O esboço de uma teoria pragmatista da reflexividade: analisando os percursos do conceito pela teoria social

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202136020003

Palavras-chave:

reflexividade; sociologia pragmática; conversa interior; reflexividade epistemológica; tecnologia gráfica.

Resumo

Propomos, neste artigo, a compreensão da reflexividade a partir dos efeitos de gradações de indeterminação nas mais diversas situações e contextos em que as pessoas estão inseridas. Esboçamos um modelo sobre reflexividade por meio de uma análise de sensibilidade pragmatista pensando como o conceito tem sido mobilizado na teoria social. Exploramos a reflexividade epistemológica (Pierre Bourdieu); a tradição que associa reflexividade e formas pessoais de deliberação interna (Margaret Archer); abordagens associando a reflexividade com dispositivos permitindo uma apreensão objetiva do mundo (Bernard Lahire); e perspectivas em que a ação reflexiva está ligada à indeterminação (John Dewey; Luc Boltanski e Laurent Thévenot). É a partir da combinação entre rotina, experiências de desestabilização, catástrofe e os diversos níveis intensivos de reflexividade que buscamos abrir a teoria social para novas agendas de pesquisa sobre a ação reflexiva.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Diogo Corrêa, Universidade de Vila Velha (UVV)

Professor do programa de pós-graduação em Sociologia Política da Universidade de Vila Velha (UVV).

Vittorio da Gamma Talone, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Bolsista de Pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA/UFRJ).

Referências

ADAMS, Matthew. Hybridizing habitus and reflexivity: towards an understanding of contemporary identity? Sociology, v. 40, n. 3, p. 511-528, 2006.

ADKINS, Lisa. Reflexivity: freedom or habit of gender? Theory, Culture & Society, v. 20, n. 6, p. 21-42, 2003.

ARCHER, Margaret S. The reflexive imperative in late modernity. London: Cambridge University Press, 2012.

______. Habitus, reflexividade e realismo. Dados - Revista de Ciências Sociais, v. 54, n. 1, p. 157-206, 2011.

______. Routine, reflexivity, and realism. Sociological Theory, v. 28, n. 3, p. 272-303, 2010.

______. Making our way through the world: human reflexivity and social mobility. London: Cambridge University Press, 2007.

______. Emotions as commentaries on human concerns. Theory and research on human emotions. Advances in Group Processes, v. 21, p. 327-356, 2004.

______. Structure, agency and the internal conversation. London: Cambridge University Press, 2003.

______. Being human: the problem of agency. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2000.

BARTHES, Yannick et al. Sociologia pragmática: guia do usuário. Sociologias, n. 41, p. 84-129, 2016.

BECK, Ulrich. Risk society: towards a new modernity. Los Angeles, CA: Sage, 1986.

BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott (Orgs.). Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Editora Unesp, 2000.

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1985.

BOLTANSKI, Luc. Énigmes et complots: Une enquête à propos d’enquêtes. Paris: Gallimard. 2012.

______. De la critique: précis de sociologie de l’émancipation. Paris: Gallimard, 2009.

______. The sociology of critical capacity. European Journal of Social Theory, v. 2, n. 3, pp. 359-377, 1999.

______. L’amour et la justice comme compétences. Paris: Métailié, 1990.

BOLTANSKI, Luc; CLAVERIE, Elisabeth. Du monde social en tant que scène d’un procès. In: OFFENSTADT, Nicolas; VAN DAMME, Stéphane. Affaires, scandales et grandes causes: de Socrate à Pinochet, p. 395-452. Paris: Stock, 2007.

BOLTANSKI, Luc; THÉVENOT, Laurent. The sociology of critical capacity. European Journal of Social Theory, v. 2, n. 3, p. 359-377, 1999.

______. De la justification. Les économies de la grandeur. Paris: Gallimard, 1991.

BOURDIEU, Pierre. Masculine domination. Stanford, CA: Stanford University Press, 2001.

BOURDIEU, Pierre; WACQUANT, Loïc. An invitation to reflexive sociology. Chicago, IL; Cambridge, UK: University of Chicago Press; Polity Press, 1992.

BOURDIEU, Pierre et al. A social critique of the judgement of taste. London: Routledge, 1984.

BOY JD. “The metropolis and the life of spirit” by Georg Simmel: a new translation. Journal of Classical Sociology, v. 21, n. 2, p. 188-202, 2021.

CAETANO, Ana. A exterioridade da reflexividade. Contributos de Lahire para o estudo empírico do exercício de competências reflexivas. Cadernos do Sociofilo, Quarto Caderno: Homenagem a Bernard Lahire, v. 4, n. 1, p. 27-70, 2013.

CARUTH, Cathy (Org.). Trauma: explorations in memory. Baltimore, MD; London: The John Hopkins University Press, 1995.

