PARENTALIDADE
Pedra angular da governança reprodutiva
Palavras-chave:
parentalidade positiva, proteção à infância, sistemas de cuidado, moralidade familiar, govenança reprodutivaResumo
Propomos neste artigo refletir sobre a “parentalidade”, tema que emerge nos dias de hoje de forma recorrente nas políticas de família. Lançando mão de análises sociológicas e históricas realizadas sobre políticas de proteção à infância em vários países ocidentais, examinamos a operacionalização de noções de bom e mau cuidado, manifesta em termos como “crianças espancadas”, “abuso infantil”, “negligência” e, mais recentemente, “parentalidade positiva”. Ao examinar essas noções em diferentes circunstâncias e épocas diversas, olhando tanto para a influência dos especialistas quanto para as moralidades que encontram expressão nas subjetividades parentais, pretendemos provocar uma reflexão sobre onde e quem cria esses mecanismos de governança, assim como a maneira em que reforçam a reprodução estratificada. Terminamos por sugerir que a parentalidade positiva é para as famílias pobres e discriminadas o que a branquitude é para as raças marginalizadas. Enquanto reina silêncio sobre esse padrão de referência e os critérios de sua definição (carregados em muitos casos nem tanto de evidências científicas quanto de preconcepções de classe e cor), não avançaremos longe no entendimento das classificações problemáticas embutidas nas infraestruturas hierárquicas e desiguais do governo de infância, nem na apreciação das formas plurais de ser e estar no mundo.
Downloads
Referências
BRIGGS, Laura. 2021. Taking Children: history of American terror. Oakland: University of California Press.
BRUER, John. 1999. The myth of the first three years: a new understanding of early brain development and lifelong learning. New York: Free Press.
CÂMERA DOS DEPUTADOS. 2013. Taquigrafia do Seminário Internacional Marco Legal da Primeira Infância, com o tema Construção do Marco Legal para as Políticas Públicas sobre a Primeira Infância. Brasília: Comissão de Seguridade Social e Família, 16 de abril, 2013.
COLEN, Shellee. 1995. “’Like a mother to them’: Stratified reproduction and West Indian childcare workers and employers in New York”. In: Faye GINSBURG e Rayna RAPP (Eds.), Conceiving the New World order: the global politics of reproduction. Berkeley: University of California Press, p. 78-102.
CONSEIL de l´Europe. 2009. Parentalité Positive : Rapport sur les suites données à la 28o Conférence des ministres européens chargés des affaires familiales (Lisbonne, 2006). Vienne. MMF-XXIX 1
COSSE, Isabella; Valeria Llobet, Carla Villalta y María Carolina Zapiola. 2011. Infancias: políticas y saberes en la Argentina y Brasil. Buenos Aires: Teseo.
CUTHBERT, D.; MURPHY, K.; QUARTLY, M. 2009. Adoption and feminism. Australian Femi-nist Studies, 24 (62): 395-419.
DONZELOT, Jacques. 1977. La police des familles. Paris: Editions Minuit.
DROTBOHM, Heike, e Konstanze N'Guessan. 2025). “Parenting as contested practice between experts, audiences, and selves: An introduction”. Ethos, Article e70010. Advance online publication. https://doi.org/10.1111/etho.70010.
FAUR, Eleonor. 2014. El cuidado infantil en el siglo XX. Mujeres malabaristas en una sociedad desigual. Buenos Aires: Siglo Veintiuno.
FEATHERSTONE, Brid, Kate Morris e Sue White. 2013. “A Marriage Made in Hell: Early Intervention Meets Child Protection”. British Journal of Social Work 44(7):1735-1749
FONSECA, Claudia. 2012. Tecnologías globales de la moralidad materna: políticas de educación para la primera infancia en Brasil contemporáneo . In: Isabella Cosse, Valeria Llobet, Carla Villalta y María Carolina Zapiola (eds.), Infancias: políticas y saberes en Argentina y Brasil. Siglos XIX y XX. Buenos Aires: Editorial Teseo.
