Materialização discursiva da cis-heteronormatividade em perspectiva escalar: contribuições para a Linguística Queer

Autores

  • Danillo da Conceição Pereira Silva Instituto Federal de Alagoas

DOI:

https://doi.org/10.26512/les.v21i2.35269

Palavras-chave:

Materialização discursiva, Escala, Cis-heteronormatividade, Linguística Queer, Transfeminismos

Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar uma proposta de interpretação não-dicotômica para o modo como normas macrossociais, notadamente a cis-heteronormatividade, estão atrelados a micronormatividades, construídas entre sujeitos, nas interações situadas de que participam. Para isso, articulando noções de materialização discursiva e de escala, destaco o caráter processual do trabalho pragmático e semiótico em jogo nos processos locais de naturalização da cis-heteronormatividade. A partir da análise de dados de interações online, gerados numa etnografia da escala, demonstro como os traços discursivos da cisnormatividade, conforme postulados por epistemologias transfeministas (binariedade, pré-discursividade e permanência), são perspectivados em constante fricção com conteúdos ideológicos da heteronormatividade. Por fim, recorrendo a tensionamentos contemporâneos no campo das Teorias Queer brasileiras, reflito sobre políticas de afetação, de tradução e de deslocamento que podem inspirar novas imaginações à Linguística Queer no Brasil.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

BAGAGLI, B. P. A diferença trans no gênero para além da patologização. Periódicus, v. 1, n. 5, p. 87-100, 2016.

BARRETT, R. Is queer theory important for sociolinguistic theory? In: CAMPBEL-KIBLER, K.; PODESVA, R.; WONG, A. (ed.), Language and sexuality: contesting meaning in theory and practice. Stanford: CSLI Press, 2002. p. 25-43.

BAUMAN, R.; BRIGGS, C. Poetics and performance as critical perspectives on language and social life. In: COUPLAND, N.; JAWORSKI, A. (org.). The new sociolinguistics reader. New York: Palgrave Macmillian, 2010. p. 185-217.

BLOMMAERT, J. The sociolinguistics of globalization. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

BORBA, R. A linguagem importa? Sobre performance, performatividade e peregrinações conceituais. Cadernos Pagu, Campinas, n. 43, p. 441-474, 2014.

BORBA, R. Falantes transviadxs: Linguística Queer e performatividades monstruosas. Cadernos de Linguagem & Sociedade, v. 21, n. 2, neste volume.

BORBA, R. Linguística queer: algumas desorientações. In: BORBA, R. (org.). Discursos transviados: por uma linguística queer. São Paulo: Cortez, no prelo.

BORBA, R. Linguística queer: uma perspectiva pós-identitária para os estudos da linguagem. Entrelinhas, São Leopoldo, v. 9, n. 1, p. 91-107, jan./jun. 2015.

BORBA, R. O (des)aprendizado de si: transexualidades, interação e cuidado em saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2016.

BORBA, R.; OSTERMANN, A. C. Gênero ilimitado: a construção discursiva da identidade travesti através da manipulação do sistema de gênero gramatical. Estudos Feministas, v. 16, n. 2, p. 409-432, 2008.

BORBA, R.; SILVA, D. C. P. Swings na scales of democracy: “transgender epidemic” and resistance of the (re)patologization of trans identities in contemporary Brazil. Trabalhos em Linguística Aplicada, no prelo. -

BORBA, R.; LAU, H. D. Conhecendo a Linguística Queer: Entrevista com Rodrigo Borba. Revista X, Curitiba, v. 14, n. 4, p. 8-19, 2019.

BROWN, P.; LEVINSON, S. Politeness: Some Universals in Language Usage. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.

BUCHOLTZ, M.; HALL, K. Identity and Interaction: A Sociocultural Linguistic Approach. Discourse Studies, Thousand Oaks, v. 7, n. 4-5, p. 585-614, 2005.

BUTLER, J. Corpos que importam. Os limites discursivos do “sexo”. São Paulo: n-1 Edições, 2019.

BUTLER, J. Excitable speech: a politics of the performative. London: Routledge, 1997.

BUTLER, J. Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. 13. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017a.

BUTLER, J. Relatar a si mesmo. Crítica da violência ética. São Paulo: Autêntica, 2017b.

CAMARGO JR., K. A biomedicina. Physis ”“ Revista de Saúde Coletiva, v. 7, n. 1, p. 45-68, 1997.

CAMERON, D. Desempenhando identidade de gênero: conversa entre rapazes e construção da masculinidade heterossexual. In: OSTERMANN, A. C.; FONTANA, B. (org.). Linguagem, gênero, sexualidade. Clássicos traduzidos. São Paulo: Parábola, 2010. p. 129-150.

CAMERON, D.; KULICK, D. Language and Sexuality. Cambridge: Cambridge Press, 2003.

CAMERON, D. Sexismo cotidiano. (2017). Tradução Rodrigo Borba. Blog Contxt. Publicado em 20 jun. 2020. Disponível em: http://contxt.letras.ufrj.br/item/12-sexismocotidiano.html. Acesso em: 10 out. 2020.

CARR, E. S.; LAMPERT, M. (org.). Scale. Discourse and Dimensions of Social Life. Oakland: University of California Press, 2016.

DERRIDA, J. Assinatura, acontecimento, contexto. In: DERRIDA, J. Margens da filosofia. Tradução de Joaquim Torres Costa, Antônio M. Magalhães. Campinas: Papirus, 1991. p. 349-373.

ECKERT, P. Linguistic variation as social practice. Oxford: Blackwell, 2000.

