ALUCINAÇÃO AUDITIVA: SINTOMA DE DOENÇA OU POSSIBILIDADE DE SER DO-ENTE?

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DOI :

https://doi.org/10.26512/pl.v6i12.11763

Mots-clés :

Alucinação. Doença Mental. Audição de vozes. Fenômeno. Ser.

Résumé

A alucinação auditiva é um fenômeno tematizado pelo homem ocidental desde a Antiguidade. Atualmente, ela é considerada sintoma de doença mental, pelo horizonte biomédico. Essa noção tem contribuído para o aumento não só de diagnósticos, como de medicalização e de sofrimento. Considerando essa questão, o objetivo deste estudo é problematizar o enfoque biomédico tradicional, por meio da contribuição de pensadores e filósofos de diferentes períodos históricos. Na Antiguidade, os gregos ouviam os Î´Î±Î¯Î¼Î¿Î½ÎµÏ‚ (daímones), os quais intermediavam a comunicação entre os deuses e os homens. Os medievais entenderam as vozes como possessão demoníaca, bruxaria, heresia, ou santidade. Na Modernidade o fenômeno recebeu um sentido patológico, que restringiu possibilidades de ser. Há que se pensar a questão fundamental da filosofia como condição de possibilidade de abertura de sentido do fenômeno.

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Henrique Campagnollo Dávila Fernandes, Universidade de Brasília

Graduando em Filosofia pela Universidade de Brasília. Mestre em Psicologia Clínica e Cultura pela mesma instituição.

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Publié-e

2018-01-10

Comment citer

Campagnollo Dávila Fernandes, H. (2018). ALUCINAÇÃO AUDITIVA: SINTOMA DE DOENÇA OU POSSIBILIDADE DE SER DO-ENTE?. PÓLEMOS – Revista De Estudantes De Filosofia Da Universidade De Brasília, 6(12), 48–68. https://doi.org/10.26512/pl.v6i12.11763

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