A civilização dos pais

Autores

  • Norbert Elias

Resumo

A perseverança anacrônica da representação idealizada da relação pais-filhos, assim como das relações familiares no geral, é um dos maiores obstáculos que se opõem ao manejo mais adequado dos problemas familiares contemporâneos. Para finalizar, quero assinalar, brevemente, as razões para essa situação. À medida que, de acordo com a estrutura global de uma sociedade, a distribuição de poder entre as pessoas que conformam a família é muito desigual, a relação entre pais e filhos, assim como de homens e mulheres, se apresenta sob um modo altamente formalizado. Em outras palavras, essa relação se apresenta sob uma forma socialmente sancionada e relativamente rígida. Supostamente, essa forma deixa alguma abertura para variações individuais, mas os modelos de anteposição e subordinação, de mando e obediência, são inexoráveis. A margem de variação só é grande para os superiores e os que mandam; já para os subordinados e obedientes é relativamente limitada. Quando o diferencial de poder, em uma família e, também, entre pais e filhos, vai se reduzindo ”“ e é essa a tendência do desenvolvimento social, em nossos tempos ”“, a situação se modifica. As pessoas que conformam a família se encontram atadas às formas pré-definidas em menor medida que antes; o que lhes exige, mais do que em tempos anteriores, a elaboração conjunta de um modus vivendi mediante seu próprio esforço, ou seja, de uma maneira mais consciente que no passado. Entretanto, as relações familiares são vistas, com frequência, como algo dado pela natureza, como algo que normalmente funciona bem por si mesmo. Mas essa ideia bloqueia a possibilidade de que os indivíduos percebam que ”“ nas condições atuais das relações familiares não mais autoritárias ”“ o êxito da relação, ou seu funcionamento mais ou menos satisfatório para os implicados, é um desafio ao qual as pessoas entrelaçadas na família podem ou não responder. Poderíamos pensar que as oportunidades de êxito são maiores quando as pessoas têm consciência dessa tarefa e quando trabalham conjuntamente nela. Cada relação familiar é, acima de tudo, um processo. As relações sempre estão mudando e o desafio se impõe toda vez, de novo e de novo. Para os indivíduos, a necessidade de trabalhar conscientemente em suas relações mútuas nunca acaba.

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Publicado

29-02-2016

Como Citar

Elias, N. (2016). A civilização dos pais. Sociedade E Estado, 27(3), 469–493. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/sociedade/article/view/5679