O mito da mãe preta no imaginário literário de raça e mestiçagem cultural

Autores

  • Sonia Roncador

Resumo

A evocação nostálgica da mãe preta (liberada no Modernismo do rótulo de agente de contaminação) revela algumas das contradições do gesto legitimador das culturas e sujeitos afro-brasileiros e mestiços no início do século XX. No caso específico da mãe preta, constata-se a construção de um “outro” racial mitificado; ou seja, as marcas sociais e raciais marginalizadoras da mãe preta são atenuadas para que essa figura possa exemplificar a narrativa utópica da harmonia inter-racial do velho sistema agrário-patriarcal brasileiro. Além disso, a transformação da mãe preta em símbolo de assimilação racial reforça os estereótipos burgueses da servidão negra, e comprova a indiferença dos intelectuais e escritores modernistas às lutas políticas das próprias domésticas contra a discriminação racial e social ”“ políticas tais que comprometem a defesa destes intelectuais do mito da democracia racial brasileira.

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Publicado

01/05/2011

Como Citar

Roncador, S. (2011). O mito da mãe preta no imaginário literário de raça e mestiçagem cultural. Estudos De Literatura Brasileira Contemporânea, (31), 129–152. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/estudos/article/view/9437

Edição

Seção

Seção Temática