Estranhos estrangeiros:
poética da alteridade na narrativa contemporânea brasileira
Resumo
A partir da leitura de Mongólia (2002) de Bernardo Carvalho, Budapeste (2003) de Chico Buarque e O enigma de Qaf (2004) de Alberto Mussa, discutiremos uma das modalidades da ficção contemporânea brasileira ”“ a poética da alteridade ”“, interrogando o confronto com o lugar do estranho e da estranheza como processo de ampliação do espaço imaginário nacional além de suas íntimas fronteiras. A experiência da alteridade como ponto de partida do processo de criação inaugura uma dupla perspectiva entre o intra e o extracultural, cruzando olhares entre a cultura brasileira e a estrangeira em foco, colocando-as em relação, questionando as armadilhas do etnocentrismo. A ficção se constrói labirinticamente em busca do Outro, exibe seus artifícios e inscreve a diferença nas suas escolhas formais, transformando o escritor em personagem, multiplicando os níveis narrativos e os pontos de vista e intensificando o caráter lúdico da experiência abissal da linguagem através da materialidade dos signos opacos da língua estrangeira. Estranhamento, deslocamento de referências identitárias e culturais, jogo entre o verdadeiro, o falso e o verossímil, transgressão de fronteiras entre o real e o imaginário, não raro essas narrativas mergulham numa atmosfera onírica de inquietante estranheza, para tentar captar talvez o não-assimilável do Outro, o que Lévi-Strauss chama de “o ponto cego da diferença” ou, no sentido contrário, o próprio ponto de onde o sujeito olha.
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Referências
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