Espaço vivido e espaço mental:
Dalton Trevisan e a dicotomia social do urbanismo curitibano
DOI:
https://doi.org/10.1590/S2316-40182013000200009Resumo
Este ensaio trata dos contos de Dalton Trevisan e da cidade de Curitiba dentro do contexto do urbanismo como “espaço vivido”, para usar a terminologia de André Lefebvre, a fim de entender a dicotomia social entre uma mentalidade rural e uma modernidade urbana. Contrastando os elogios de Curitiba como “cidade verde” com os cenários tragicômicos e nefastos perfilados nas narrativas trevisanianas, este estudo aponta para os vestígios sócio-históricos do passado colonial da cidade e como aquela experiência social ainda marca o comportamento local. Além de mostrar como os contos trevisanianos tendem para o universal, por causa do seu diálogo altamente consciente com o leitor e apesar do seu enfoque regional, sublinhamos como a contradição entre o sardônico e o afetivo revela o lado sentimental mas perturbador dessa comédia humana. Com alusões aos seus contos e haicais como as “imagens-pensantes” (de Walter Benjamin), esta leitura também dá enfoque ao aspecto performativo da sua obra, que serve para desmascarar a hipocrisia escondida nas consciências urbanas dos personagens e dos seus próprios leitores. Contra o espaço mental formulado por planejadores-urbanistas, vê-se como o “espaço vivido” pelos habitantes não coaduna bem com a imagem ecológica promulgada. Porém, no meio da evocação vampiresca da cidade por parte do autor, sempre surge uma dose de compaixão e saudade que, afinal de contas, desafia a imagem de Dalton Trevisan como crítico mordaz e insensível perante a sua Curitiba.
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