CEFAÏ, Daniel. Como nos mobilizamos? A contribuição de uma abordagem pragmatista para a sociologia da ação coletiva. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v. 2, n. 4, p. 11-48, 2009.

CEFAÏ, Daniel; JOSEPH, Isaac (Dirs.). L’héritage du pragmatisme. Conflits d’urbanité et épreuves de civisme. La Tour d’Aigues, FR: Éditions de l’Aube, 2002.

CHALARI, Athanasia. Approaches to the individual. The relationship between internal and external conversation. Manchester (UK): Palgrave Macmillan, 2009.

CHATEAURAYNAUD, Francis. Des prises sur le futur. Regard analytique sur l’activité visionnaire. In: BOURG, Dominque; JOLY, Pierre-Benoît; KAUFMANN, Alain (Dirs.). Retour sur la société du risque - Actes du colloque de Cerisy, 2012.

______. Argumenter dans un champ de forces: essai de balistique sociologique. Paris: Petra, 2011.

______. Forces et faiblesses de la nouvelle anthropologie des sciences. Critique, v. 47, p. 529-530, 1991a.

______. La faute professionnelle. Paris : Métailié, 1991b.

CHATEAURAYNAUD, Francis; TORNY, Didier. Les sombres précurseurs. Une sociologie pragmatique de l’alerte et du risque. Paris: Éditions de l’Ehess, 1999.

COOLEY, Charles H. Human nature and the social order. New York; Chicago, IL; Boston, MA: Charles Scribner’s Sons, 1902.

CORRÊA, Diogo. Novos rumos da teoria social a partir de três gestos da sociologia pragmática. Revista Brasileira de Ciências Sociais [online], v. 36, n. 105, 2021.

______. Entre o querer e o não querer: dilemas existenciais de um ex-traficante na perspectiva de uma sociologia dos problemas íntimos. Tempo Social, v. 32, n. 2, p. 175-204, 2020.

______. Anjos de fuzil: uma etnografia das relações entre tráfico de drogas e igreja evangélica. Tese (Doutorado) - École des Hautes Études en Sciences Sociales (Ehess), Paris; Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Rio de Janeiro, 2015.

______. Do problema do social ao social como problema: elementos para uma leitura da sociologia pragmática francesa. Revista de Ciências Sociais, n. 40, p. 35-62, 2014.

CORRÊA, Diogo; DIAS, Rodrigo de C. The critique and its critical moments: the recent pragmatic turn in French sociology. Current Sociology, v. 68, n. 6, p. 721-737, 2020.

______. Crítica e os momentos críticos: De la Justification e a guinada pragmática na sociologia francesa. Mana, v. 22, n. 1, p. 67-99, 2016.

DAS, Veena. O ato de testemunhar: violência, gênero e subjetividade. Cadernos Pagu, v. 37, p. 9-41, 2011.

______. Life and words. Violence and the descent into the ordinary. Berkeley, CA; Los Angeles, CA; London: University of California Press, 2007.

______. Trauma and testimony: implications for political community. Anthropological Theory, v. 3, p. 293-307, 2003.

DEWEY, John. Arte como experiência: últimos escritos, 1925-1953. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

______. O desenvolvimento do pragmatismo americano. Scientiæ Studia, v. 5, n. 2, p. 227-43, 2007.

______. Logic: the theory of inquiry. Nova York: Henry Holt, 1938.

DODIER, Nicolas. Agir dans plusieurs mondes. Critique, v. 47, p. 427-458, 529-530, 1991.

DUBET, François. Dimensions et figures de l’expérience étudiante dans l’université de masse. Revue Française de Sociologie, v. 35, n. 4, p. 511-532, 1994.

FLEETWOOD, Steve. Structure, institution, agency, habit, and reflexive deliberation. Journal of Institutional Economics, v. 4, n. 2, p. 183-203, 2008.

FOUCAULT, Michel. A escrita de si. In: ______. O que é um autor?, p. 129-160. Lisboa: Passagens, 1992.

GARFINKEL, Harold. Studies in ethnomethodology. Englewood Cliffs NJ: Prentice Hall, 1967.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora Unesp, 1991a.

______. Modernity and self-identity: self and society in the late modern age. Stanford, CA: Stanford University Press, 1991b.

GOODY, Jack; GOODY, John Rankine. The domestication of the savage mind. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1977.

HABERMAS, Jürgen. Racionalidade da ação e racionalização social. In ______. Teoria do agir comunicativo, v. 1. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

JAMES, William. Pragmatism: a new name for some old ways of thinking. Cambridge, MA: Harvard University, 1907.

______. The principles of psychology, v. I. London: MacMillan and co, Ltd, 1890.

JOSEPH, Isaac; GRAFMEYER, Yves. L’école de Chicago. Naissance de l’écologie urbaine. Paris: Champs Flammarion, 2004.

