A família natural da Nova Era

afetos, culturas e naturezas

Autores

  • Sandro Martins de Almeida Santos

DOI:

https://doi.org/10.26512/anuarioantropologico.v41i2.2016/6351

Palavras-chave:

família, estudos de parentesco, natureza, Nova Era, contracultura, Alto Paraíso

Resumo

Em diálogo com os estudos de parentesco na antropologia, este artigo discute uma noção contracultural de família a partir de relações afetivas desenvolvidas entre pessoas de diferentes nacionalidades radicadas no interior do Brasil. Eles e elas, antigos moradores de “comunidades alternativas” e também jovens buscadores de uma Nova Era, entendem que uma família natural é reunida pela continuidade das relações recíprocas de amizade e livre obrigação convertidas em relações horizontais de fraternidade. Estabelecem, assim, uma distância em relação às chamadas famílias biológicas, determinadas pelo nascimento, e ao modelo de sociedade patriarcal, estruturado verticalmente. Não há uma substituição de modelos; as famílias biológicas são incorporadas à família natural quando preenchem os requisitos de horizontalidade e continuidade das relações de reciprocidade. Desde uma visão holista sobre a natureza, são construídos “signos de proximidade” que enfatizam essa experiência contracultural de família. Trata-se de um questionamento a respeito da natureza das relações de parenteco e da predominância das explicações biogenéticas no “Ocidente”, revelando uma natureza alternativa que confere forma e conteúdo aos laços familiares. Os dados analisados são resultantes de trabalho de campo conduzido no município de Alto Paraíso de Goiás, entre 2010 e 2012, para elaboração da tese de doutorado do autor.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AMARAL, Leila. 1999. “Sincretismo em movimento ”” o estilo Nova Era de lidar com o sagrado”. In: Maria Julia Carozzi (org.). A Nova Era no Mercosul. Petrópolis: Vozes. pp. 47-79.
BOTH, Elizabeth. 1976. Família e rede social. Rio de Janeiro: Francisco Alves.
BRYCESON, Deborah & VUORELLA, Ulla (eds.). 2002. The transnational family: new European frontiers and global networkings. New York: Berg.
CARNEIRO, Maria José. 1998. “Ruralidade: novas identidades em construção”. Estudos Sociedade e Agricultura, 11:53-75.
CARSTEN, Janet. 2000. “Introduction: cultures of relatednes”. In: ______. (org.). Cultures of relatedness: new approaches to the study of kinship. Edinburgh: Cambridge University Press. pp. 1-36.
______. 2014. “A matéria do parentesco”. R@U, 6(2):103-118.
CARVALHO, Cesar Augusto. 2008. Viagem ao mundo alternativo: contracultura nos anos 80. São Paulo: Unesp.
CAVALCANTE, Francisca. 2009. Os tribalistas da Nova Era. Teresina: Fundação Quixote.
DAL POZ, João & SILVA, Márcio Ferreira da. 2008. “Informatizando o método genealógico: um guia de referência para a Máquina do Parentesco”. Teoria e Cultura, 3(1/2):63-78.
ECKARTHAUSEN, Karl von. 2006. “Cartas rosacruzes”. In: Maurice Blumenthal (org.). Antigos textos maçônicos e rosacruzes. São Paulo: Isis. pp. 69-138
FABIAN, Johannes. 2013. O Tempo e o Outro: como a antropologia estabelece o seu objeto. Petrópolis, RJ: Vozes. Publicado originalmente em 1983.
FONSECA, Cláudia. 2007. “Apresentação ”“ de família, reprodução e parentesco: algumas considerações”. Cadernos Pagu, 29:9-35.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 2003. As estruturas elementares do parentesco. Petrópolis: Vozes. Publicado originalmente em 1967.
LOBO, Andréa. 2012. Tão longe, tão perto: famílias e ‘movimentos’ na Ilha da Boa Vista de Cabo Verde. Brasília: ABA.
MACHADO, Igor. 2014. “Migração, deslocamentos e as franjas do parentesco”. R@U, 6(2):130-145.
MAGNANI, José Guilherme. 1999. “Xamanismo urbano e religiosidades contemporâneas”. Religião e Sociedade, 20(2):113-140
______. 2000. O Brasil da Nova Era. Rio de Janeiro: Zahar.
MALUF, Sônia. 2005. “Criação de si e reinvenção do mundo: pessoa e cosmologia nas novas culturas espirituais no sul do Brasil”. Antropologia em Primeira Mão, 81:4-34.
