conhecimento, não eram reconhecidos pela estrutura colonial dominante, entretanto os colonizadores usufruíam desses saberes. Dessa forma, esse artigo é uma tentativa de contribuir para recuperação de uma história que apresente as múltiplas vozes que ecoavam nas fontes sobre doenças e práticas de cura no Brasil colonial.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Gutiele Gonçalves dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz

Mestre e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde – Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz.

Referências

ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil: Senado Federal - Arquivo online, 1711.

ALMEIDA, Carla B. Starling. Medicina Mestiça. Saberes e práticas curativas nas minas setecentistas. São Paulo: Annablume, 2010.

BARBOSA, Benedito Carlos Costa. No Tempo das Bexigas: rastros de uma epidêmica moléstia no Grão-Pará colonial (1755-1819). 251f. Tese (Doutorado em História). Casa de Oswaldo Cruz - COC/FIOCRUZ. Rio de Janeiro, 2019.

BLUTEAU, Rafael. Dicionário Língua Portuguesa. Reformado e acrescentado por Antônio de Moraes Silva natural do Rio de Janeiro. Lisboa, na Oficina de Simão Thaddeo Ferreira. Ano M. DC C. LXXXIX.

FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em Movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Editora Nova Fronteira, 1998.

GILROY, Paul. O Atlântico Negro. Modernidade e dupla consciência, São Paulo, Rio de Janeiro, 34/ Universidade Cândido Mendes–Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001.

SCHIEBINGER, Londa. Secret Cures of Slaves: People, Plants, and Medicine in the Eighteenth-Century Atlantic World. Stanford, Calif.: Stanford University Press, 2017.

METCALF, Alida C. Os Papéis dos Intermediários na Colonização do Brasil 1500-1600. tradutor: Pablo Lima, Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2019.

MIRANDA, Reginaldo. São Gonçalo da Regeneração, Marchas e Contramarchas de uma Comunidade Sertaneja: da aldeia indígena aos tempos atuais. Teresina, Ed. Gráfica Expansão, 2004.

MOTT, Luiz. Piauí Colonial: População, Economia e Sociedade. 2a Ed. Teresina: APL/FUNDAC/DETRAN, 2010

NOELLI, Francisco Silva. Memórias sobre tempos de peste: linguagem Guaraní das doenças epidêmicas segundo Antonio Ruiz de Montoya. Revista Brasileira de Linguística Antropologíca, Volume 13, 2021.

NOGUEIRA, André Luís Lima. “Dos tambores, cânticos, ervas... Calundus como prática terapêutica nas Minas setecentistas”. In: PIMENTA, Tânia e GOMES, Flávio (org). Escravidão, Doenças e Práticas de Cura no Brasil. Rio de Janeiro: Outras Letras, 2016.

PIMENTA, Tânia Salgado. “Barbeiros-sangradores e curandeiros no Brasil (1808-28)” História, Ciência, Saúde-Manguinhos. vol.5, n.2, p.349-374, 1998.

RIBEIRO, Márcia Moisés. A Ciência dos Trópicos: a arte médica no Brasil do século XVIII. São Paulo: Hucitec, 1997.

RUSSELL-WOOD, Anthony John R. Histórias do Atlântico Português. Ângela Domingues, Denise A. Soares de Moura. (Orgs.) 2a ed. São Paulo: Editora Unesp, 2021

SPIX e MARTIUS. Viagem pelo Brasil, 1817-1820. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, Volume II, 2017. p.338. Disponível em: https://www2.senado.gov.br/bdsf/handle/id/573991

SAMPAIO, Gabriela dos Reis. Nas Trincheiras da Cura: as diferentes medicinas no Rio de Janeiro Imperial. Campinas, Editora da Unicamp, Cecult, IFCH, 2001.

SWEET, James H. Domingos Álvares, African healing, and the intellectual history of the Atlantic World. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2011.