KAUFMANN, Jean-Claude. A invenção de si: uma teoria da identidade. São Paulo: Instituto Piaget, 2004.

______. Ego: pour une sociologie de l’individu. Paris: Nathan, 2001.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.

KRACAUER, Siegfried. O ornamento da massa. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

LAHIRE, Bernard. La raison scolaire. École et pratiques d’écriture, entre savoir et pouvoir. Paris: Lectures, Les livres, 2008.

______. Cartographie de la pluralité des mondes de l’écrit. Pratiques et apprentissage de l’écrit dans les sociétés éducatives. Québec, CA: Presses de l’Université Laval, 2006.

______. From the habitus to an individual heritage of dispositions. Towards a sociology at the level of the individual. Poetics, v. 31, n. 5-6, p. 329-355, 2003.

______. Le travail sociologique de Pierre Bourdieu. Paris: La Découverte, 2001a.

______. La construction de l’“autonomie” à l’école primaire: entre savoirs et pouvoirs. Revue Française de Pédagogie, v. 135, n. 1, p. 151-161, 2001b.

MCNAY, Lois. Communitarians and feminists: the case of narrative identity. Literature and Theology, v. 16, n. 1, p. 1-95, 2002.

MENEZES, Palloma; CORRÊA, Diogo. From disarmament to rearmament: elements for a sociology of critique of the Pacification Police Unit Program. Vibrant - Virtual Brazilian Anthropology, v. 14, n. 3, 2017.

PEIRCE, Charles S. The essential Peirce, v. 2. Indianapolis, IN: Indiana University Press, 1998.

PETERS, Gabriel. O novo espírito da depressão: imperativos de autorrealização e seus colapsos na modernidade tardia. Civitas - Revista de Ciências Sociais, v. 21, n. 1, p. 71-83, 2021.

______. A solidão dos deprimidos: sobre virada afetiva e depressão. Blog do sociofilo: Blog de teoria social, filosofia & ciências sociais, 2019. Disponível em: <https://blogdosociofilo.com/2019/05/21/a-solidao-dos-deprimidos-sobre-virada-afetiva-e-depressao-por-gabriel-peters/>. Acesso em: 10 Jun. 2019.

» https://blogdosociofilo.com/2019/05/21/a-solidao-dos-deprimidos-sobre-virada-afetiva-e-depressao-por-gabriel-peters

______. A ordem social como problema psíquico. Do existencialismo socio­lógico à epistemologia insana. São Paulo: Annablume, 2017.

______. Percursos nas teorias das práticas sociais: Anthony Giddens e Pierre Bourdieu. São Paulo: AnnaBlume, 2015.

______. Habitus, reflexividade e neo-objetivismo na teoria da prática de Pierre Bourdieu. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, n. 83, 2013.

POLLAK, Michel. A gestão do indisível. WebMosaica: Revista do Instituto Cultural Judaico, v. 2, n. 1, pp. 9-49, 2010.

______. Memoria, olvido, silencio. La producción social de identidades frente a situaciones limite. Buenos Aires: Al Margem, 2006.

______. L’experience concentracionnaire: essai sur le maintien de l’identité sociale. Paris: Métailié, 1990.

RICŒUR, Paul. Tempo e narrativa. Campinas: Papirus, 1997.

______. Love and justice. Philosophy & Social Criticism, v. 21, n. 5-6, p. 23-39, 1995a.

______. Intellectual autobiography. The Philosophy of Paul Ricœur, v. 22, p. 222-256, 1995b.

______. Soi-même comme un autre. Paris: Les Éditions du Seuil, 1994.

SCHÜTZ, Alfred. Fenomenologia e relações sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

______. On Multiple realities. Philosophy and Phenomenological Research, v. 5, n. 4, p. 533-576, 1945.

SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito. Mana, v. 11, n. 2, p. 577-591, 2005 [1903].

______. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Otávio Guilherme (Org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

SWEETMAN, Paul. Twenty-first century dis-ease? Habitual reflexivity or the reflexive habitus. The Sociological Review, v. 51, n. 4, p. 528-549, 2003.

TALONE, Vittorio. A força da memória: lembranças de situações de ferimento, tensão e morte. Tese (Doutorado) - Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), 2020.

TAYLOR, Charles. Sources of the self. The making of modern identity. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1989.

THÉVENOT, Laurent. L’action au pluriel: Sociologie des régimes d’engagement. Paris: Découverte, 2006.

Publicado

13-09-2021

Como Citar

Corrêa, D., & Talone, V. da G. (2021). O esboço de uma teoria pragmatista da reflexividade: analisando os percursos do conceito pela teoria social. Sociedade E Estado, 36(02), 407–431. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202136020003

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.