A Pandemia e o Ordinário: apontamentos sobre a afinidade entre experiência pandêmica e registros cotidianos
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202136010003Palavras-chave:
diário; testemunho; pandemia; trauma; cotidianoResumo
Este artigo tem como objetivo discutir a existência de uma afinidade entre a estética de relatos cotidianos, testemunhos e diários com a experiência específica da pandemia do Covid-19. Partimos da ideia de que uma característica bastante compartilhada na experiência da pandemia tem sido o foco nos traços desse momento histórico na vida cotidiana, resultando num impulso para a presentificação. Nossa hipótese é que na experiência da fase da pandemia marcada pelo distanciamento e isolamento social se formou uma estrutura de sentimento que é maturada na produção e fruição de registros ordinários, uma valorização de formas como diários e testemunhos de pessoas comuns. Fazendo uso da experiência de um grupo virtual de compartilhamento de relatos e do mapeamento de diversas iniciativas de coletas de registros, o artigo analisa como certas experiências da pandemia do Covid-19 se relacionam com as noções de trauma, luto e extraordinário.
Downloads
Referências
AGOSTINHO, Daniela. Big data, time and the archive. Symploke, v. 24, n.1, 2016.
ALEXANDER, Jeffrey. Trauma cultural, moralidad y solidaridad. La construcción social del Holocausto y otros asesinatos en masa. Revista Mexicana de Ciencias Políticas y Sociales. Nueva Época. Año LXI, n. 228, p. 191-210, Set./Dez. 2016.
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
ARTIÈRES, Philippe. Arquivar a própria vida. Revista Estudos Históricos, v. 11, n. 21, p. 9-34, 1998.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1996.
BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.
CERTEAU, Michael de. A invenção do cotidiano: arte de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
CVETKOVICH, Ann. An archive of feelings: trauma, sexuality and lesbian public cultures. Durham, UK: Duke University Press, 2003.
COMPAGNO, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
DAVIS, Mike. The monster at our door: the global threat of avian flu. New York: Owl Books, 2006.
DEFOE, Daniel. Um diário do ano da peste. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2014 [1722].
DERRIDA, Jacques. Archive fever: a freudian impression. Chicago, IL: University of Chicago Press, 1995.
DIONÍSIO, Gustavo. Imagens de pandemia: trauma, luto, arte. Revista Cult, 08 Jul. 2020. Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/home/imagens-de-pandemia-trauma-luto-arte/>. Acesso em: 30 Jul. 2020.
https://revistacult.uol.com.br/home/imagens-de-pandemia-trauma-luto-arte
DUARTE, Pedro. Estio do tempo: romantismo e estética moderna. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.
ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. No diário dos estudos culturais: o ordinário e o cotidiano como tópicos de pesquisa. Trabalho apresentado ao GT “Comunicação e Sociabilidade”, do XVIII Encontro da Compós, na PUC-MG, Belo Horizonte, MG, em Jun. 2009.
FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína (Orgs.). Uso & abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2011.
FREUD, Sigmund. Neurose, psicose, perversão. Rio de Janeiro: Autêntica, 2016.
______. Luto e melancolia. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
FUKS, Julián. O que a quarentena nos rouba? Inventário de saudades e perdas íntimas. Portal UOL. 23 Maio 2020. Disponível em: <https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julian-fuks/2020/05/23/o-que-a-quarentena-nos-rouba-inventario-de-saudades-e-perdas-intimas.htm>. Acesso em: 30 Jul. 2020.
JEFFERY, Tom. Mass-observation: a short history. Brighton, UK: Mass Observation Archive, 1999.
KISIL, Ian Marino; SILVEIRA, Pedro Telles; NICODEMO, Thiago Lima. Arquivo, memória e big data: uma proposta a partir da Covid-19. Cadernos do Tempo Presente, v. 11, n. 01, p. 90-103, Jan./Jun. 2020.
LEFEBVRE, Henri. Rhythmanalysis: space, time and everyday life. London: Continuum, 2004.
LEJEUNE, Philippe. O guarda-memória. Estudos Históricos, v. 10, n. 19, 1997.
LAPOUJADE, David. Potências do tempo. São Paulo: n-1 edições, 2017.
LUKÁCS, Georg. A teoria do romance. São Paulo: Editora 34, 2007.
PAPACHARISI, Zizi. A private sphere: democracy in a digital age. Cambridge, UK: Polity Press, 2010.
PIGUET, Myriam; MONTEBELLO, Caroline. Covid-19: pour une mémoire ordinaire de l’extraordinaire. Libération, Abr. 2020. Disponível em: <https://www.liberation.fr/debats/2020/04/25/covid-19-pour-une-memoire-ordinaire-de-l-extraordinaire_1786299>. Acesso em: 30 Jul. 2020.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. Estudos Históricos, v. 2, n. 3, p.3-15, 1989.
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível. São Paulo: Editora 34, 2014.
SELIGMANN-SILVA, Márcio (Org.). História, memória e literatura. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2013a.
______. Reflexões sobre a memória, a história e o esquecimento. In: ______. História, memória e literatura. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2013b.
______. O testemunho: entre a ficção e o “real”. In: ______. História, memória e literatura. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2013c.
______. O esplendor das coisas: o diário como memória do presente na Moscou de Walter Benjamin. Revista Escritos, Ano 3, n. 3, p. 161-185, 2009.
WILLIAMS, Raymond. Cultura. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
______. The long revolution. Westport, CT: Greenwood, 1975.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Sociedade e Estado
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.