As experiências de quase-morte analisadas pela sociologia transpessoal

Autores

Palavras-chave:

Sociologia transpessoal; experiências de quase-morte; neurociência; religião comparada; novos paradigmas; consciência não local.

Resumo

Este artigo procura analisar as experiências de quase morte (EQMs) a partir de uma abordagem sociológica transpessoal. Para tanto, partiu-se do impasse existente nas teorias materialistas que sustentam que o cérebro cria a consciência. Como o cérebro está inativo em casos de parada cardíaca, as lembranças e imagens obtidas durante a EQMs não deveriam ocorrer, ao menos teoricamente. Diversos estudos sobre EQMs trazem indícios de uma mente não local, sugerindo que a consciência atua para além do cérebro. Neste sentido, verificou-se que os modelos explicativos propostos pela moderna neurociência não materialista, com as teorias de um campo quântico transcendente, são mais promissores do que as tentativas materialistas de reduzir o fenômeno aos seus aspectos físicos. O mesmo podemos dizer das abordagens da religião comparada e do essencialismo transcendental, que aproximam as EQMs a fenômenos espirituais análogos presentes em outras culturas e civilizações. A sociologia transpessoal, ao assumir uma perspectiva interdisciplinar, procura dialogar com estes estudos, no intuito de compreender os aspectos transcendentais inerentes à relação entre indivíduo e sociedade. Conclui-se que a abordagem sociológica transpessoal é compatível com o novo paradigma da complexidade.  

 

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Biografia do Autor

Marcos Augusto Castro Peres, UESC

Doutor em Educação - USP

Mestre em Sociologia - UNICAMP

Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais - UNICAMP

Professor adjunto da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)

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Publicado

2024-07-01

Como Citar

Castro Peres, M. A. . (2024). As experiências de quase-morte analisadas pela sociologia transpessoal. Revista Brasileira De Filosofia Da Religião, 9(2), 45–74. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/rbfr/article/view/53595

Edição

Seção

Dossiê do X Congresso da ABFR: O futuro da filosofia da religião I