Fé na ciência? Como as famílias viram a ciência do vírus Zika acontecer em suas crianças no Recife/PE

Authors

DOI:

https://doi.org/10.4000/aa.9478

Keywords:

epidemia do virus zika, recife, antropologia da ciencia

Abstract

O vírus Zika (VZ) se instalou no Brasil como uma nova epidemia entre os anos de 2015 e 2016. Sua principal consequência foi reprodutiva, com o nascimento de mais de 4.000 crianças com o que se convencionou chamar de Síndrome Congênita do Vírus Zika (SCVZ), que reúne um conjunto complexo de muitas deficiências e exige vários tipos de cuidado especializado. Até o momento, na literatura antropológica, muito foi dito sobre essas deficiências, sobre o cotidiano de cuidados e de direitos dessas crianças e suas famílias, mas nem tanto foi documentado sobre a relação que elas mantiveram com a ciência, que, por muito tempo, tentou compreender esse novo vírus, essa nova síndrome. O artigo apresenta razões para essas pessoas terem aceitado os convites vindos da ciência e também terem tecido reflexões mais críticas sobre esse intenso convívio com a mesma. Com base em pesquisa coletiva e etnográfica, realizada em quatro anos no Recife/PE, epicentro da epidemia do VZ, o artigo pretende contribuir com uma Antropologia da ciência menos “interna ao laboratório”, já que os sujeitos de pesquisa envolvidos na produção de conhecimento sobre o VZ e a SCVZ também ajudaram a avaliar e – mais importante – a construir essa ciência.

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Author Biography

Soraya Fleischer, Universidade de Brasília

Professor at the Department of Anthropology, Institute of Social Sciences, University of Brasília, Brasília, Brazil. PhD in Anthropology from the State University of Rio Grande do Sul (2007) and with a recent post-doctoral internship also in Anthropology at the State University of Santa Catarina (2022). Co-coordinates the Anthropology and Public Health Collective (CASCA) and the podcast Mundaréu.

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Published

2023-03-28

How to Cite

Fleischer, Soraya. 2023. “Fé Na Ciência? Como As famílias Viram a Ciência Do vírus Zika Acontecer Em Suas crianças No Recife PE”. Anuário Antropológico 47 (1):189-207. https://doi.org/10.4000/aa.9478.