Etnografia de uma prisão privatizada

humanização como problema de gestão, recrutamento como questão de confiança

Autores

Palavras-chave:

prisão; privatização; etnografia; neoliberalismo

Resumo

O artigo é o resultado parcial de pesquisa etnográfica realizada em unidade prisional gerida pela iniciativa privada no estado de Sergipe. Buscou-se analisar a maneira como o setor privado modelou as demandas por humanização das prisões sergipanas como um problema de gestão e criou uma “prisão-modelo” baseada no incremento do controle e da disciplina sobre os presos e da oferta de itens da chamada “hotelaria” (higiene, alimentação, acomodação). Como característica desse modelo, encontramos ainda a forma de recrutamento dos trabalhadores terceirizados constituída de relações pessoais e informais que ampliam os laços entre a prisão e a sociedade. Para esta parte da pesquisa, utilizaram-se entrevistas semiestruturadas conduzidas dentro da unidade prisional com gestores e trabalhadores da iniciativa privada, bem como com policiais penais que atuam no regime de cogestão. Em sentido complementar, também foram realizados levantamento e análise do contrato celebrado entre a empresa e o Estado de Sergipe e sua relação de adequação às diretrizes institucionais traçadas nacionalmente pós-Massacre do Carandiru, pois uma das hipóteses que norteiam o trabalho é que essas diretrizes já foram, em grande medida, assimiladas pela iniciativa privada.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Aline Passos de Jesus Santana, UFS/UNIT

Doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Atualmente, em estágio pós-doutoral na Universidade Tiradentes (UNIT). Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Exclusão, Cidadania e Direitos Humanos – GEPEC/UFS.

Paulo Sergio da Costa Neves, UFABC

Doutor em Sociologia e Ciências Humanas pela Universitè Lumière Lyon 2. Professor titular do bacharelado em Políticas Públicas e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do ABC (UFABC). Atualmente, também coordena a editora da UFABC (EDUFABC).

Referências

BRASIL. Ministério da Justiça e da Cidadania. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Resolução n° 05, de 25 de novembro de 2016. Disponível em: https://www.gov.br/senappen/pt-br/pt-br/composicao/cnpcp/resolucoes/2016/resolucao-no-5-de-25-novembro-de-2016/view. Acesso em 10 jul. 2024.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Comissão Parlamentar de Inquérito. Relatório final da CPI do Sistema Carcerário Brasileiro. Brasília: Edições Câmara, 2015. Disponível em: https://static.poder360.com.br/2017/01/relatorio-cpi-sistema-carcerario-camara-ago2015.pdf. Acesso em 10 jul. de 2021.

FAGUNDES, Nadia Martins. Execução penal em Sergipe: um percurso sociológico pelas práticas judiciárias e o confinamento prisional. 2009. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Núcleo de Pós Graduação em Ciências Sociais, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2009.

FOUCAULT, Michel. A governamentalidade. In: MACHADO, Roberto (Org.). Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1992.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1999.

LEMKE, Thomas. Foucault, governamentalidade e crítica. In: Plural. Revista do Programa em Pós-Graduação em Sociologia da USP, São Paulo, v. 24.1. p. 194-213, 2017.

MACHADO, Marcello Lavenère; MARQUES, José Benedito de Azevedo. História de um massacre: casa de detenção de São Paulo. São Paulo: Cortez/OAB, 2017.

MARQUES, Adalton. Humanizar e expandir: uma genealogia da segurança pública em São Paulo. São Paulo: IBCcrim, 2018.

MENDONÇA FILHO, Manoel. A herança das galinhas: histórias e estórias do sistema prisional em Sergipe. In: MENDONÇA FILHO, Manoel e NOBRE, Maria Teresa (orgs.). Política e afetividade: narrativas e trajetórias de pesquisa. Salvador/São Cristóvão: EDUFBA/EDUFS, 2009. p. 101-133.

PASTORAL CARCERÁRIA. Prisões privatizadas no Brasil em debate. São Paulo: ASAAC, 2014. Disponível em: http://carceraria.org.br/wp-content/uploads/2014/09/Relatorio-sobre-privatizações.pdf. Acesso em 30 abr. 2024.

REVIVER. Apresentação. A empresa. 2020. Disponível em: https://www.reviverepossivel.com/a-empresa/apresentacao/. Acesso em 10 de jul. 2024.

SANTANA, Aline Passos de Jesus. Quando a prisão é prisão mesmo: gestão privada e humanização do cárcere em Sergipe. 2021. 311 f. Tese (Doutorado em Sociologia) - Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2021.

VILELLA, Jorge M. Família como Grupo? Política como agrupamento? O sertão de Pernambuco no mundo sem solidez. In: Revista de Antropologia, v. 52, n. 1, p. 201- 245, 2009.

ZOMIGHANI JR., James Humberto. Desigualdades espaciais e prisões na era globalização neoliberal: fundamentos da insegurança no atual período. 2013. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

Downloads

Publicado

24.09.2024

Como Citar

PASSOS DE JESUS SANTANA, Aline; DA COSTA NEVES, Paulo Sérgio. Etnografia de uma prisão privatizada: humanização como problema de gestão, recrutamento como questão de confiança. Revista Latino-Americana de Criminologia, [S. l.], v. 4, n. 1, p. 71–89, 2024. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/relac/article/view/54788. Acesso em: 27 set. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: Da crítica ao cárcere à sua superação