PARENTALIDADE

Pedra angular da governança reprodutiva

Autores

  • Claudia Fonseca

Palavras-chave:

parentalidade positiva, proteção à infância, sistemas de cuidado, moralidade familiar, govenança reprodutiva

Resumo

Propomos neste artigo refletir sobre a “parentalidade”, tema que emerge nos dias de hoje de forma recorrente nas políticas de família.  Lançando mão de análises sociológicas e históricas realizadas sobre políticas de proteção à infância em vários países ocidentais, examinamos a operacionalização de noções de bom e mau cuidado, manifesta em termos como “crianças espancadas”, “abuso infantil”, “negligência” e, mais recentemente, “parentalidade positiva”. Ao examinar essas noções em diferentes circunstâncias e épocas diversas, olhando tanto para a influência dos especialistas quanto para as moralidades que encontram expressão nas subjetividades parentais, pretendemos provocar uma reflexão sobre onde e quem cria esses mecanismos de governança, assim como a maneira em que reforçam a reprodução estratificada.  Terminamos por sugerir que a parentalidade positiva é para as famílias pobres e discriminadas o que a branquitude é para as raças marginalizadas.  Enquanto reina silêncio sobre esse padrão de referência e os critérios de sua definição (carregados­­­­ em muitos casos nem tanto de evidências científicas quanto de preconcepções de classe e cor), não avançaremos longe no entendimento das classificações problemáticas embutidas nas infraestruturas hierárquicas e desiguais do governo de infância, nem na apreciação das formas plurais de ser e estar no mundo.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BRIGGS, Laura. 2021. Taking Children: history of American terror. Oakland: University of California Press.

BRUER, John. 1999. The myth of the first three years: a new understanding of early brain development and lifelong learning. New York: Free Press.

CÂMERA DOS DEPUTADOS. 2013. Taquigrafia do Seminário Internacional Marco Legal da Primeira Infância, com o tema Construção do Marco Legal para as Políticas Públicas sobre a Primeira Infância. Brasília: Comissão de Seguridade Social e Família, 16 de abril, 2013.

COLEN, Shellee. 1995. “’Like a mother to them’: Stratified reproduction and West Indian childcare workers and employers in New York”. In: Faye GINSBURG e Rayna RAPP (Eds.), Conceiving the New World order: the global politics of reproduction. Berkeley: University of California Press, p. 78-102.

CONSEIL de l´Europe. 2009. Parentalité Positive : Rapport sur les suites données à la 28o Conférence des ministres européens chargés des affaires familiales (Lisbonne, 2006). Vienne. MMF-XXIX 1

COSSE, Isabella; Valeria Llobet, Carla Villalta y María Carolina Zapiola. 2011. Infancias: políticas y saberes en la Argentina y Brasil. Buenos Aires: Teseo.

CUTHBERT, D.; MURPHY, K.; QUARTLY, M. 2009. Adoption and feminism. Australian Femi-nist Studies, 24 (62): 395-419.

DONZELOT, Jacques. 1977. La police des familles. Paris: Editions Minuit.

DROTBOHM, Heike, e Konstanze N'Guessan. 2025). “Parenting as contested practice between experts, audiences, and selves: An introduction”. Ethos, Article e70010. Advance online publication. https://doi.org/10.1111/etho.70010.

FAUR, Eleonor. 2014. El cuidado infantil en el siglo XX. Mujeres malabaristas en una sociedad desigual. Buenos Aires: Siglo Veintiuno.

FEATHERSTONE, Brid, Kate Morris e Sue White. 2013. “A Marriage Made in Hell: Early Intervention Meets Child Protection”. British Journal of Social Work 44(7):1735-1749

FONSECA, Claudia. 2012. Tecnologías globales de la moralidad materna: políticas de educación para la primera infancia en Brasil contemporáneo . In: Isabella Cosse, Valeria Llobet, Carla Villalta y María Carolina Zapiola (eds.), Infancias: políticas y saberes en Argentina y Brasil. Siglos XIX y XX. Buenos Aires: Editorial Teseo.