FONSECA, Claudia. 2019a. “Crianças, seus cérebros... e além: Reflexões em torno de uma ética feminista de pesquisa]’. Revista de Estudos Feministas 27(2): 1-14.
FONSECA, Claudia. 2019b. “(Re)descobrindo a adoção no Brasil trinta anos depois”. Runa 40(2): 17-38.
FONSECA, Claudia. 2021. “Cultivando proliferações indomáveis: considerações antropológicas sobre as políticas de proteção à infância”. Horizontes Antropológicos, 27(60): 419-451.
FONSECA, Claudia. 2022. “Knowledge forms and gendered moralities in policies of infant care in Brazil”. Families, Relationships, Societies 12(4): 555–571.
FONSECA, Claudia; Diana Marre e Fernanda Rifiotis. 2021. “Governança reprodutiva: um assunto de suma relevância política”. Horizontes Antropológicos. 2021, v. 27(61): 7-46.
FRANK Deborah, Marilyn Augustyn, Wanda Knight, Tripler Pell, Barry Zuckerman. 2001. “Growth, development, and behavior in early childhood following prenatal cocaine exposure: a systematic review”. JAMA (Journal of the American Medical Association), 285 (12):1613–1625.
FREIRE, Maria Martha de Luna. 2008. “‘Ser mãe é uma ciência’: mulheres, médicos e a construção da maternidade científica na década de 1920”. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 15 (supl): 153-171.
GILLIES, Val; Rosalind Edwards e Nicola Horsley. 2017. Challenging the politics of early intervention: Who's 'saving' children and why. Bristol Press, Polity Press.
GINSBURG, Faye D.; Rayna RAPP (Orgs.). 1995. Conceiving the New World order: the global politics of reproduction. Berkeley: University of California Press.
GRINBERG, Julieta. 2015. “Entre la pediatría, el psicoanálisis y el derecho: apuntes sobre la recepción, reelaboración y difusión del “maltrato infantil” en Argentina”. Revista de Estudios Sociales, 53 (julho): 77-89.
HACKING, Ian. 1991. “The Making and Molding of Child Abuse”. Critical Inquiry, 17(2): 253-288.
HACKING, Ian. 1999. “Kind-making: The Case of Child Abuse”, In I Hacking: The Social Construction of What? Cambridge, Mass.: Harvard University Press, pp.25-162.
HERNANDEZ, Alessandra e Ceres Víctora. 2021. “Modos sensíveis de criação infantil: uma inflexão no processo de medicalização dos cuidados com crianças”. Saúde e Sociedade [online]. v. 30, n. 1.
KJØRHOLT , A-T; H. Penn (orgs.), 2019. Early Childhood and Development Work: Theories, Policies, and Practices. Basingstoke and New York: Palgrave Macmillan.
LANDEIRA, Florência Paz. .2022. “A regulação da parentalidade na produção transnacional de conhecimentos e políticas para a primeira infância”. Civitas: Revista De Ciências Sociais, 22, e41399.
LAREAU, Annette. 2007. “A desigualdade invisível: o papel da classe social na criação dos filhos em famílias negras e brancas”. Educação em Revista. Belo Horizonte, 46: 13-82.
LARREA, Natalia .2021. “Entre la confianza y la transformación: modalidades de intervención social sobre la niñez en riesgo en el marco de la protección integral de derechos en Argentina”. Antípoda. Revista de Antropología y Arqueología, 42, 155-177.
LEE, Ellie; Jennie Bristow; Charlotte Faircloth e Jan Macvarish (orgs.). 2014. Parenting Culture Studies. New York: Palgrave Macmillan.
LEWIS, David. 2005. “We Were Wrong About “Crack Babies”: Are We Repeating Our Mistake With “Meth Babies””? Medscape General Medicine 7(4): 30.
LIONETTI, Lucia ; Isabella Cosse ; María Carolina Zapiola (orgs.). 2018. La historia de las infancias en América Latina 1a ed . Tandil : Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires.