MAUSS, Marcel. 2003. “Ensaio sobre a dádiva”. In: ______. Antropologia e sociologia. São Paulo: Cosac Naify. pp. 183-314. Publicado originalmente em 1925.
MELLO, Luiz. (2005). Novas famílias: conjugalidade homossexual no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Garamond.
MORGAN, Lewis Henry. 1970. “Systems of consanguinity and affinity in the human family”. In: The Smithsonian Institution. Contributions to knowledge. Washington: Smithsonian Institution. v. XVII. Publicado originalmente em 1871.
RIVERS, William Halse. 1991. “O método genealógico na pesquisa antropológica”. In: Roberto Cardoso de Oliveira (org.). A antropologia de Rivers. Campinas, SP: Unicamp. pp. 51-70. Publicado originalmente em 1910.
ROSZAK, Theodore. 1972. A contracultura. Petrópolis: Vozes. Publicado originalmente em 1968.
SAHLINS, Marshall. 1970. “A economia tribal”. In: ______. Sociedades tribais. Rio de Janeiro: Zahar. pp. 117-148.
______. 1997. “O pessimismo sentimental e a experiência etnográfica: por que a cultura não é um objeto em vias de extinção (parte II)”. Mana, 3(2):103-150.
______. 2013. What kinship is ”“ and is not. Chicago: The University of Chicago Press.
SALVI, Luis A. Weber. 2009. Matriarcado & nova era. Alto Paraíso de Goiás: Agartha.
SANTOS, Sandro. 2013. A família transnacional da Nova Era e a globalização do (((amor))) em Alto Paraíso de Goiás, Brasil. Tese de Doutorado em Antropologia Social, Universidade de Brasília.
______. 2016. “Um dedo de prosa sobre a Antropologia dos fluxos globais: apresentando a globalização do (((amor))) e a cosmopolítica de uma Nova Era”. In: Soraya Fleischer, Elena Navas & Potyguara Alencar (orgs.). Pensando o capitalismo contemporâneo: um festschrift a Gustavo Lins Ribeiro. Brasília: LetrasLivres. pp. 325-349.
SCHNEIDER, David. 1980. American kinship: a cultural account. Chicago: The University of Chicago Press. Publicado originalmente em 1968.
______. 1972. “What is kinship all about?” In: Priscilla Reining (ed.). Kinship studies in the Morgan centennial year. Washington: Anthropological Society of Washington. pp. 32-63.
SHAPIRO, Warren. 2013. “Review article: The nuclear family and its derivations: that’s what kinship is!”. Journal of the Anthropological Society of Oxford, V(2):171-193.
SOARES, Luís Eduardo. 1994. “Religioso por natureza: cultura alternativa e misticismo ecológico no Brasil”. In: ______. O rigor da indisciplina: ensaios de antropologia interpretativa. Rio de Janeiro: ISER/Relume Dumará. pp. 189-212.
SOUZA, Érica. 2005. Necessidade de filhos: maternidade, família e (homo)sexualidade. Tese de Doutorado em Ciências Sociais, Universidade Estadual de Campinas
STRATHERN, Marylin. 1992. After-nature: English kinship in the late twentieth century. Cambridge: Cambridge University Press.
______. 1995. “Necessidade de pais, necessidade de mães”. Estudos Feministas, 3(2):303-329.
VELHO, Gilberto. 2013. “Acusações: projeto familiar e comportamento desviante”. In: ______. Um antropólogo na cidade: ensaios de antropologia urbana. Rio de Janeiro: Zahar. pp. 52-61.
WESTON, Kath. 1991. Families we choose: lesbians, gays, kinship. New York: Columbia University Press.
WOORTMANN, Klaas & WOORTMANN, Ellen. 2004. “Monoparentalidade e chefia feminina: conceitos, contextos e circunstâncias”. Série Antropologia, 357. Disponível em http://www.dan.unb.br/images/doc/Serie357empdf.pdf. Acesso em: 19/11/2016.
YANAGISAKO, Sylvia. 1987. “Mixed metaphors: native and anthropological models of gender and kinship domains”. In: Jane Collier & Sylvia Yanagisako (eds.). Gender and kinship: essays towards a unified analysis. Standford: Standford University Press. pp. 86-118.

Downloads

Publicado

2018-01-25

Como Citar

Santos, Sandro Martins de Almeida. 2018. “A família Natural Da Nova Era: Afetos, Culturas E Naturezas”. Anuário Antropológico 41 (2):9-31. https://doi.org/10.26512/anuarioantropologico.v41i2.2016/6351.

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.