WADE, Peter. “Interações, relações e comparações afro-indígenas”. In ANDREWS, George Reid; FUENTE, Alejandro, de la (Org.). Estudos afro-latinos-americanos: uma introdução. Buenos Aires: Afro - Latin American Research Institute da Harvard University at the Hutchinss Center - CLACSO, 2018. pp. 119-161.

WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Cirurgiões do Atlântico Sul conhecimento médico e terapêutica nos circuitos do tráfico e da escravidão (séculos XVII- XIX). Texto integrante dos Anais do XVII Encontro Regional de História – O lugar da História. ANPUH/SPUNICAMP. Campinas, 6 a 10 de setembro de 2004.

XAVIER, Ângela Barreto e ZUPANOV, Ines G. - Catholic orientalism. Portuguese empire, Indian knowledge (16th-18th centuries). Deli: Oxford University Press, 2015.

Fontes:

Arquivo Histórico Ultramarino. Concelho Ultramarino, Série 016 Brasil – Piauí, Caixa 12, Documento 694. AHU-Maranhão. AHU_CU_016, Cx. 19, D. 981, 3 de abril de 1794.

Arquivo Público do Piauí – APEPI – Manuscrito Carta ao governador do Piauí. 3 de agosto de 1799 Cód 157 p. 82 (MIRANDA, 2004: 106).

Arquivo Público do Piauí – APEPI – Manuscrito Carta ao governador do Piauí. 3 de agosto de 1799 Cód 157 p. 169.

Ofício de Alexandre Rodrigues Ferreira, ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar], D. Rodrigo de Sousa Coutinho. 15 de outubro 1799, [Lisboa] Anexo: 2 docs. AHU-Piauí, cx. 17, doc.53 AHU_CU_016, Cx. 23, D. 1178.

Ofício do [governador interino do Piauí], Francisco Diogo de Morais, ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar], D. Rodrigo de Sousa Coutinho, sobre a recepção do ofício que manda remeter a goma caninana e informa que irá remetê-la na primeira ocasião. 1800, julho, 19, Oeiras do Piauí Anexo: 3 docs. AHU-Piauí, cx. 18, doc. 38 AHU_CU_016, Cx. 23, D. 1216.

Ofício do governador da capitania do Maranhão, Joaquim de Melo e Póvoas, para o secretário de estado da Marinha e Ultramar, Francisco Xavier de Mendonça Furtado. (Arquivo Histórico Ultramarino, Maranhão) AHU_CU_009, Cx.40, D.3942.8 out. 1761.

Ofício do governador e capitão - general do Maranhão, Joaquim de Melo e Póvoas, para o secretário de estado da Marinha e Ultramar, Francisco Xavier de Mendonça Furtado. AHU_CU_009, Cx.41, D.4067. 9 ago. 1764.

Ofício do governador e capitão-general do Maranhão e Piauí, Joaquim de Melo e Póvoas, para o secretário de estado dos Negócios do Reino, marquês de Pombal. 1777, março, 3, Maranhão. Anexo: 1 cópia. AHU_CU_009, Cx. 51, D. 4919.

Relação dos remédios que vão da capitania do Piauhy, para a corte e cidade de Lisboa por oficio de 23 de junho, e de 19 de novembro de 1800. SPE COD. 011 / ESTN. 01 PRAT. 01 (Arquivo Público do Piauí - APEPI).

Relação dos remédios que vão da capitania do Piauí para a corte de Lisboa - Palácio de Oeiras, Francisco Diogo de Moraes - Arquivo Público do Piauí-APEPI, 31 de janeiro de 1803.

Requerimento do médico Dr. António Carvalho Sardo e Villa-Lobos ao rei D. João V, [ant. 1733, fevereiro, 3] Anexo: 1 certidão. AHU_CU_009, Cx. 20, D. 2066.

Downloads

Publicado

2023-01-26

Como Citar

Santos, G. G. dos. (2023). "Costumadas e Caseiras Medicinas”: saberes e práticas de cura na capitania do Piauí – Século XVIII. Revista Calundu, 6(2), 67–81. https://doi.org/10.26512/revistacalundu.v6i2.46437