A brincadeira de faz-de-conta como capacidade para diferenciar entre o real e o imaginário

Autores

  • Maria da Graça Dias Universidade Federal de Pernambuco

Palavras-chave:

Teoria da mente, Faz-de-conta, Real, Imaginário

Resumo

Para Leslie (1988b) a habilidade de faz-de-conta, como também de entender que outra pessoa está fingindo, estaria situada sob o mesmo domínio da estrutura lógica requerida para a compreensão de estados mentais. A brincadeira de faz-de-conta seria uma manifestação primitiva da teoria da mente da criança e apareceria por volta dos 18 a 24 meses de idade, nas manifestações sociais e individuais da criança. O objetivo deste estudo foi o de analisar, em crianças institucionalizadas, que vivem em orfanatos e em crianças não institucionalizadas, de nível sócio-econômico baixo e médio, o desenvolvimento da capacidade de diferenciar entre mundo imaginário e mundo real. Para analisar esta questão, a tarefa de brincadeira de faz-de-conta da xícara cheia/vazia, tal como usada por Leslie (1987), foi utilizada. Os resultados mostram que a brincadeira de faz-de-conta, aparece apenas aos 4 anos de idade em crianças que vivem em orfanatos e aos 3 anos em crianças de nível sócio-econômico baixo, enquanto as crianças de nível sócio-econômico médio conseguem o mesmo desempenho já aos 2 anos de idade, como ocorre com as crianças inglesas estudadas por Leslie (1987). Estes dados contrariam os argumentos dos inatistas que afirmam que haveria aparecimento dos mecanismos sujacentes à teoria de mente nas mesmas idades, como universais e que este desenvolvimento não seria devido a diferentes experiências.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Astington, J. W. & Gopnik, A. (1991). Theoretical explanations of children's
understanding of mind. British Journal of Developmental Psychology, 9, 7-31.
Avis, J. & Harris, P. L. (no prelo). Belief-desire reasoning among Baka children:
Evidence for a universal conception of mind.
Baron-Cohen, S. (1991). Precursors to a theory of mind: Understanding attention in
others. Em A. Whiten (Org.), Natural theories of mind: Evolution, development and
simulation of everyday mindreading. (pp. 233-251). Oxford: Basil Blackwell.
Baron-Cohen, S., Leslie, A. M. & Frith, U. (1986). Mechãnical, behavioural and
intentional understanding of picture stories in autistic children. British Journal of
Developmental Psychology, 4, 113-125.
Bretherton, I. (1991). Intentional comunication and the development of an
understanding of mind. In D, Frye & C. Moore (Orgs.), Children's theories of
mind. (pp. 49-75). Hillsdale, NJ: Erlbaum.
Bretherton, I., 0'Connell, B., Shore, C, & Bates, E. (1984). The effect of contextual
variation on symbolic play: Development from 20 to 28 months. Em I. Bretherton
(Org.), Symbolic play and the development of social understanding. New York:
Academic Press.
Bruner, J. (1989). The state of developmental psychology. Trabalho apresentado no
Biennial Meeting of the Society for Research ín Child Development, Kansas City,
MO, April.
Bruner, J. (1990). Acts of meaning. Cambridge, M. A.: Harvard University Press.
Dias, M. G. & Harris, P. L (1988a), The effect of make-believe play on deductive
reasoning. British Journal of Developmental Psychology, 6, 207-221.
Dias, M. G. B. B. & Harris, P. L. (1988b). Realidade X fantasia: Sua influência no
raciocínio dedutivo. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 4(1), 55-68.
Dias, M. G. B. B. & Harris, P. L. (1989). O efeito da brincadeira de faz-de-conta no
raciocínio da criança. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 41(2), 95-105.
Dias, M. G. B. B. & Harris, P. (1990a). A influência da imaginação no raciocínio das
crianças. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 42(1), 95-105.
Dias, M. G. B. B. & Harris, P. L. (1990b). Regras morais e convencionais no raciocínio
das crianças. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 6(2), 125-138.
Dias, M. G. B. B. & Harris, P. L. (1990c). The influence of the imagination on reasoning
by young children. British Journal of Developmental Psychology, 8, 305-318.
Dunn, J. (1988). The beginnings of social understanding. Cambridge, M. A.: Harvard
University Press.
Harris, P. L, Kavanaugh, R. & Walter-Andrews, A. (1990). Reasoning from
hypothetical premises. Trabalho apresentado na European Conference of
Developmental Psychology, Stirling, Scotland.
Hobson, R. P. (1989). Beyond cognition: A theory of autism. Em G. Dawson (Org.),
Autism: Nature, diagnosis, and treatment. New York: Guilford Press.
Leslie, A. M. (1987). Pretense and representation: The origins of "theory of mind".
Psychological Review, 94, 412-426.
Leslíe, A. M. (1988a). Some ímplications of pretense for mechanisms underlying the
childs theory of mind. Em J. Astington, P. Harris & D. Olson (Orgs.), Developing
theories of mind. Cambridge, Mass: Cambridge University Press.
Leslie, A. M. (1988b). The necessity of illusion: Perception and thought in infancy. Em
L. Weiskrants (Org.), Thought without language. Oxford: Oxford University Press.
Leslie, A. M. & Frith, U. (1988). Autistic children's understanding of seeing, knowing
and believing. British Journal of Developmental Psychology, 6, 315-324.
McCornick, P. (1990). Quechua children's theory of mind. Trabalho apresentado na
Sixth University of Waterloo Conference on Child Development, Waterloo,
Ontario, May.

Downloads

Publicado

2012-08-29

Como Citar

Dias, M. da G. (2012). A brincadeira de faz-de-conta como capacidade para diferenciar entre o real e o imaginário. Psicologia: Teoria E Pesquisa, 8(3), 363–371. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/revistaptp/article/view/17147