Do mel ao arco das cinzas
sobre a ecologia das abelhas e dos territórios dos povos indígenas isolados na fronteira amazônica
DOI:
https://doi.org/10.26512/rbla.v14i1.46450Palavras-chave:
Entomologia, etnobiologia, desmatamento, gestão ambiental, indigenismo, TupiResumo
As fronteiras do leste e sudoeste amazônico têm sido palco de intenso processo de desmatamento e grilagem de terras públicas, onde, via a utilização do fogo, é realizada a conversão sistemática de florestas em monoculturas e pastagens para o gado. Neste contexto, os solos vão sendo envenenados pela (des) regulamentação do uso de agrotóxicos e rios e igarapés vão desaparecendo mais rapidamente. Com o extermínio dos polinizadores, logo todos os sistemas de produção agrícola desta grande região se verão diretamente impactados, e aos poucos, o arco do fogo, como é conhecido esse território, vai se convertendo em um arco de cinzas e ruínas. Há outros impactos menos evidentes, mas não menos preocupantes, neste dramático processo destrutivo. Esse território corresponde ao lar de todos os povos indígenas isolados tupi da Amazônia brasileira. Comunidades que, a exemplo dos Awá-Guajá do Maranhão e Kagwahiva do Mato Grosso, são formados por grupos bastante reduzidos e que vivem nos últimos redutos florestais destas fronteiras amazônicas. A extinção das abelhas nesses territórios coloca em xeque uma profunda relação dos povos indígenas e esta entomofauna, expressa no padrão de mobilidade e itinerância relacionados à coleta e extração do mel, prática de grande relevância neste contexto indígena tupi.
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