Os Estudos de etnometodologia de Garfinkel:
uma investigação sobre os alicerces morais da vida pública moderna
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0102-699220183302008Palavras-chave:
Teoria sociológica contemporânea, Estudos de etnometodologia, Garfinkel, Fatos sociais constitutivos, Justiça social como questão sociológicaResumo
A Editora Vozes publicou uma tradução em português da nova segunda edição de Estudos de etnometodologia. Para comemorar essa realização, falarei hoje a respeito da importância desse livro, da obra de Garfinkel em geral, em termos teóricos, metodológicos e políticos. Argumentarei que Garfinkel se dedicou ao projeto durkheimiano de fazer com que a sociologia se tornasse singularmente adequada para o estudo da modernidade, e que isso explica muitas das incompreensões sofridas por esta obra. Quero também anunciar as atividades do Arquivo Garfinkel (Garfinkel Archive), do qual sou hoje diretora e executora intelectual. Há materiais no arquivo que deverão se tornar o foco de importantes teses de pós-graduação e livros. O trabalho com esses arquivos vem sendo apoiado pelo governo alemão por meio de um centro na Universidade de Siegen, na Alemanha, denominado Mídia da Cooperação.
O argumento de Garfinkel, assim como o de Durkheim, modifica o território epistemológico da ciência social e, com ele, o território teórico da argumentação social. Ele reorienta o domínio dos objetos, fazendo com que eles deixem de ser objetos naturais para se tornarem objetos sociais; vem como o domínio das práticas sociais relevantes, que deixam de ser normas, regras tradicionais e consensos, para se tornarem práticas constitutivas. Em razão da magnitude dessa reorientação, a etnometodologia só pode ser entendida por pessoas que já tenham uma compreensão teórica do que ela envolve. De outra forma, surgiriam contradições, o que de fato já aconteceu. A consequência do argumento de Garfinkel para entender a política democrática moderna é que quaisquer desigualdades ou exclusões que impeçam as pessoas de estar em condições de cumprir as condições de reciprocidade de uma interação (suas famosas “condições de confiabilidade”) são uma ameaça à coerência, ao significado e à identidade da vida pública democrática moderna.
Tradução: Dermeval de Sena Aires Júnior
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