Espaço vivido e espaço mental:

Dalton Trevisan e a dicotomia social do urbanismo curitibano

Autores

  • Nelson H. Vieira

DOI:

https://doi.org/10.1590/S2316-40182013000200009

Resumo

Este ensaio trata dos contos de Dalton Trevisan e da cidade de Curitiba dentro do contexto do urbanismo como “espaço vivido”, para usar a terminologia de André Lefebvre, a fim de entender a dicotomia social entre uma mentalidade rural e uma modernidade urbana. Contrastando os elogios de Curitiba como “cidade verde” com os cenários tragicômicos e nefastos perfilados nas narrativas trevisanianas, este estudo aponta para os vestígios sócio-históricos do passado colonial da cidade e como aquela experiência social ainda marca o comportamento local. Além de mostrar como os contos trevisanianos tendem para o universal, por causa do seu diálogo altamente consciente com o leitor e apesar do seu enfoque regional, sublinhamos como a contradição entre o sardônico e o afetivo revela o lado sentimental mas perturbador dessa comédia humana. Com alusões aos seus contos e haicais como as “imagens-pensantes” (de Walter Benjamin), esta leitura também dá enfoque ao aspecto performativo da sua obra, que serve para desmascarar a hipocrisia escondida nas consciências urbanas dos personagens e dos seus próprios leitores. Contra o espaço mental formulado por planejadores-urbanistas, vê-se como o “espaço vivido” pelos habitantes não coaduna bem com a imagem ecológica promulgada. Porém, no meio da evocação vampiresca da cidade por parte do autor, sempre surge uma dose de compaixão e saudade que, afinal de contas, desafia a imagem de Dalton Trevisan como crítico mordaz e insensível perante a sua Curitiba.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Nelson H. Vieira

Doutor em literatura brasileira e portuguesa, professor do Department of Portuguese & Brazilian Studies da Brown University, Providence, RI, Estados Unidos. 

Referências

BAUMAN, Zygmunt (2005). Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Zahar.

BENJAMIN, Walter (2008). One-way street and other writings. Tradução de J. A. Underwood. London: Penguin.

BRUGMANN, Jeb (2009). Welcome to the urban revolution: how cities are changing the world. New York: Bloomsbury.

CANCLINI, Néstor García (1989). Culturas híbridas: estrategias para entrar y salir de la modernidad. Ciudad de México: Grijalbo.

GILLOCH, Graeme (1996). Myth & metropolis: Walter Benjamin and the city. Cambridge, UK: Polity.

GORDUS, Andrew (1998). The vampiric and the urban space in Dalton Trevisan’s O vampiro de Curitiba. Rocky Mountain Review, Spring, p. 13-26.

HOLANDA, Sérgio Buarque de (1936). Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio.

KAWIN, Bruce (1972). Telling it again and again: repetition in literature and film. Ithaca: Cornell University Press.

LEFEBVRE, Henri (2005). The production of space. Tradução de Donald Nicholson-Smith. Oxford: Blackwell.

POE, Edgar Allan (1846). The philosophy of composition. Graham’s Magazine, Philadelphia, v. 28, n. 4, p. 163-167.

SANCHES NETO, Miguel (1996). Biblioteca Trevisan. Curitiba: Editora UFPR.

SCHECHNER, Richard (2002). Performance studies: an introduction. New York: Routledge.

SIMMEL, Georg (1969). The metropolis and mental life. In: SENNETT, Richard (ed.). Classic essays on the culture of cities. New York: Appleton-Century-Crofts.

TREVISAN, Dalton (1974). O vampiro de Curitiba. São Paulo: Civilização Brasileira, José Olympio e Três.

________ (1979). Novelas nada exemplares. 5 ed. Rio de Janeiro: Record.

________ (1980). Virgem louca, loucos beijos. Rio de Janeiro: Record.

________ (1992). Em busca de Curitiba perdida. Rio de Janeiro: Record.

________ (1994). Ah, é?: ministórias. Rio de Janeiro: Record.

________ (1997). 234: ministórias. Rio de Janeiro: Record.

________ (2002). Pico na veia. Rio de Janeiro: Record.

________ (2005). Rita, Ritinha Ritona. Rio de Janeiro: Record.

________ (2006). Macho não ganha flor. Rio de Janeiro: Record.

VIEIRA, Nelson (1984). Narrative in Dalton Trevisan. Modern Language Studies, v. 14, n. 1, p. 11-21.

WALDMAN, Berta (2009). Faca no coração: uma leitura da obra de Dalton Trevisan. Minas Gerais: Suplemento Literário, v. 1321, p. 5-7.

ZIZEK! (2005). Direção: Astra Taylor. Produção: Lawrence Konner. Canada/USA: Zeigeist Films. 1 DVD (71 minutos).

Downloads

Publicado

12/19/2013

Como Citar

Vieira, N. H. (2013). Espaço vivido e espaço mental:: Dalton Trevisan e a dicotomia social do urbanismo curitibano. Estudos De Literatura Brasileira Contemporânea, (42), 151–167. https://doi.org/10.1590/S2316-40182013000200009