Agontimé
Representação e representatividade em uma versão artística da fundação da Casa de Minas
DOI:
https://doi.org/10.26512/cmd.v9i1.43520Palavras-chave:
Agontimé, Representação/ Representatividade, Versão artística, Literatura, Patrimônio cultural maranhenseResumo
Neste ensaio, analisamos o romance Agontime, her legend, de autoria da escritora estadunidense Judith Ilsley Gleason. Antiga rainha do Daomé, Agontimé teria vivido entre o final do século XVIII e início XIX. Ao longo deste período, fora escravizada ainda na África e trazida ao Brasil. Desembarca em Salvador, na Bahia, onde viveu até rumar para São Luís, capital do Maranhão, no início do século XIX. A ela é atribuída à fundação da Casa das Minas – espaço-símbolo da matriz religiosa do Tambor de Mina-Jeje, com devotos sobretudo no Maranhão e no Pará. Espaço hoje reconhecido como patrimônio cultural maranhense. Os objetivos deste texto se concentram no exame de como o conjunto resultante das articulações simbólicas, na materialidade expressiva do romance, conduz ao entendimento de algumas das facetas decisivas à montagem do mosaico discursivo-institucional, contido na ideia de patrimônio cultural do Maranhão. Isto, ao se considerar como a versão romanesca traduz esse patrimônio cultural e, ao o mediar artisticamente, difunde-o como representativo, seja da presença diaspórica do povo daomeano mina-jeje na América portuguesa, seja da participação negroafricana na formação do povo brasileiro.
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