FABRÃCIO, B. F. Linguística aplicada e visão de linguagem: por uma INdisciplinaridade radical. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, Belo Horizonte, v. 17, n. 4, p. 599-617, 2017.

FACEBOOK. Fanpage de Thammy Miranda. Postagem “Feliz dia dos Pais!!”. Postado em 08 de agosto de 2020. Disponível em: https://www.facebook.com/283483845088486/videos/345654826837183. Acesso em: 10 set. 2020.

FAVERO, S. Cisgeneridades precárias: raça, gênero e sexualidade na contramão da política do relato. Bagoas - Estudos gays: gêneros e sexualidades, v. 13, n. 20, 19 jun. 2020.

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 8. ed. São Paulo: Forense, 2012.

GOFFMAN, E. Ritual de interação: ensaios sobre o comportamento face a face. Petrópolis: Vozes, 2011.

HALL, K. “It’s a hijra!”: queer linguistics revisited. Discourse and Society, n. 24, n. 5, p. 634-642, 2013.

HALL, K.; LEVON, E.; MILANI, T. Navigating normativities: Gender and sexuality in text and talk. Language in Society, n. 48, v. 3, p. 481-489, 2019.

LABOV, W. Sociolinguistic Patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972.

LEWIS, E. S. Do léxico gay à linguística queer: desestabilizando a norma homossexual oculta nas teorias queer. Revista de Estudos Linguísticos do Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo, n. 47, p. 675-690, 2018.

LÃVIA, A.; HALL, K. “É uma menina!”: a volta da performatividade à linguística. In: OSTERMANN, A. C.; FONTANA, B. (org.). Linguagem, gênero, sexualidade. Clássicos traduzidos. São Paulo: Parábola, 2010. p. 109-129.

MELO, G. C. V.; MOITA-LOPES, L. P. A performance narrativa de uma blogueira: “tornando-se preta em um segundo nascimento”. Alfa, São Paulo, v. 58, n. 3, p. 541-569, 2014.

MILANI, T. Queer performativity. In: HALL, K.; RUSTY, B. (ed.). The Oxford Handbook of Language and Sexuality, 2018. p. 1-17.

MISKOLCI, R. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. 2. ed. São Paulo: Autêntica, 2016.

MOITA LOPES, L. P. (org.). Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. 1. ed. São Paulo: Parábola, 2006.

MOITA-LOPES, L. P.; FABRÃCIO, B. Does the Picture below show a heterosexual couple or not? Reflexivity, entextualization, scales and intersectionalities in a gay man’s blog. Gender and Language, v. 12, p. 459-478, 2018.

MOTSCHENBACHER, H. Language and sexual normativity. In: HALL, K.; RUSTY, B. (ed.). The Oxford Handbook of Language and Sexuality, 2018. p. 1-23.

MOTSCHENBACHER, H. Taking queer linguistics further: sociolinguistics and critical heteronormativity research. International Journal of the Sociology of Language, n. 212, p. 149-179, 2011.

MUNIZ, K. Ainda sobre a possibilidade de uma linguística “crítica”: performatividade, política e identificação racial no Brasil. DELTA, São Paulo, v. 23, n. 3, p. 767-786, 2016.

OCHS, E. Indexing gender. In: DURANTI, A.; GOODWIN, C. (ed.). Rethinking context: Language as an interactive phenomenon. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. p. 335-358.

OSTERMANN, A. C.; FONTANA, B. (org.). Linguagem, gênero, sexualidade. São Paulo: Parábola, 2010. (Clássicos traduzidos).

PARISH, A.; HALL. K. Agency. In: STANLAW, J. N. (Ed). The International Encyclopedia of Linguistic Anthropology. John Wiley & Sons, Inc, no prelo.

PINTO, J. P. Conexões teóricas entre performatividade, corpo e identidade. D.E.L.T.A, v. 23, n. 1, p. 1-26, 2007.

PRECIADO, P. Manifesto contrassexual. São Paulo: n-1 edições, 2017.

RAJAGOPALAN, K. Nova Pragmática: Fases e feições de um fazer. São Paulo: Parábola, 2010.

SANTOS FILHO, I. I. Linguística queer. Recife: Pipa, 2020.

SILVA, D. C. P. Performances de gênero e raça no ativismo digital de Geldés: interseccionalidade, posicionamentos interacionais e reflexividade. Rev. Bras. Linguíst. Apl., v. 20, n. 3, p. 407-442, 2020.

SILVA, D. C. P. Queer: o insulto, os movimentos e as linguísticas. Revista da ABRALIN, v. 19, n. 2, p. 1-5, jun. 2020.

SILVA, D. C. P. Sobre o caráter performativo da linguagem e a violência linguística. In: SILVA, D. C. P. Quando dizer é violentar: violência linguística e transfobia em comentários online. Salvador: Devires, 2019; p. 35-90.

SILVA, D. C. P. Quando dizer é violentar: violência linguística e transfobia em comentários online. Salvador: Devires, 2019.

VERGUEIRO, V. Considerações transfeministas sobre linguagem, imaginação e decolonialidade: a identidade de gênero como categoria analítica. Cadernos de Linguagem & Sociedade, v. 21, n. 2, neste volume.

VERGUEIRO, V. Sou travesti: estudando a cisgeneridade como uma possibilidade decolonial. Brasília: Padê, 2018.

Downloads

Publicado

2020-12-31

Como Citar

Silva, D. da C. P. (2020). Materialização discursiva da cis-heteronormatividade em perspectiva escalar: contribuições para a Linguística Queer. Cadernos De Linguagem E Sociedade, 21(2), 280–306. https://doi.org/10.26512/les.v21i2.35269

Edição

Seção

Dossiê: Perspectivas Queer nos Estudos da Linguagem