LLOBET, Valeria (org.). 2013a. Pensar la infancia desde América Latina : un estado de la cuestión - 1a ed. Buenos Aires : CLACSO.
.LLOBET, Valeria. 2013b. “La producción de la categoría “niño-sujeto-de-derechos” y el discurso psi en las políticas sociales en Argentina. Una reflexión sobre el proceso de transición institucional”. In V. LLOBET (ed.): Pensar la infancia desde América Latina. Buenos Aires: CLACSO.
LLOBET, Valeria. 2018. Derechos de los niños y de las mujeres y el “giro a la derecha”. Apresentação oral para AFIN, UABarcelona.
LOWENKRON, Laura e Camila Fernandes. 2025. “Motherhood amidst reprimands and advice: Parenting and class in Rio de Janeiro”. Ethos, 53(2): 1 -15.
MACVARISH, Jan. 2016. Neuroparenting: The Expert Invasion of Family Life. London: Palgrave e MacMillan.
MARTIN, Claude e Xavier Leloup. 2020 (orgs.). « La ´parentalisation´ du social. Lien social et Politiques. 85, 5–18.
MCCAIN, Margaret e Fraser MUSTARD. 1999. Early Years Study: Final Report. Toronto, Publications Ontario.
MORGAN, Lynn e Elizabeth Roberts. 2012, “Reproductive governance in Latin America”. Anthropology & Medicine 19(2):241-254.
MUSTARD, J. Fraser. 2007, “Experience-based Brain Development: Scientific Underpinnings of the Importance of Early Child Development in a Global World”. In: Mary Young (ed.), Early Child Development: From Measurement to Action: A priority for Growth and Equity. Washington: World Bank, 35-64.
NEYRAND, Gérard. 2012. « Soutenir et contrôler les parents. Le dispositif de parentalité. » Recherches familiales, n° 9 :187 - 194.
NEYRAND, Gerard. 2015. « Dis Gérard, c’est quoi, la parentalité ? » Spirale Psychologie 73 (3) : 145 - 154.
PENTECOST, Michelle & Fiona ROSS. 2019. The First Thousand Days: Motherhood, Scientific Knowledge, and Local Histories. Medical Anthropology, 38 (8): 747-761
POTHET, Jessica. 2017. « Le « soutien à la parentalité » au prisme de ses ambivalences. » Les Cahiers du Développement Social Urbain : n°66 : 20-22.
POTHET, Jessica. 2024. Parentalités incertaines. Ethnographie et sociologie des dispositifs de soutien aux parents. Rennes : Presses universitaires.
RAMOS-ZAYAS, Ana, 2020. Parenting empires : class, whiteness, and the moral economy of privilege in Latin America. Durham: Duke University Press.
RIBEIRO, Fernanda Bittencourt. 2018. “O nome da lei: violências, proteções e diferenciação social de crianças”. In: Claudia Fonseca, Chantal Medaets, Fernanda Bittencourt Ribeiro (eds.), Pesquisas sobre família e infância no mundo contemporâneo. Porto Alegre, Sulina. pp. 41-65.
SCHEIDECKER, Gabriel; Nandita Chaudhary; Heidi Keller; Francesca Mezzenzana; David F. Lancy. 2023. “Poor brain development” in the global South? Challenging the science of early childhood interventions. Ethos 51(1): 3-26.
SCHUCH, Patrice. 2009. Praticas de justiça: Antropologia dos modos de governo da infancia e juventude no contexto pos-ECA. Porto Alegre: Editora da UFRGS.
VILLALTA, Carla e María Josefina Martínez. 2022. Estado, infancias y familias: estudios de Antropología Política y Jurídica . Ciudad Autónoma de Buenos: Teseo.
WINERIP M. Revisiting the ‘Crack Babies’ Epidemic That Was Not. New York Times. May 30, 2013.
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Claudia Fonseca

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode.en
Creative Commons - Atribución- 4.0 Internacional - CC BY 4.0
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode.en
