Nota Editorial
DOI:
https://doi.org/10.26512/interethnica.v21i1.10488Abstract
O número 1 do volume 21 da revista em relações interétnicas ”“ Interethnic@, traz contribuições que instigam com preocupações renovadas para os estudiosos desse campo acadêmico. Três dos quatro trabalhos reunidos no dossiê que compõe este número analisam fenômenos circunscritos no Brasil e um deles nos aproxima dos povos indígenas do Peru. Entre outros aspectos de proximidade, esses quatro trabalhos se debruçam sobre temas relativamente pouco estudados nas ciências sociais e humanas. Desse modo, se apresentam como convites ou provocações para adensar essas reflexões.
O artigo de Estevão Fernandez, com tema e abordagem original, estimula inquietações no que poderia se chamar de ‘antropologia não-hegemônica’. Apoiado na perspectiva decolonial, propõe uma discussão para sugerir a pertinência da categoria queer caboclo buscando evidenciar a potência da homossexualidade indígena não apenas como objeto de reflexão sociológica, mas também como pauta da agenda dos processos reivindicativos desses povos no Brasil, mas não somente nesse contexto nacional. Trata-se de uma discussão pioneira e, em certa medida com caráter de novidade, antecedida por outras publicações do mesmo autor na presente década.
A perspectiva histórica do trabalho de Lia Mendes Cruz conduzirá aos leitores pelos desafios do povo Asháninka, na Amazônia peruana, os quais buscaram, inicialmente, a autonomia territorial indígena e garantias de sobrevivência biológica em contextos de crua violência armada. Posteriormente, e sob a gestão feminina de Ruth Buendía Metsoquiari enquanto presidenta da Central Asháninka del Río Ene (Care), os Asháninka têm promovido importantes processos políticos. Este artigo se coloca como uma das primeiras referências bibliográficas sobre a Care e se soma a pouca bibliografia atualizada sobre esse povo no contexto do século 21.
Isabel Mesquita apresenta uma análise sobre a iniciativa denominada REDD+ Indígena Amazônico (RIA) promovida pela Coordinadora de las Organizaciones Indígenas de la Cuenca Amazónica (COICA), entre os anos de 2012 e 2015. Esse artigo se debruça sobre as diferentes articulações políticas, em escalas local, regional, e global, entorno as negociações sobre o clima. A autora explicita que esse objeto de pesquisa foi abordado a partir de uma concepção de campo diferencia baseada em uma perspectiva multilocal. Para tanto, fóruns e reuniões internacionais com a participação de representantes de organizações indígenas, ONGs, empresas e governos, constituíram espaços privilegiados de observação de tomada de decisões, estabelecimento de vínculos e parcerias e configuração de lideranças e diretrizes políticas.
Na modalidade de comunicação, independente do dossiê, esse número inclui também a contribuição de Geraldo Junior que trata sobre Massapê, em Carnaubeira da Penha, estado de Pernambuco. Tomando como ponto o relatório antropológico realizado em 2009 se apresenta uma análise que coloca em evidência o relativo silêncio acadêmico sobre essa comunidade e as disputas territoriais, entre brancos, negros e indígena, que tem produzido massacres e deslocamentos forçados. No entanto, a oralidade constitui o instrumento político de afirmação identitária e defesa territorial fundamentado na história de ocupação do território e a memória do passado próspero no apenas econômico, mas também culturalmente.
Elizabeth Ruano Ibarra
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