Terror sexual é genocídio
o estupro da mulher negra como elemento estrutural e estruturante da diáspora – por uma análise quilombista da antinegritude
Palavras-chave:
Estupro da Mulher Negra, Terror Sexual , Genocídio, AntinegritudeResumo
Em diálogo principalmente com a intervenção crítica de Ana Flauzina e Thula Pires (2020), este ensaio propõe que, ao centralizarmos analítica e politicamente o estupro de mulheres negras como aspecto crítico do mundo social contemporâneo, quer dizer, da modernidade, definimos com mais exatidão (a) o conceito e os processos específicos da antinegritude (distintos do racismo), incluindo o genocídio e o terror sexual; (b) as possibilidades de pontes epistemológicas e políticas entre experiências negras e indígenas; e (c) os parâmetros para uma análise quilombista, que considera a abolição um projeto utópico e holístico da sociedade contemporânea, diferentes daqueles pautados pelo antirracismo, os quais são muitas vezes influenciados por vieses cisheteronormativos e patriarcais, legalistas, politicamente reformistas, e que, por fim e ao cabo, acreditam na redenção do projeto vigente de democracia multirracial. Uma vez que aceitamos a análise que vincula a antinegritude, o genocídio, o terror sexual, e o estupro da mulher negra, concluímos que não há o que salvar desse mundo social presentemente constituído. Há que inventarmos um outro mundo.
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