Apresentação do dossiê: Entre precariedades, crises e o colapso: perspectivas antropológicas sobre o “desmonte” do SUS

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DOI :

https://doi.org/10.4000/aa.9695

Mots-clés :

SUS

Résumé

As ideias de que o projeto do Sistema Único de Saúde (SUS) nunca foi plenamente implementado e que ele luta para se consolidar desde a sua criação são quase unânimes entre acadêmicos que discutem questões relativas ao campo da saúde no Brasil. Ao evidenciar as faltas e filas crônicas em diferentes regiões do país – fruto da desproporção da oferta de equipamentos, de recursos investidos e da quantidade de profissionais atuando nos territórios –, diversas pesquisas apontam que a precariedade dos serviços e a desigualdade para acessá-los é uma questão perene na saúde pública brasileira. “Ilhas de excelência” – como são retratadas poucas unidades públicas de saúde – e hospitais nos quais há carência não somente de itens básicos como dipirona, paracetamol, iodo, gaze, esparadrapo, papel higiênico, sabonete etc., mas também de equipe para o atendimento da população, existem simultaneamente no mapa sanitário brasileiro desde muito antes do início do processo de idealização do SUS. No entanto, parte dos pesquisadores, ativistas, especialistas, políticos, gestores e profissionais de saúde contemporâneos, notadamente nos campos da Antropologia e da Saúde Coletiva, argumenta que vivemos atualmente uma grave, inegável e inédita “crise da saúde” no país. Nesse sentido, associada à histórica reflexão crítica sobre os dilemas e as ambivalências da concretização de um sistema de saúde público e universal, a ideia de que o Brasil enfrenta, desde meados de 2015, sucessivas crises de diversos tipos – financeira, política, institucional, sanitária, de representatividade, entre outros – vem sendo debatida por diferentes atores e setores (Reis et al. 2016, Machado 2016, Maluf 2018, Paim 2018). A situação fundamental que marca esse processo é o golpe sofrido por Dilma Rousseff e a transformação aguda sofrida pelo campo das políticas e direitos sociais a partir dos governos de Michel Temer e, posteriormente, de Jair Bolsonaro, eleito em 2018. De modo geral, é sobre “crise”, “precariedade”, “escassez” e “desmonte” que se fala quando o assunto gira em torno das avaliações, preocupações e projetos para a área da saúde no país nos últimos anos.

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Lucas Freire, Fundação Getulio Vargas

Antropólogo e pesquisador em estágio pós-doutoral no Programa de Pós-graduação em História, Política e Bens Culturais do Centro de Pesquisa e Documentação em História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas (PPHPBC/CPDOC/FGV), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Coordenador do Laboratório de Antropologia Contemporânea (LAC/CPDOC).

Rosana Castro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professora do Departamento de Políticas e Instituições de Saúde, Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Doutora em Antropologia pela Universidade de Brasília, com estágio pós-doutoral em Saúde Coletiva pelo IMS/UERJ. Autora do livro Economias políticas da doença e da saúde: uma etnografia da experimentação farmacêutica.

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Publié-e

2023-03-28

Comment citer

Freire, Lucas, et Rosana Castro. 2023. « Apresentação Do Dossiê: Entre Precariedades, Crises E O Colapso: Perspectivas antropológicas Sobre O “desmonte” Do SUS ». Anuário Antropológico 47 (2):74-92. https://doi.org/10.4000/aa.9695.