Carta à minha mãe preta: um ensaio sobre o encontro de epistemes e a condição do negro
Palavras-chave:
Carta, Ações afirmativas, Saberes, Epistemicídio, ColonialidadeResumo
Escrito em forma de carta, o presente ensaio propõe uma reflexão crítica sobre as tensões entre os saberes acadêmicos e aqueles historicamente deslegitimados, mobilizada a partir dos estranhamentos vivenciados por estudantes negros ao ingressarem na universidade. A mãe preta aqui evocada não se refere à figura debatida por Gilberto Freyre e Lélia Gonzalez no contexto da formação da sociedade brasileira. Contudo, sua agência e seu saber, reconhecidos por Gonzalez, perpassam todo o ensaio. Por se tratar de uma carta, adota-se uma narrativa dialógica, afetiva e pessoal. Não se trata, porém, de um relato particularizado; a mãe - destinatária da carta - não é especificamente a do autor, embora sua presença componha essa imagem discursiva. Fundamentada em referenciais teóricos e vivências reais, a carta torna-se um recurso metodológico para explorar esse encontro de epistemes. Inspirado nas obras de Frantz Fanon, Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro, discute-se os processos de subjetivação e as relações de dominação implicadas na experiência universitária, questionando a pretensa neutralidade desse campo e os mecanismos que operam na hierarquização dos conhecimentos. A mãe preta, longe de ser uma destinatária passiva, assume o papel de interlocutora crítica, cujas percepções e ensinamentos revelam as limitações do ethos acadêmico.
Downloads
Referências
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.
BERNARDINO-COSTA, Joaze; BORGES, Antonádia. Um projeto decolonial antirracista: ações afirmativas na pós-graduação da Universidade de Brasília. Educação e Sociedade, Campinas, v. 42, e253119, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/ES.253119. Acesso em: 22 fev. 2025.
BRAGUINHA; RIBEIRO, Alberto. Chiquita Bacana. Intérprete: Emilinha Borba. [S.l.]: Odeon, 1949. 1 disco (78 rpm).
BRASIL. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Presidência da República. Casa Civil, Brasília, DF, 29 ago. 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Acesso em: 22 fev. 2025.
BROWN, Wendy. Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no Ocidente. São Paulo: Politeia, 2019.
CARNEIRO, Sueli. Dispositivo de racialidade: a construção do outro como não ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.
CRUZ, Victoria Santa. Me gritaram negra. 1960. São Paulo: Portal Geledés, 2014. Disponível em: https://www.geledes.org.br/me-gritaron-negra-a-poeta-victoria-santa-cruz/. Acesso em: 12 maio 2025.
DAFLON, Verônica Toste; FERES JÚNIOR, João; CAMPOS, Luiz Augusto. Ações afirmativas raciais no ensino superior público brasileiro: um panorama analítico. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 43, n. 148, p. 302–327, jan./abr. 2013.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo. São Paulo: Boitempo, 2016.
DU BOIS, William Edward Burghardt. As almas do povo negro. São Paulo: Veneta, 2021.
EMICIDA. AmarElo. In: EMICIDA. AmarElo. São Paulo: Laboratório Fantasma, 2019.
EMICIDA. Levanta e Anda. In: EMICIDA. O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui. São Paulo: Laboratório Fantasma, 2013.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: Ubu Editora, 2020.
FAUSTINO, Deivison. Frantz Fanon: capitalismo, racismo e a sociogênese do colonialismo. SER Social, Brasília, v. 20, n. 42, p. 148–163, 2018.
FERES JÚNIOR, João; DAFLON, Verônica Toste. Políticas da igualdade racial no ensino superior. Cadernos do Desenvolvimento Fluminense, Rio de Janeiro, n. 5, p. 31–44, 2014.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo negro afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Organização de Flávia Rios e Márcia Lima. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, p. 223–244, 1984.
MARCUSE, Herbert. Cultura e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
OLIVEN, Arabela Campos; BELLO, Luciane. Negros e indígenas ocupam o templo branco: ações afirmativas na UFRGS. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 23, n. 49, p. 339–374, 2017.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidad y modernidad/racionalidad. Perú Indígena, v. 13, n. 29, 1992.
RACIONAIS MC’S. A vida é um desafio (ao vivo). In: RACIONAIS MC’S. 1000 Trutas, 1000 Tretas. São Paulo: Cosa Nostra, 2006.
RIOS, Flávia; KLEIN, Stefan. Lélia Gonzalez, uma teórica crítica do social. Sociedade e Estado, Brasília, v. 37, p. 809–833, 2022.
SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.
Publicado
Versões
- 12/22/2025 (2)
- 12/15/2025 (1)
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Thiago Macedo de Carvalho

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.