FONSECA, Claudia. 2019a. “Crianças, seus cérebros... e além: Reflexões em torno de uma ética feminista de pesquisa]’. Revista de Estudos Feministas 27(2): 1-14.

FONSECA, Claudia. 2019b. “(Re)descobrindo a adoção no Brasil trinta anos depois”. Runa 40(2): 17-38.

FONSECA, Claudia. 2021. “Cultivando proliferações indomáveis: considerações antropológicas sobre as políticas de proteção à infância”. Horizontes Antropológicos, 27(60): 419-451.

FONSECA, Claudia. 2022. “Knowledge forms and gendered moralities in policies of infant care in Brazil”. Families, Relationships, Societies 12(4): 555–571.

FONSECA, Claudia; Diana Marre e Fernanda Rifiotis. 2021. “Governança reprodutiva: um assunto de suma relevância política”. Horizontes Antropológicos. 2021, v. 27(61): 7-46.

FRANK Deborah, Marilyn Augustyn, Wanda Knight, Tripler Pell, Barry Zuckerman. 2001. “Growth, development, and behavior in early childhood following prenatal cocaine exposure: a systematic review”. JAMA (Journal of the American Medical Association), 285 (12):1613–1625.

FREIRE, Maria Martha de Luna. 2008. “‘Ser mãe é uma ciência’: mulheres, médicos e a construção da maternidade científica na década de 1920”. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 15 (supl): 153-171.

GILLIES, Val; Rosalind Edwards e Nicola Horsley. 2017. Challenging the politics of early intervention: Who's 'saving' children and why. Bristol Press, Polity Press.

GINSBURG, Faye D.; Rayna RAPP (Orgs.). 1995. Conceiving the New World order: the global politics of reproduction. Berkeley: University of California Press.

GRINBERG, Julieta. 2015. “Entre la pediatría, el psicoanálisis y el derecho: apuntes sobre la recepción, reelaboración y difusión del “maltrato infantil” en Argentina”. Revista de Estudios Sociales, 53 (julho): 77-89.

HACKING, Ian. 1991. “The Making and Molding of Child Abuse”. Critical Inquiry, 17(2): 253-288.

HACKING, Ian. 1999. “Kind-making: The Case of Child Abuse”, In I Hacking: The Social Construction of What? Cambridge, Mass.: Harvard University Press, pp.25-162.

HERNANDEZ, Alessandra e Ceres Víctora. 2021. “Modos sensíveis de criação infantil: uma inflexão no processo de medicalização dos cuidados com crianças”. Saúde e Sociedade [online]. v. 30, n. 1.

KJØRHOLT , A-T; H. Penn (orgs.), 2019. Early Childhood and Development Work: Theories, Policies, and Practices. Basingstoke and New York: Palgrave Macmillan.

LANDEIRA, Florência Paz. .2022. “A regulação da parentalidade na produção transnacional de conhecimentos e políticas para a primeira infância”. Civitas: Revista De Ciências Sociais, 22, e41399.

LAREAU, Annette. 2007. “A desigualdade invisível: o papel da classe social na criação dos filhos em famílias negras e brancas”. Educação em Revista. Belo Horizonte, 46: 13-82.

LARREA, Natalia .2021. “Entre la confianza y la transformación: modalidades de intervención social sobre la niñez en riesgo en el marco de la protección integral de derechos en Argentina”. Antípoda. Revista de Antropología y Arqueología, 42, 155-177.

LEE, Ellie; Jennie Bristow; Charlotte Faircloth e Jan Macvarish (orgs.). 2014. Parenting Culture Studies. New York: Palgrave Macmillan.

LEWIS, David. 2005. “We Were Wrong About “Crack Babies”: Are We Repeating Our Mistake With “Meth Babies””? Medscape General Medicine 7(4): 30.

LIONETTI, Lucia ; Isabella Cosse ; María Carolina Zapiola (orgs.). 2018. La historia de las infancias en América Latina 1a ed . Tandil : Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires.

LLOBET, Valeria (org.). 2013a. Pensar la infancia desde América Latina : un estado de la cuestión - 1a ed. Buenos Aires : CLACSO.

.LLOBET, Valeria. 2013b. “La producción de la categoría “niño-sujeto-de-derechos” y el discurso psi en las políticas sociales en Argentina. Una reflexión sobre el proceso de transición institucional”. In V. LLOBET (ed.): Pensar la infancia desde América Latina. Buenos Aires: CLACSO.

LLOBET, Valeria. 2018. Derechos de los niños y de las mujeres y el “giro a la derecha”. Apresentação oral para AFIN, UABarcelona.

LOWENKRON, Laura e Camila Fernandes. 2025. “Motherhood amidst reprimands and advice: Parenting and class in Rio de Janeiro”. Ethos, 53(2): 1 -15.

MACVARISH, Jan. 2016. Neuroparenting: The Expert Invasion of Family Life. London: Palgrave e MacMillan.

MARTIN, Claude e Xavier Leloup. 2020 (orgs.). « La ´parentalisation´ du social. Lien social et Politiques. 85, 5–18.

MCCAIN, Margaret e Fraser MUSTARD. 1999. Early Years Study: Final Report. Toronto, Publications Ontario.

MORGAN, Lynn e Elizabeth Roberts. 2012, “Reproductive governance in Latin America”. Anthropology & Medicine 19(2):241-254.

MUSTARD, J. Fraser. 2007, “Experience-based Brain Development: Scientific Underpinnings of the Importance of Early Child Development in a Global World”. In: Mary Young (ed.), Early Child Development: From Measurement to Action: A priority for Growth and Equity. Washington: World Bank, 35-64.

NEYRAND, Gérard. 2012. « Soutenir et contrôler les parents. Le dispositif de parentalité. » Recherches familiales, n° 9 :187 - 194.

NEYRAND, Gerard. 2015. « Dis Gérard, c’est quoi, la parentalité ? » Spirale Psychologie 73 (3) : 145 - 154.

PENTECOST, Michelle & Fiona ROSS. 2019. The First Thousand Days: Motherhood, Scientific Knowledge, and Local Histories. Medical Anthropology, 38 (8): 747-761

POTHET, Jessica. 2017. « Le « soutien à la parentalité » au prisme de ses ambivalences. » Les Cahiers du Développement Social Urbain : n°66 : 20-22.

POTHET, Jessica. 2024. Parentalités incertaines. Ethnographie et sociologie des dispositifs de soutien aux parents. Rennes : Presses universitaires.

RAMOS-ZAYAS, Ana, 2020. Parenting empires : class, whiteness, and the moral economy of privilege in Latin America. Durham: Duke University Press.

RIBEIRO, Fernanda Bittencourt. 2018. “O nome da lei: violências, proteções e diferenciação social de crianças”. In: Claudia Fonseca, Chantal Medaets, Fernanda Bittencourt Ribeiro (eds.), Pesquisas sobre família e infância no mundo contemporâneo. Porto Alegre, Sulina. pp. 41-65.

SCHEIDECKER, Gabriel; Nandita Chaudhary; Heidi Keller; Francesca Mezzenzana; David F. Lancy. 2023. “Poor brain development” in the global South? Challenging the science of early childhood interventions. Ethos 51(1): 3-26.

SCHUCH, Patrice. 2009. Praticas de justiça: Antropologia dos modos de governo da infancia e juventude no contexto pos-ECA. Porto Alegre: Editora da UFRGS.

VILLALTA, Carla e María Josefina Martínez. 2022. Estado, infancias y familias: estudios de Antropología Política y Jurídica . Ciudad Autónoma de Buenos: Teseo.

WINERIP M. Revisiting the ‘Crack Babies’ Epidemic That Was Not. New York Times. May 30, 2013.

Publicado

2025-11-24

Como Citar

Fonseca, Claudia. 2025. “PARENTALIDADE: Pedra Angular Da governança Reprodutiva”. Anuário Antropológico 50 (1). https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/59088.